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A polêmica do Velho Chico

CB, Brasil, p. 11
09 de Nov de 2007

A polêmica do Velho Chico
Apontada como solução para o semi-árido, transposição não traz riscos, garante o governo. Temor é de que bacia fique sobrecarregada

Rita Soares
Especial para o Correio

A transposição de rios para solucionar o abastecimento de água é uma prática antiga e usual. Países como os Estados Unidos, China, Austrália, Espanha e o vizinho Peru estão entre as nações que implantaram projetos de integração de suas bacias hidrográficas para levar água a regiões semi-áridas. No Brasil, existem casos como o Parnaíba do Sul, que abastece São Paulo, e do Rio Jaguaribe, onde foi construído um canal que leva água para Fortaleza (CE). Nenhum projeto de integração de bacias ficou imune às polêmicas que também atingem a transposição do Rio São Francisco, tema de um seminário, que começa no dia 13, realizado pelos jornais Correio Braziliense, Diário de Pernambuco e Estado de Minas, do Grupo Associados.
A maior oposição ao projeto de transposição do São Francisco está nas regiões por onde passa o rio. Há o temor de que a integração sobrecarregue a bacia e acabe estendendo o problema da seca às regiões que hoje já se beneficiam do rio. Secretário de Recursos Hídricos do Ministério da Integração Nacional, João Santana garante que não há risco para o São Francisco. Ele afirma que o volume de água bombeada vai corresponder a apenas 1,4% da vazante do rio. A Agência Nacional de Águas (ANA) autorizou a retirada de 26,4 mil metros cúbicos de água por segundo do rio.
Entre os rios famosos que sofreram o processo de transposição está o Colorado, nos Estados Unidos. A obra concluída no início do século 20 levou água para o Big Thompson, beneficiando 29 cidades americanas. Os defensores do projeto dizem que os programas de irrigação garantidos pela obra foram os responsáveis pelo crescimento do oeste e do centro-sul dos Estados Unidos. Na Espanha, a experiência mais conhecida é a do aqueaduto Tejo-Segura. As águas foram transpostas da bacia do Rio Tejo, na região centro sul para o Rio Segura, na região de Murcia. A vazão média transposta é de 33 metros cúbicos por segundo. No Peru, a água é retirada do Rio Santa com vazão média de 130 metros cúbicos por segundo.
Na maioria dos casos de integração, houve impactos sobre as bacias de origem. No Peru, por exemplo, estudiosos têm preocupação com o grave problema de salinização do solo, que teria sido causado pela elevação do nível freático. No Colorado, um dos entraves verificados após a integração foi a poluição nos reservatórios da bacia receptora, a Big Thompson. "Os problemas não se deram por causa da integração. Eles ocorreram porque foram mal executados", explica Telma Torreão, assessora técnica do Ministério da Integração Nacional. Muitos desses projetos foram feitos no início do século 20, quando havia pouco conhecimento sobre solo e a qualidade da água. "O know-how que temos hoje funciona como uma vacina contra esses erros", afirma.
Para licenciar a obra, o Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exigiu a implantação de uma série de programas ambientais. Ao todo são 36 ações a serem desenvolvidas ao longo do São Francisco. Esses projetos vão consumir boa parte dos recursos destinados à obra de transposição. A autorização foi condicionada, por exemplo, à implantação de esgotamento sanitário em 102 cidades que ficam na calha do rio.

CB, 09/11/2007, Brasil, p. 11

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