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Populações indígenas estão crescendo no Brasil, afirma estudo

Carta Maior
15 de Nov de 2006

Populações indígenas estão crescendo no Brasil, afirma estudo
Instituto Socioambiental (ISA) lança publicação sobre a situação dos povos indígenas no Brasil. Dados apontam o crescimento das etnias nos últimos dez anos. O fenômeno contraria previsões de especialistas.

Natália Suzuki - Carta Maior

Durante a ditadura militar, nos anos 70, a Amazônia foi declarada pelo governo brasileiro como sendo um grande vazio demográfico, que deveria ser ocupado e integrado ao resto do país. Na verdade, o julgamento era a justificativa para a construção de obras de infra-estrutura, como a Transamazônica. A partir disso, a existência de uma numerosa população indígena de diversas etnias no Brasil foi desprezada e ignorada. Naquela época, pouco se sabia sobre as suas condições de vida.

De acordo com Beto Ricardo, secretário-executivo do Instituto Socioambiental (ISA), o único levantamento disponível sobre eles era do antropólogo Darcy Ribeiro, feito na década de 50. Foi então, nos anos 70, que ativistas passaram a coletar dados e a fazer um levantamento sobre os índios. Na última segunda-feira (13), o ISA lançou a publicação "Povos Indígenas no Brasil - 2001/2005", que apresenta os dados mais recentes de um acompanhamento dos últimos 30 anos feito pela instituição sobre a questão indígena no país. Ainda hoje, não há um censo ou levantamentos demográficos anuais sobre os índios, por isso os dados não são unânimes entre as fontes. O lançamento do livro contou com o debate entre as lideranças indígenas, Timóteo Verá Popyguá (guarani) e Hiparidi Top´tiro (xavante), o antropólogo Eduardo Viveiros Castro e o jornalista Washington Novaes.

Segundo o ISA, os 225 povos indígenas contemporâneos existentes no Brasil somam 600 mil pessoas. A publicação anterior da organização contava 216. Nos últimos anos, constatou-se que, não apenas a quantidade de povos tem flutuado crescentemente, mas também a população total de cada povo segue um ritmo acelerado de crescimento. Muitos tiveram as suas populações duplicadas nos últimos dez anos. Por outro lado, há 12 deles com poucos indivíduos - entre 5 e 40 - e que correm risco de desaparecer.

Durante a maior parte do século XX, acreditou-se que as populações indígenas estariam condenadas à supressão, tanto por questões demográficas como por um processo de transformação étnica. De acordo com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, a população brasileira se orientava por um caminho de desindigenização completa da população. Contudo, a Constituição de 1988, que assegurou minimamente os direitos básicos aos indígenas, ajudou a reverter esse processo. "A partir de 88, toda uma parcela grande da população brasileira, que era indígena, mas não tinha nenhuma razão de dizer que era, muito pelo contrário, tinha todas as razões para esconder e esquecer isso, começou a se dar conta que poderia melhorar de vida se assumisse o seu passado indígena e o transformasse em presente", afirma o antropólogo.

Do total da população de 600 mil indígenas, é estimado que cerca de 480 mil vivam em Terras Indígenas (TI) e em áreas urbanas próximas. Nas capitais brasileiras, estão outras 120 mil pessoas pertencentes a essas comunidades. Um exemplo disso é os guaranis que vivem nas proximidades da Grande São Paulo. "São Paulo está na Terra Indígena e não o contrário", afirma o cacique guarani, Timóteo Verá Popyguá, cuja aldeia vive no bairro paulistano de Parelheiros. "Muitos falam que o índio nunca esteve aqui. O guarani sempre existiu. A gente está lutando porque a gente tem direitos individuais e coletivos".

O líder guarani lembra que, quando a Constituição passou a legislar os direitos dos índios, as autoridades haviam prometido que todas as TIs seriam demarcadas entre 4 e 5 anos. Não foi o que aconteceu. "Nossa luta hoje é pela ampliação [de terras], porque nós conseguimos garantir só 26 hectares da nossa aldeia. A gente está crescendo: a cada ano estão nascendo 40, 30 crianças. Hoje estamos em 820 pessoas na nossa aldeia. Não tem espaço suficiente para desenvolver atividade de auto-sustentação, por isso a gente está lutando para que as novas gerações, que estão chegando, possam continuar sendo guarani", explica Popyguá.

Para o jornalista Washington Novaes, que revisitou o Xingu nos últimos dois meses, as reservas indígenas são a base para uma política estratégica de preservação de seus recursos naturais. Ele lembra que, em termos de proteção, essas áreas conseguem ser mais eficientes do que as próprias unidades de conservação (Leia Indígenas garantem proteção de 3,5 mi de hectares de floresta).

Hiparidi Top´tiro, coordenador da Associação Xavante Warã, afirma que muitos estudos e conhecimentos sobre os índios ficam retidos nas instituições de pesquisa ou nos órgãos governamentais, como a Funai, o que prejudica o trabalho do movimento indígena. "Nós vamos circular pelas organizações e universidades para ver se tiram da gaveta esses estudos". Top´tiro também critica a cobertura marginal de questões indígenas pela mídia. "Vocês têm que saber o que está acontecendo nas nossas áreas. E a realidade aonde vai? Onde está escrito? Está na hora de expor o nosso sentimento e de colocar também o que a gente pensa".

Carta Maior, 15/11/2006

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