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Poluição do ar mata 7 milhões por ano

O Globo, Ciência, p. 30
26 de Mar de 2014

Poluição do ar mata 7 milhões por ano
Emissões de substâncias danosas aumentam óbitos em todo o mundo

RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com.br

O ar imprescindível para a vida do homem é, também, uma das maiores causas de sua morte. Segundo um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), um em cada oito óbitos no mundo - o equivalente a 7 milhões de casos - é causado pela poluição atmosférica.
O levantamento levou em conta dados coletados em 2012. Quatro anos antes, foram constatadas 3,2 milhões de mortes devido à poluição do ar.
A OMS investigou a ligação entre a poluição e estudos epidemiológicos. Os principais males causados pelo ar poluído são doença cardíaca isquêmica, infecção respiratória, derrame e câncer de pulmão.
- Além de contarmos com estudos sobre epidemias, que nunca havíamos considerado em nossos relatórios, conseguimos associá-los a outros fatores de risco, como tabaco, pressão arterial e dieta - explica Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Determinantes Sociais e Ambientais da OMS.

FALHAS MÉDICAS AUMENTARIAM OCORRÊNCIAS
Embora o número de óbitos tenha mais do que duplicado entre os relatórios, o pneumologista Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), acredita que a conta ainda não reflete a realidade. - Vários países não têm estatísticas confiáveis. Os pacientes morrem sem diagnóstico, então não sabemos quantos casos podemos atribuir a doenças que podem estar ligadas à poluição do ar, como pneumonia e infecções respiratórias - lembra.
Países do Sudeste Asiático e de regiões do Pacífico Ocidental registraram a maior quantidade de óbitos relacionados à qualidade do ar - somados, ambas regiões respondem por mais dos 3,3 milhões de casos. Em seguida vieram África, a região do Mediterrâneo Ocidental, Europa e Américas. Das 7 milhões de mortes, apenas 19 mil foram em nações de alta renda.
Embora as mulheres experimentem níveis mais elevados de exposição pessoal à poluição - e, por isso, correm mais risco de desenvolver efeitos adversos à saúde -, os homens respondem pela maior parte dos óbitos, devido à combinação da baixa qualidade do ar com outras doenças.
Cerca de 4,3 milhões de óbitos são atribuídos à poluição de origem doméstica, enquanto 3,7 milhões derivam da exposição à poluição externa. Além dos índices mapeados nas pesquisas anteriores, a OMS fez inventários de emissões por satélite e observou o deslocamento dos poluentes na atmosfera. O novo método, destaca Dora, aumentou a visualização de áreas rurais, onde vive metade da população mundial.
O campo, porém, não era a única região que fugia da lupa da OMS. Diversos poluentes da cidade, como o uso de energia em edifícios e as emissões dos meios de transporte e da construção civil, eram subestimados.
A baixa qualidade do ar já provoca alteração no cotidiano de milhões de pessoas. O uso de máscaras é um recurso comum entre moradores de metrópoles chinesas. Na semana passada, a prefeitura de Paris determinou o rodízio de carros e chegou a conceder transporte público gratuito.
De acordo com Dora, estas medidas emergenciais funcionam a curto prazo, mas não abordam "problemas básicos", como a adoção de fontes de energia renováveis.
- O poder público precisa definir a poluição do ar como um problema prioritário e que vai ser respondido por medidas específicas e em um tempo determinado - ressalta. - As empresas particulares perceberão que um novo mercado foi criado, e investirão em soluções.
A OMS publicará, daqui a cerca de três meses, um ranking com as cidades mais poluídas do planeta. Segundo Dora, a lista é dominada por metrópoles chinesas, cada vez mais transparentes em seus inventários de emissões. A organização também divulgará relatórios com orientações sobre como melhorar a qualidade do ar em setores como habitação, construção e mobilidade urbana.

O Globo, 26/03/2014, Ciência, p. 30

http://oglobo.globo.com/ciencia/para-oms-governos-nao-acham-que-poluica…

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