VOLTAR

Posse da terra é somente o começo

O Povo (CE) - http://opovo.uol.com.br/
Autor: Andreh Jonathas
23 de Jun de 2010

Na única área indígena em fase de homologação no Ceará, a vida da etnia pitaguary melhorou, mas saúde e formação profissional continuam desafios. O POVO dá continuidade na série sobre a questão fundiária indígena no Ceará

A área indígena de 1.728 hectares entre Maracanaú e Pacatuba é a única no Ceará em fase de homologação. Por lá, as terras e a produção já são coletivas. Apesar deste êxito, a saúde, a educação e a formação profissional são permanentes desafios à população de cerca de 3,7 mil índios.

"Melhorou muito! Desde a identificação, os índios já puderam fazer suas moradias, plantar pra si próprio, sem estar dividindo com ninguém." A declaração é do cacique da etnia pitaguary, Francisco Daniel Araújo da Silva, 59.

Por estar próxima à cidade, a comunidade é muito ligada a alguns aspectos urbanos, como a questão trabalhista. "As pessoas dependem de curso, de emprego, de estudo. Tem muita gente carente com em relação a isso.

Nem todo mundo na aldeia tem uma vida melhor", admite o cacique, que recebeu a reportagem do O POVO, durante encontro sobre a escola diferenciada indígena, que reuniu cinco etnias diferentes do Ceará, em 11 de junho.

Os pitaguarys passam por um processo de resgate e fortalecimento não só das tradições, mas da qualidade de vida da população. Conforme Silva, eles sofreram uma espécie de êxodo por conta da ação de grandes proprietários de terra, até antes de 1997 - ano do reconhecidos oficialmente pela Funai.

"Nossa atividade tem a necessidade da terra, que já é dos nossos troncos velhos. Muitas famílias permaneceram e muitas tiveram que sair, por ocupação de fazendeiros. A maior parte dos índios foi para fora da terra", diz.

A história da etnia segue o exemplo da própria história dos índios no Ceará. O estopim para a repressão dos silvícolas cearenses foi um decreto da Assembleia Legislativa Provincial do Ceará, que, em maio de 1863, declarou extinção aos aldeamentos indígenas, conforme lembra a ativista dos direitos indígenas, Maria Amélia Leite.

O ressurgimento dessas questões fundiárias é a resposta a uma dívida histórica da sociedade com esses povos, analisa.

"A grande maioria se escondeu. Assim, oficialmente, eles desapareceram. Criou-se um preconceito forte por conta disso", critica.

A "mentira oficial" ficou no passado e, para a missionária, os índios gritam "estamos vivos" e reaparecem para reivindicar seus direitos.

EMAIS

QUESTÃO FUNDIÁRIA

O POVO publicou neste domingo, 21 de junho, a reportagem especial "A Disputa por Terra no Ceará", contando o caso da disputa entre tremembés e a empresa Ducoco Alimentos, em Itarema, além da luta da etnia anacé pela demarcação de terra no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em São Gonçalo do Amarante e Caucaia:

O capítulo VIII da Constituição Federal trata dos direitos sociais dos índios. São dois artigos, o 231, com sete parágrafos e o 232.

São cerca de 300 famílias pitaguarys, divididas em seis aldeias.

NÚMEROS

30

MIL É QUANTIDADE DE ÍNDIOS NO CEARÁ ESTIMADA PELA FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE (FUNASA)

LEIA AMANHÃ

Na última reportagem da série, O POVO fala da crise da Funai.

http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/economia/2010/06/23/Internaeconomia,…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.