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Polícia Federal ouve Xukurus

Diário de Pernambuco-Recife-PE
26 de Jul de 2002

A Polícia Federal começou a ouvir ontem em Pesqueira, a 231 quilômetros do Recife, os índios José Vianei Alves da Silva, 26 anos, Sérgio Ricardo Beto da Silva, 27, Wilson Luiz do Nascimento, 19, e Adriano Bezerra Sobrinho, 21, que saíram feridos durante o conflito ocorrido na última quarta-feira durante a ocupação da Fazenda Pedra d'Àgua, na Vila de Cimbres, localizada dentro da reserva dos Xukurus. Hoje, as vítimas deverão fazer exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal em Caruaru. O delegado Marcos Cotrim quer saber se os quatro foram feridas com arma de fogo.
O laudo médico do Hospital Lídio Paraíba, onde os índios receberam primeiros socorros,
informava apenas que eles sofreram escoriações pelo corpo. Hoje, representantes de
organizações não-governamentais e a subprocuradora Armanda Figueiredo, da 6ª Câmara de Coordenação do Revisão do Ministério Público Federal, irão à tribo ver de perto como está a situação. Por conta dos conflitos, os técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai), que vistoriam os 27,5 mil hectares de terras que serão desapropriados pelo Governo Federal, tiveram que interromper o trabalho. Desde maio do ano passado, quando o direito de posse da área foi oficialmente reconhecido, os técnicos já avaliaram 54 das 85 fazendas existentes na região.
O cacique Marcos Luidson, filho de Francisco de Assis Pereira de Araújo, o cacique Chicão, assassinado em 1998, vê o conflito como mais do que uma simples briga entre os índios. Segundo ele, a disputa envolvendo as lideranças da tribo Xukuru está relacionada com interesses financeiros e comerciais. "Quem está por trás de tudo isso são os empresários, políticos e fazendeiros da região. Eles querem desapropriar as terras para implantar o megaprojeto do santuário de Nossa Senhora das Graças, em Cimbres. Também inventaram essa briga toda para supervalorizar as indenizações", disparou.
Marcos Luidson, que está andando de colete a prova de balas, acusa Expedito Alves Cabral, o Biá, um dos líderes do movimento para a divisão da naçãoXukuru, de ter ligação com políticos e empresários da região. "Biá quer promover essa briga para desmoralizar o nosso povo. Ele está a serviço dos fazendeiros".
Expedito Alves Cabral, ligado aos Xukurus de Cimbres, se defendeu das acusações, dizendo que Marcos Luidson é quem faz política. "Eu já fui vereador pelo PV e hoje sou suplente.
Também ocupo o cargo de diretor de assuntos indígenas na Prefeitura e isso é o que deixa ele tão incomodado. Posso garantir que não conto com apoio político algum. Ele, sim, apareceu nos jornais como candidato a deputado pelo PT e agora fica jogando", rechaçou. Biá comentou que o problema dos Xukurus foi motivado pela falta de reconhecimento dos direitos indígenas. "A Funai e a própria Procuradoria da República fecharam os olhos para a questão". A nação Xucuru é composta por 23 aldeias (incluindo as três dissidentes - de Cimbres, Cajueiro e Guarda) e possui 8.502 índios.

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