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Policia investega mais dois no caso Dorothy

FSP, Brasil, p.A9
29 de Mar de 2005

Nomes de madeireiros são citados com freqüência nos depoimentos dos acusados de matar missionária no Pará
Polícia investiga mais 2 no caso Dorothy
A Polícia Civil do Pará deve pedir nos próximos dias a prisão preventiva de ao menos outros dois fazendeiros acusados de envolvimento no assassinato da missionária naturalizada brasileira Dorothy Stang, em Anapu (oeste do Estado).
Segundo o delegado Waldir Freire, a polícia já tem a lista com os nomes dos outros envolvidos. Ela está sendo mantida em sigilo.
Já a Polícia Federal deve se dedicar nos próximos dias a confirmar a hipótese de um "consórcio" formado por fazendeiros de Anapu interessados na morte da freira. Em discurso na manhã de ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, indicou a nova linha de investigação.
O ponto de partida será o depoimento de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, 34, acusado de ser o mandante do crime. "Falta apenas descortinar as relações [de Bida] com outras pessoas para que o crime seja totalmente decifrado", afirmou o ministro.
Segundo o promotor estadual Sávio Brabo, do Grupo Especial de Prevenção e Repressão às Organizações Criminosas do Estado, os nomes de alguns madeireiros vêm sendo citados com freqüência por acusados do assassinato.
Bida, acusado de ser o mandante do crime, se entregou na manhã de anteontem à PF, na região de Altamira (777 km de Belém).
Em depoimento à PF, ao qual a Folha teve acesso, Vitalmiro não acusou nenhum fazendeiro, mas confirmou seu envolvimento com o Regivaldo Galvão (conhecido como Taradão), de quem comprou, por R$ 1 milhão, a fazenda em Anapu que estava na área do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança.
Bida também disse que pediu ajuda ao fazendeiro Délio Fernandes, um dos maiores proprietários de terra da Transamazônica. Bida foi à casa de Délio dias após o crime para telefonar para sua mulher. Délio também teria emprestado um avião para Bida.
Outro fazendeiro citado foi Luiz Ungaratti, que segundo Bida, possui terras no PDS Esperança.
Outro lado
Ontem à noite, a reportagem tentou entrar em contato com os três empresários citados por Bida, mas nenhum deles foi localizado.
Segundo uma funcionária que trabalha na casa de Galvão, em Altamira, o empresário está viajando e não deixou um número para contato. No escritório e na casa de Fernandes, ninguém atendeu.
Um funcionário da serraria de Ungaratti, em Anapu, disse que não poderia fornecer telefones de contato do empresário. Na União das Entidades Florestais do Estado do Pará (Uniflor), entidade da qual ele faz parte, ninguém atendeu ao telefone.
Acareação
Os quatro acusados do assassinato da freira, Bida, Rayfran das Neves Sales (Fogoió), 27, Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e Amair Feijoli da Cunha (Tato), 32, seriam acareados hoje no presídio Americano 3, em Santa Isabel (a 100 km de Belém).
O procedimento foi adiado porque os advogados Oscar Damasceno, de Tato, e Augusto Septímio, de Bida, terão que se deslocar para Pacajá (521 km da capital), onde serão ouvidas quatro testemunhas de defesa. O advogado Américo Leal, que também defende Bida, informou que estará em uma audiência no município de Santarém (1.526 km de Belém). Ainda não foi marcada uma nova data para a acareação.
Vitalmiro será ouvido pelo juiz responsável pelo caso, Lucas do Carmo de Jesus, na próxima quinta-feira. O depoimento estava marcado para hoje, mas foi suspenso porque Bida terá que ser ouvido em Belém, e o juiz não teria tempo de se deslocar da região onde o crime ocorreu.
Os municípios de Pacajá -onde fica o juiz- e Anapu estão praticamente isolados por causa das fortes chuvas e de um buraco de 20 metros aberto na rodovia Transamazônica. A viagem até a capital pode chegar a 12 horas.
À Polícia Civil, suposto mandante da morte da freira não fala nada
Três horas de perguntas e três horas de respostas que variaram do "não vou responder" ao "sobre isso não vou falar". O interrogatório prestado ontem de manhã pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato de Dorothy Stang, não forneceu informação à Polícia Civil do Pará.
O posicionamento foi bem diferente do adotado no último domingo, quando o fazendeiro prestou depoimento à Polícia Federal durante cerca de seis horas.
O advogado de Bida, Américo Leal -conhecido por atuar em defesa dos oficiais da Polícia Militar que ordenaram o massacre de Eldorado do Carajás, em 1996-, disse que o silêncio é a estratégia que ele utilizará. "Para nós não interessa a Polícia Civil, porque o acusado presta esclarecimentos e depois eles [policiais] ficam elucubrando em cima daquilo como se o cara estivesse procurando um motivo para ser condenado. A Polícia Civil quer criar um criminoso, e isso não nos interessa."
Leal acredita que a polícia do Pará tem mostrado parcialidade e defende a federalização do crime. "Na mesma época em que assassinaram a missionária, assassinaram também outras pessoas na área, mas a polícia não quis nem saber disso. A Justiça tem que ser para todos. Por que beneficiar somente uma americana?"
Segundo o delegado Waldir Freire, que preside o inquérito da Polícia Civil, Bida e Amair Feijoli da Cunha, o Tato, poderão até ficar calados, mas a atitude não irá atrapalhar as investigações. "Para mim, é indiferente se o Tato e o Bida vão ficar calados. Eu sei que os outros dois [acusados] vão falar. Eu acho que eles vão se dar mal. Aliás, eu espero que eles se dêem mal", disse.
Freire ainda espera esclarecer as contradições que apareceram nos quatro depoimentos, entre eles a propriedade da arma do crime, o tempo que os pistoleiros ficaram escondidos no lote de Bida, a participação de outros fazendeiros e a insistência de Tato em declarar que agiu sozinho.
FSP, 29/03/2005, p. A9

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