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Potencial mineral do futuro Estado do Tapajós

Gazeta Mercantil- Belém - PA
Autor: Alberto Rogério Benedito da Silva
23 de Out de 2001

A região do futuro estado do Tapajós tem presença marcante na história da mineração paraense, tendo em vista que a partir da década de 50 do século passado, a exploração de ouro já reinava no vale do Tapajós. Na década de 70 houve a implantação do primeiro projeto de mineração industrial do Estado do Pará - a bauxita metalúrgica de Trombetas da Mineração Rio do Norte, coligada da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Trata-se de um dos maiores projetos de bauxita metalúrgica do mundo, respondendo por 82% da produção brasileira e 9% da produção mundial. Atualmente, sua performance anual é da ordem de 11,2 milhões de toneladas, mas encontra-se em expansão para 16,3 milhões de toneladas/ano. Parte da produção de Trombetas abastece o complexo Albras-Alunorte, em Barcarena, e Alumar, em São Luís (Maranhão). O restante é destinado ao mercado externo.
A década de 80 também trouxe avanços importantes, pois além de, em Almeirim, ter sido implantado o projeto de bauxita refratária, deu-se também a nova corrida ao ouro na Amazônia, com a modificação da atividade garimpeira na região, por intermédio da introdução de moto-bombas de sucção (dragas) e exploração do leito ativo dos rios. A atual Constituição brasileira, promulgada em 1988, considerou o ouro ativo financeiro e instrumento cambial, fato que beneficiou a atividade garimpeira, fazendo com que a área de garimpo do Tapajós registrasse a sua maior produção oficial em todos os tempos.
Na década de 90, outros avanços ocorreram com diversas pesquisas realizadas nos garimpos do Tapajós, que viabilizaram, dentre outras coisas, a nova visão da atividade em nível regional e o surgimento de ocorrências de ouro primário (em rocha). Iniciou-se, ainda, nesse período, a legalização das áreas garimpeiras, o que propiciou diversas parcerias envolvendo empresas de mineração e donos de garimpos.
As reservas minerais da região não são só caracterizadas pela abundância, mas também pela qualidade, cujos dados oficiais indicam a excelente participação em nível nacional, dentre as quais a gipsita, com 33,3% do total nacional e a bauxita (24%).
No interfúvio Tapajós-Xingu, três áreas - Itaituba, Transamazônica e Monte Alegre - concentram pólos de calcário que podem ser viabilizados por meio de usinas de brita e pó calcário, este último podendo incrementar o pólo agrícola de Santarém.
A partir de 1979, portarias do Ministério de Minas e Energia criaram reservas garimpeiras, dentre as quais a do Tapajós com cerca de 28 mil km2.
A garimpagem na região do Tapajós tem evoluído ao longo do tempo. Inicialmente era feita de forma bem artesanal, depois passou à semimecanização e hoje, de um modo geral, já se explora ouro em veios de quartzo. Dentro dessa ótica, reina uma convivência harmônica e democrática entre os donos de garimpo e as empresas de mineração, onde os primeiros consideram a parceria, como uma única alternativa capaz de alavancar a saída para as frentes garimpeiras. E por outro lado, as empresas estão conscientes de que a labuta dos garimpeiros é algo importante, haja vista que elimina a pesquisa inicial, a fase do maior risco, pois ao serem descobertas as mineralizações primárias, seus trabalhos serão facilitados.
A produção aurífera oficial dos garimpos do Tapajós, no período 1991-2000, representa 36% da produção paraense. É três vezes maior que a da região do Cumaru-Redenção-Tucumã e dez vezes superior à de outras áreas. É válido ressaltar que sua performance em relação ao Pará vem sendo muito afetada pela produção industrial da região de Carajás, onde a mina do Igarapé Bahia da Companhia Vale do Rio Doce responde por cerca de 10 toneladas anuais.
Existe uma possibilidade real de verticalização do ouro produzido na região do Tapajós, via Pólo Joalheiro de Itaituba, que, entretanto, necessita de adequação da carga tributária e do atrelamento ao turismo.
Há ainda a associação da mineração ao ecoturismo, onde se destacam os municípios de Alenquer, Monte Alegre e Itaituba representados por cavernas e sítios arqueológicos em arenitos, pinturas rupestres, petrogrifos e belas paisagens esculpidas em arenitos que podem servir para caminhadas ecológicas. Em Itaituba, há o único registro de caverna em rocha carbonática da Região Norte, apresentando-se bem ornamentada por espeleotemas, estalactites, estalagmites e colunas, grupo de estalagmites em velas, estalactites do tipo ´canudos de refrescos´ e cortinas ´embrionárias´.
Alberto Rogério Benedito da Silva é geólogo e consultor independente

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