VOLTAR

Porto Velho-Manaus, de estrada a pista de rali

OESP, Cidades, p. C8
17 de Abr de 2004

Porto Velho-Manaus, de estrada a pista de rali
Ministro prometeu ontem recuperar a BR-319, de 870 km, desativada há 12 anos

NILTON SALINA

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL), prometeu ontem iniciar o mais rápido possível a recuperação da BR-319, única estrada que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), que aos poucos está sendo engolida pela selva. A obra acabaria com a alegria de motoqueiros e jipeiros, que se acostumaram a praticar rali em uma das rodovias mais importantes da Região Norte. Sem ela, os rios têm sido a principal opção de ligação da capital do Amazonas com o resto do País.
A BR-319 foi construída na década de 70, tem 870 quilômetros e deixou de ser utilizada há 12 anos em virtude da falta de manutenção. Ela é trafegável por 170 quilômetros, partindo de Manaus, e por cerca de 200 quilômetros a partir de Porto Velho. Na maior parte dos 500 km restantes, o asfalto desapareceu completamente. Um trecho está alagado pelas intensas chuvas do inverno amazônico, que tem duração de seis meses. As pontes são todas de madeira.
Para se aventurar pela rodovia, somente com moto ou caminhonete com tração nas quatro rodas.
O empresário de Porto Velho Paulo Andreolli, de 38 anos, já organizou dois ralis até Manaus. Teve a idéia há uns anos. Seguia pela BR-319 em uma moto 600 cilindradas, com a namorada como carona, quando uma onça preta cruzou a estrada - em apenas dois pulos. "Freei, com o susto. Minha namorada gritou e cravou as unhas em minhas costelas, então acelerei e percebi que andar por aquela estrada pode ser pura adrenalina."
Apesar do susto, onças nunca intimidaram os aventureiros. Em 2002, o comerciário Fábio Costa, de 26 anos, também de Rondônia, foi fiscal de prova em um rali na BR-319. Chegou bem antes dos pilotos ao local definido para marcar a ordem da passagem de cada um, e, ao redor do banco onde deveria esperar, viu pegadas. "Estava me perguntando se eram de onça, quando apareceu um homem com espingarda, caçando o bicho."
Ônibus gastam cinco horas para percorrer o trecho de 200 quilômetros entre Porto Velho e Humaitá (AM), por causa dos buracos na pista. Os grupos de jipeiros chegam em três horas. Eles tentam seguir na velocidade máxima estipulada nas placas ao longo da estrada, mas reconhecem que é impossível manter os 80 km por hora por muito tempo.
O capitão da Polícia Militar de Rondônia Flávio Poester, de 34 anos, percorreu os 870 km até Manaus no início do mês, num grupo formado por dez pessoas. Usou uma moto de 250 cc. Ao todo, foram três dias na selva, atravessando pontes caídas e áreas alagadas. O único imprevisto foi um dos motoqueiros ter caído em um rio, mas ninguém se machucou.
Poester diz lamentar que milhões de reais estejam se perdendo no meio da selva por falta de manutenção da rodovia, mas garante que não existe lugar melhor para uma aventura do que a BR-319. Apesar disso, avisou que está disposto a encontrar outra trilha para se aventurar, se a estrada for mesmo recuperada.
PPA - O ministro, ex-prefeito de Manaus, garantiu que em pouco tempo a BR-319 deixará de servir de diversão. Ele disse que o ministério tem disponível no Plano Plurianual (PPA) R$ 120 bilhões para serem gastos até 2007 na recuperação de estradas e pretende repassar parte desse dinheiro para as obras na Porto Velho-Manaus.
Nascimento alegou que ainda não é possível prever quando começará a recuperação, porque é preciso inspecionar diversos trechos da rodovia. Só assim será possível ter uma idéia dos custos. Segundo ele, quase todas as pontes ao longo de 500 km precisam ser reconstruídas. Nascimento também anunciou a liberação de R$ 26 milhões para a recuperação da BR-364, única estrada entre Porto Velho e Cuiabá (MT), que está esburacada em diversos trechos. Uma parte desse dinheiro será usada na conclusão de um anel viário em Ji-Paraná (RO), que vai facilitar a ligação entre essa estrada e a BR-319.

OESP, 17/04/2004, Cidades, p. C8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.