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Pouca chuva põe em risco a geração de eletricidade no "mar de Minas"

FSP, Mercado, p. A16
15 de Fev de 2015

Pouca chuva põe em risco a geração de eletricidade no "mar de Minas"
Hidrelétrica de Furnas está a 3 metros de deixar de gerar energia, segundo o comitê da bacia
Seca fez lago chegar a 10,62% da capacidade na última quinta, o pior nível desde 1999, segundo o NOS

Marcelo Toledo Enviado Especial a Capitólio (MG)

Com o seu reservatório cada vez mais seco, a hidrelétrica de Furnas está a três metros de deixar de gerar energia, segundo o comitê da bacia hidrográfica da região.
A grave escassez hídrica fez o lago de Furnas, conhecida como o "mar de Minas", chegar a 10,62% da capacidade na última quinta-feira (12), o pior desde 1999, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). No mesmo período do ano passado, o índice estava em 42,98%.
O reservatório está a 753,08 metros acima do nível do mar. Se chegar a 750 m, não conseguirá gerar energia, segundo o presidente do comitê da bacia hidrográfica de Furnas e secretário-executivo da Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas), Fausto Costa. Isso nunca ocorreu antes, afirma.
"Não tem queda d'água, pressão de água suficiente. Perde a capacidade de geração", disse.
Segundo ele, é muito preocupante o fato de o verão estar com chuvas abaixo da média, o que impede a formação de "estoque" para os meses de seca. "A tendência é só piorar", afirmou.
A crise de agora é a terceira registrada em Furnas --além de 1999, houve outra 30 anos antes, diz o comitê.
"Se o regime de chuvas seguir como está, a represa poderá chegar aos 750 m, atingindo o 'volume morto' para fins energéticos", disse Costa.
A empresa, porém, descarta a possibilidade de Furnas deixar de gerar energia. Afirma que, como o sistema é interligado, é possível fazer o monitoramento das condições das unidades geradores mesmo se o nível ficar abaixo de 750 m.

NÃO É SÓ FURNAS
Para José Renato Castro Pompeia Fraga, coordenador do curso de engenharia elétrica da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, a situação de escassez hídrica não é exclusiva de Furnas.
"Várias usinas estão nessa situação de seca, e as termelétricas estão sendo usadas justamente por isso. É uma questão técnica. Todas as usinas têm um limite para funcionar", afirmou.
Dados do ONS mostram que o nível do reservatório de Furnas só não era inferior na quinta-feira ao de Itumbiara, que operava com 10,59% --mas Furnas tem peso maior no sistema. Entre os 22 principais reservatórios do país, 9 estavam abaixo de 20%.
A situação ocorre num cenário conturbado. Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste chegaram a 16,84% no fim de janeiro, ante 40,28% em igual período de 2014.
Não bastasse a redução de água para produzir energia, no país o consumo de energia em residências subiu 5,7% em 2014, influenciado pelas altas temperaturas, que ampliaram o uso de ar-condicionado. O aumento geral do consumo no país foi de 2,2%.
O Ministério de Minas e Energia informou que a análise da situação geral é mais relevante que a de uma usina específica, mas que o sistema sofre "condições hidrológicas desfavoráveis" desde 2014 e que a produtividade de Furnas foi afetada.
Segundo a pasta, Furnas representa 17,42% da capacidade total da região Sudeste/Centro-Oeste.
O ministério informou ainda que o mercado tem sido atendido também por usinas térmicas, o que permite reduzir a geração em Furnas para preservar seus estoques, e que não há indicativo de que a usina deixará de gerar energia no curto prazo.

Águas baixam, afastam turistas e trazem perdas

Além da hotelaria, que já enfrentou o fechamento de ao menos duas unidades, piscicultura, lanchonetes, bares, restaurantes, clubes náuticos, marinas e oficinas de barcos sofrem com a seca histórica de Furnas, cujo reservatório abrange 34 municípios.
É o caso do comerciante Antonio Carlos da Costa Lopes, 53, de Capitólio (MG), há quatro meses praticamente sem renda.
Seu restaurante fica às margens do reservatório, que hoje está praticamente vazio. Isso permitiu que plantasse milho, alface, couve e pimentão numa área que antes era alagada pela represa. Ele não crê que o lago volte à normalidade antes de 2018.
No local desde 1987, disse que sua renda anual passou de R$ 150 mil para quase zero e, do quadro que já chegou a ser de 32 funcionários, só sobrou um, além dele e da mulher.
Para servir os poucos clientes, compra peixes de criadores. Antes, pescava.
Já Eliana Toledo Moraes, agenciadora de passeios de lancha, disse que ainda é possível fazer passeios no reservatório, mas não em todos os pontos.
"Em dois pontos as lanchas não conseguem entrar", afirmou.
Em Carmo do Rio Claro (MG), onde antes havia um enorme lago, hoje só se vê pasto. Em alguns pontos, a água recuou até três quilômetros, segundo a Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas).
Quem também sofre com a seca é a família de Maria Pereira, 58. Há três anos, a família decidiu se mudar para a pequena Fama (MG), já que seu marido, José, gosta de pescar.
Desde então, o nível da represa só baixou. Os filhos do casal, que abriram uma bonbonnière e uma pizzaria na cidade, estão preocupados com a fuga de turistas, diz ela.
(MT)

FSP, 15/02/2015, Mercado, p. A16

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/208355-pouca-chuva-poe-em-risc…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/208357-aguas-baixam-afastam-tu…

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