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Poluição em Pedra

O Globo, Sociedade, p. 27
10 de Jun de 2016

Poluição em Pedra
Projeto na Islândia transforma emissões de CO2 em rocha e evita que cheguem à atmosfera

Cesar Baima

Principal gás do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2) é alvo de diversas iniciativas que visam sua "captura e sequestro" antes que chegue à atmosfera. A ideia é pegar o gás gerado por grandes emissoras, como usinas elétricas a carvão, e injetá-lo no solo, prendendo-o na crosta terrestre. Estes projetos, no entanto, têm se mostrado dispendiosos, limitados e arriscados, com temores de que o gás, preso, escape para a atmosfera por meio de rachaduras subterrâneas e outros caminhos. Mas um projeto-piloto em uma usina geotérmica na Islândia mostrou que é possível reter este carbono e impedir que ele alcance a atmosfera de forma eficiente e praticamente definitiva. Para isso, bastaria transformar o CO2 em pedra, usando a química natural da própria Terra.
Localizada a cerca de 25 quilômetros a Leste da capital islandesa de Reykjavik, a usina de Hellisheidi usa água aquecida por vulcões próximos para movimentar suas turbinas. Este processo, porém, não é de todo limpo, já que junto com a água vêm gases vulcânicos, como o dióxido de carbono e o fedorento sulfeto de hidrogênio (H2S), que se tornou um grande incômodo para os moradores da área. Assim, o complexo de Hellisheidi emite cerca de 40 mil toneladas de CO2 anualmente - o que, embora represente apenas 5% da poluição de uma térmica a carvão com potência equivalente, ainda é uma quantidade considerável -, além de 12 mil toneladas anuais de H2S. Diante disso, em 2007 a empresa operadora da usina, Reykjavik Energy, se uniu a um consórcio internacional de cientistas em busca de uma solução para se livrar não só do dióxido de carbono como do nauseante sulfeto de hidrogênio.
Com o nome CarbFix, o projeto iniciado em 2012 mistura os gases com a água bombeada para mover as turbinas da usina e reinjeta a solução em uma camada de basalto vulcânico entre 400 e 800 metros abaixo. Na natureza, quando o basalto - uma rocha dura entre as mais comuns na crosta terrestre e muito usada como revestimento, que pode ser facilmente encontrada no Rio como as partes escuras dos calçadões de pedras portuguesas - é exposto a CO2 e água, uma série de reações químicas faz o carbono se precipitar como um mineral farinhento e esbranquiçado. Ninguém sabia, no entanto, quanto tempo isso levaria para acontecer e se o processo poderia ser usado na captura de carbono. Estimativas iniciais indicavam que na maior parte das rochas dos projetos de sequestro de carbono, calcárias, seriam necessários centenas a milhares de anos para o carbono se mineralizar, mas no basalto sob Hellisheidi de 95% a 98% do carbono injetado se tornou pedra em menos de dois anos.
- Minerais carbonados não vazam do solo, então nosso método resulta em um armazenamento permanente e amigável para o meio ambiente das emissões de CO2 - destaca Juerg Matter, professor de geoengenharia da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e um dos autores de artigo sobre o sucesso do projeto-piloto, publicado ontem na revista "Science". - Além disso, o basalto é uma das rochas mais comuns da Terra, o que nos dá um enorme potencial de armazenagem de CO2.
No projeto-piloto realizado em 2012-2013 descrito no artigo, os cientistas injetaram no solo só cerca de 250 toneladas de carbono. O sucesso da experiência, porém, os levou a aumentar a escala da iniciativa, e agora até cinco mil toneladas do gás estão sendo capturadas anualmente no reservatório de basalto sob a usina, com planos de dobrar a quantidade ainda este ano. O monitoramento indica que o rápido ritmo de mineralização do carbono se manteve.

O Globo, 10/06/2016, Sociedade, p. 27

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/usina-da-islandia-tr…

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