VOLTAR

População de índios do Paraná aumenta seis vezes em 30 anos

Site da Funai
Autor: Érica Busnardo
30 de Ago de 2004

Pés no chão, como há quinhentos anos. Rosto sorridente, corpo bem nutrido, como só recentemente se tornou possível de novo. O retrato da pequena criança caigangue é uma miniatura da situação dos povos indígenas no Paraná. Depois de serem reduzidos a apenas 2,5 mil em todo o estado, eles se aproximaram da civilização, passaram a contar com algumas comodidades da cidade grande e voltaram a ter uma vida mais saudável. Resultado: hoje são 15 mil índios no estado. Um número seis vezes maior do que 30 anos atrás.

São guaranis, xetás e xoglengs, além dos caigangues, como os da reserva do Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras (Centro), onde mora a pequena criança descrita. Eles estão distribuídos por 17 reservas indígenas, são articulados, possuem uma organização política eficiente e sabem que a interação com o branco é o caminho inevitável para a sobrevivência. O desafio é conciliar a vivência com o mundo externo à preservação da cultura.

Foi a intervenção branca que contribuiu para o aumento da população indígena no Paraná. Recuperação de terras, trato sanitário - principalmente por meio das vacinas - e produção de alimentos para a subsistência foram os fatores determinantes para que essa população chegasse aos atuais 15 mil índios.

A auto-estima dos indígenas cresceu quase tanto quanto sua população. "Hoje eles não têm mais vergonha de se assumirem como índios. Dizem isso com orgulho", diz o indigenista Edívio Battisteli, que estuda o povo há 25 anos. Faz pelo menos dez anos que eles lutam pela manutenção da cultura e de suas origens. O resultado disso é que hoje somente 5% da população indígena perdeu o contato com suas tradições. Segundo Battisteli, são aproximadamente três aldeias em que o processo de colonização e de casamentos com não índios foi mais determinante.

A língua é o traço mais forte do que sobrou da cultura indígena e é a maior defesa deles. Em Rio das Cobras, a maior reserva do Paraná, as crianças têm o primeiro contato com a língua portuguesa no processo de alfabetização. Os adultos caigangues, guaranis e xetás só usam o português para a comunicação fora da comunidade. Dentro da reserva, falam suas respectivas línguas.

O uso do português é aspecto fundamental para a interação com a sociedade branca. Os índios mais velhos querem que as crianças aprendam a "língua dos brancos" para serem suas ligações com o mundo externo. O que aprendeu de português é insuficiente para que Adélia Bernardo consiga entender os não índios. Ela conta em caigangue que tem dificuldades em vender seus artesanatos e ir ao banco, por exemplo. É na filha de oito anos que ela projeta uma comunicação melhor com o "outro mundo". Joanilda Félix está na primeira série e ensaia os primeiros diálogos em português.

Na escola mantida na reserva, além do Português, a menina aperfeiçoa nas oficinas de artesanato o que aprendeu desde cedo em casa. Enquanto conversava com a reportagem, Joanilda fazia um cesto com uma habilidade invejável. "Aprendi com minha mãe, que aprendeu com minha vó, que aprendeu com a mãe dela", explicou a menina ainda num português arrastado. O processo de produção do artesanato na aldeia ainda é o mesmo de séculos atrás. Os índios chegam a percorrer distâncias de 10 a 20 quilômetros para encontrar bambus adequados para as peças. Depois de queimados e desfiados, eles seguem para as mãos das índias, que transformam tiras cruas em cestos, arcos e flechas coloridas.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.