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População indígena cresceu 150%

JB, País, p. A6
14 de Dez de 2005

População indígena cresceu 150%
Pesquisa do IBGE aponta aumento seis vezes maior do que a população brasileira em geral

Folhapress

O contingente de brasileiros que se consideravam índios cresceu 150% na década de 1990, revela a pesquisa ''Tendências Demográficas: uma análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos censos demográficos 1991 e 2000'', divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ritmo de crescimento é quase seis vezes maior do que o da população em geral. Esta é a primeira vez que o instituto apresenta informações sócio-demográficas sobre a população indígena brasileira.
Em 1991, o percentual de indígenas em relação à população total brasileira era de 0,2%, o equivalente a 294 mil pessoas. Em 2000, este percentual subiu para 0,4% da população ou 734 mil pessoas. O resultado representa um aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de crescimento dentre todas as categorias de cor ou raça. O total do país apresentou um ritmo de crescimento no período de 1,6% ao ano.
A hipótese mais provável para justificar esse crescimento, na avaliação do IBGE, é que houve um aumento da proporção de indígenas urbanizados que optaram por se declarar índios no censo 2000. Anteriormente, essa parcela da população se classificava em outras categorias.
Outros fatores também podem ter interferido, como o crescimento vegetativo, embora por si só não seja capaz de explicar o fenômeno, e a imigração internacional de países limítrofes com alto contingente de população indígena, como Bolívia, Equador, Paraguai e Peru.
A distribuição do crescimento da população indígena não foi uniforme. A região Norte, que abriga a maior participação de indígenas no país, apresentou o menor ritmo de crescimento anual. Em 1991, residiam nesta região 42,4% da população indígena. Em 2000, este percentual caiu para 29,1% da população autodeclarada indígena.
O Sudeste dobrou sua participação e passou de 10,4% para 22% da população indígena entre 1991 e 2000. Em números absolutos, em 1991 existiam 30,5 mil pessoas que se classificavam como indígenas no Sudeste. Em 2000, esse número subiu para 161,2 mil. No Nordeste, as pessoas identificadas como indígenas passaram de 55,8 mil para 170 mil. A região Centro-Oeste reuniu em 2000 a maior participação de indígenas na população, com 0,9%, mais do que o dobro da média nacional, de 0,4%.
Os cinco estados que apresentaram maior crescimento da autodeclaração foram Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Goiás. O aumento da autodeclaração nas regiões Sudeste e Nordeste levou a um aparente efeito de urbanização. Essas regiões têm menor número de terras indígenas homologadas e sofreram movimentos de afirmação da etnia indígena.
Em 1991, a maior parte dos indígenas, 76,1% ou 223 mil pessoas, vivia em áreas rurais. Em 2000, 383 mil ou 52% do total moravam em áreas urbanas. A população registrou aumento também nas capitais. O percentual passou de 1991 a 2000 de 12,0% para 18,1%. Apesar disso, algumas capitais do Norte, como Porto Velho, Rio Branco e Boa Vista, do Nordeste (Fortaleza) e do Sudeste, todas com exceção de Vitória, registraram redução na proporção de pessoas que se declaravam indígenas com relação ao total do estado.
São Gabriel da Cachoeira (AM) e Uiramutã (RR) detinham em 2000 a maior proporção de índios no país, com dois terços da população formada por indígenas. O aumento da autodeclaração também tem raízes históricas. A categoria indígena só foi incluída no censo de 1991, embora a investigação da cor no primeiro levantamento censitário realizado no Brasil tenha ocorrido em 1872. O último censo, de 2000, divide a população em cinco categorias: branco, preto, amarelo, pardo e indígena.
O IBGE destaca que a formulação do quesito sobre cor ou raça deve ser aperfeiçoada nos censos brasileiros. Em alguns países da América Latina, além da auto-identificação, outros critérios são usados para a classificação dos indígenas, como o idioma ou língua falada, a localização geográfica e outras características.

Mortalidade infantil em índios é maior
A comparação entre a taxa de mortalidade infantil de índios e brancos mostra que uma criança índia corre 124% mais risco de morte. Segundo números do IBGE, para cada mil crianças índias nascidas vivas, 51,4 morreram antes de completar o primeiro ano de vida. No mesmo período, a população branca apresentou taxa de mortalidade de 22,9 crianças por grupo de 1000.
Apesar dos dados negativos sobre a mortalidade infantil, a pesquisa aponta que hábitos urbanos podem ter influenciado taxas de fecundidade e ampliado a longevidade dos índios. Os indígenas que vivem em regiões urbanas acompanham o padrão da composição por sexo e idade da população brasileira em geral. Na prática, eles apresentam taxas de fecundidade e mortalidade um pouco mais baixas.
O número de famílias com residência fixa cresceu cerca de 350% entre os censos de 1991 e 2000, passando de 98 mil para 342 mil. O destaque, mais uma vez ficou com a Região Sudeste, que em dez anos assumiu a liderança que antes pertencia à Região Norte. O IBGE informa que uma em cada três dessas famílias reside em estados da Região Sudeste, um crescimento de 50% em relação ao início do período analisado.
A idade média de idade da população indígena no Brasil também mudou. A média do Censo 2000 foi de 23,2 anos . Para os homens, a idade ficou em 22,9 anos e para as mulheres, em 23,5 anos. A pesquisa revela características estruturais distintas para a população que se autodeclarou indígena nas diferentes regiões do país e entre áreas urbanas e rurais. A idade mediana da população indígena urbana é quase o dobro da idade da população indígena rural (30,1 anos e 16,8 anos, respectivamente).
Para a população indígena que vivia em áreas rurais dos municípios em terras indígenas, a população era ainda mais jovem, com uma idade mediana de 15,9 anos. Entre as regiões, a menor idade mediana foi verificada no Norte, com 17,2 anos e a maior, no Sudeste, com 31,8 anos.

JB, 14/12/2005, País, p. A6

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