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Planta natural do cerrado trata picada de surucucu

FSP, Ciência, p. A15
21 de Jul de 2010

Planta natural do cerrado trata picada de surucucu
Extrato de barbatimão atenuou veneno da cobra em teste com cobaias
Vegetal reduz efeito do envenenamento que é difícil de tratar com soro antiofídico e pode requerer amputações

Denise Menchen
Do Rio

Uma planta brasileira pode se tornar um importante aliado contra o veneno da surucucu, a maior serpente peçonhenta da América do Sul. Uma pesquisa da UFF (Universidade Federal Fluminense) mostrou que um extrato feito da raiz do barbatimão, uma árvore do cerrado, consegue neutralizar os principais efeitos da picada.
O preparado teve sucesso em testes com cobaias e pode se tornar um tratamento complementar para vítimas da surucucu, uma das serpentes mais letais do Brasil. Seu veneno ataca os sistemas cardiovascular, respiratório, urinário e nervoso, além de provocar dor, inflamação, edema, hemorragia e até necrose no local da picada.
Entre 2001 e 2004, a cobra respondeu por 2.170 ataques no país, ou 2,3% do total. Seu índice de letalidade, porém, foi quase três vezes superior ao do gênero Bothrops, que respondeu por 90% dos acidentes -cerca de 1% das vítimas da surucucu morreram.
Hoje, o tratamento padrão para quem sofre o ataque -o soro antiofídico- é eficaz apenas contra os efeitos sistêmicos. É difícil combater os efeitos locais da picada, que podem levar a amputações.
Em busca de uma complementação para esse tratamento, Rafael Cisne de Paula, da UFF, investigou a ação de 12 extratos de plantas sobre os efeitos locais do veneno. Onze deles apresentaram algum grau de eficácia, mas o barbatimão foi excepcional: inibiu em mais de 80% todos os efeitos analisados.
O extrato da planta impedindo hemorragias, distúrbios de coagulação e a destruição de hemácias e proteínas. Os testes foram feitos in vitro e em camundongos.
"Ainda é preciso identificar os componentes que respondem pela neutralização do veneno, isolá-los e testar novamente sua eficácia antes de dar início à pesquisa clínica [com seres humanos]", explica de Paula. "Há vários degraus a serem galgados. Mas os resultados são promissores", diz seu orientador André Fuly.
De Paula também defende que a planta seja testada contra efeitos gerais do veneno. Isso poderia levar não só à complementação da soroterapia, mas até à sua substituição. Como o soro antiofídico precisa de armazenamento em geladeira, é difícil tê-lo à mão em áreas de mata. Já o extrato de barbatimão suporta calor sem se degradar.

FSP, 21/07/2010, Ciência, p. A15

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2107201001.htm

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