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Portões abertos, parque bem vazio

CB, Cidades, p. 15
14 de Jan de 2008

Portões abertos, parque bem vazio
Água Mineral recebe apenas 186 visitantes no primeiro dia depois da interdição. Fiscalização foi rigorosa e agentes sanitários não permitiram o acesso de quem estava sem o cartão de vacina atualizado

Adriana Bernardes e Edma Cristina de Góis
Da equipe do Correio

O medo da febre amarela espantou os visitantes do Parque Nacional de Brasília. No primeiro dia de reabertura dos portões, apenas 186 pessoas escolheram a reserva para o lazer de domingo. As piscinas ficaram praticamente vazias.
Historicamente, mesmo com o céu nublado, a média de público nunca é inferior a mil visitantes em um domingo. A fiscalização na entrada do parque foi rigorosa durante todo o dia e provocou a frustração de muita gente. Os agentes de Vigilância Ambiental não permitiram a entrada de quem estava sem o cartão de vacina e documento de identificação com foto ou foi imunizado há menos de 10 dias.
Morador do Cruzeiro, o funcionário público Jeremias de Sousa Pacheco Filho, 39 anos, chegou acompanhado dos filhos e sobrinhos, mas não passou do portão. Dos três sobrinhos, dois tomaram o "reforço" da vacina. Como não estavam com o cartão antigo que comprovava a imunização dentro do prazo de 10 anos, todos voltaram para casa. "Perdemos a viagem. Não acredito que o vírus da febre amarela esteja no parque", disse Jeremias.
Houve quem entrou no parque e evitou percorrer a trilha da Capivara, a única liberada para os freqüentadores. A família do bancário Geraldo Flávio Pereira, 39, é um exemplo. Os dois filhos, Flávia, 13 e Gabriel, 8, recusaram-se a entrar na mata por medo de serem picados pelo mosquito. "Eles ouviram muita coisa sobre a doença nos últimos dias. Mesmo explicando que estão vacinados e não correm risco, eles preferiam ficar perto da piscina", comentou a dona-de-casa Kelly Tostes, 34.
Canto dos pássaros
Dentro do parque, o cenário era de tranqüilidade. Estacionamentos com meia dúzia de carros. Sem a algazarra comum de dezenas de crianças reunidas e com poucos adultos, o canto dos pássaros pôde ser ouvido. Os macacos apareceram só para os primeiros visitantes.
O baixo número de visitantes já era esperado pela direção do parque. Segundo Darlan Alcântara de Pádua, chefe do parque, é um sinal de que as pessoas estão com receio. "É natural. O quadro de febre amarela existe. Uma pessoa morreu no DF. Mas tenho certeza de que nos próximos dias, o movimento voltará ao normal."
A Associação dos Amigos do Parque reivindicou que os cerca de 300 mensalistas (pessoas que pagam R$ 30 por mês para chegar ao parque a partir das 6h) sejam autorizados a freqüentar o parque no horário de costume. "Depois de passar pela avaliação dos agentes, eles teriam os nomes incluídos em uma lista que ficará na portaria com o vigilante", sugeriu Silvia Nogueira, presidente da associação. Ela ainda distribuiu folhetos aos visitantes orientando-os a não dar comida para os símios.
Em todo o DF, continua a operação de captura de mosquitos e larvas para descobrir se existe algum infectado com o vírus da febre amarela. Os esforços dos agentes de Vigilância Ambiental estão concentrados nas 14 áreas onde foram encontrados macacos mortos. O trabalho está concluído no Parque Nacional de Brasília, onde nenhum vetor tinha o vírus. Em São Sebastião, a coleta deve terminar nos próximos dias. "Amanhã (hoje) faremos reunião para decidir quando começaremos a captura dos vetores na região onde Graco Abubakir morava", informou o diretor do órgão, Mozart José da Silva Filho.
Rede de rádio e TV
De dezembro até ontem, o Ministério da Saúde recebeu 24 notificações de suspeita de febre amarela no Brasil (veja arte).
Até agora, dois casos estão confirmados: um no Distrito Federal e outro em São Paulo. No DF, o técnico em informática Graco Carvalho Abubakir, 38, morreu dia 8, vítima da doença. Em São Paulo, uma mulher de 42 anos permanece internada. A vítima teria contraído a doença durante uma viagem de ecoturismo ao Mato Grosso do Sul.
Das 24 notificações, cinco deram negativo para febre amarela e 17 permanecem em análise. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão ontem à noite para tranqüilizar a população. Ele descartou o risco de epidemia e reforçou que só deve procurar os postos de saúde quem tomou a vacina há mais de 10 anos. O ministro assegurou que o governo adotou todas as medidas preventivas para evitar o aparecimento de casos da doença.
"Montamos uma grande barreira sanitária nas áreas de risco protegendo estados e municípios contra a febre amarela. E, de imediato, convocamos as pessoas que vão viajar ou moram em áreas de mata para tomar a vacina", afirmou. "Só procure os postos de saúde se morar ou for visitar as áreas de risco e nunca se vacinou ou foi vacinado antes de 1999", completou.

CB, 14/01/2008, Cidades, p. 15

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