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Plano de mudanças climáticas terá metas domésticas de corte de emissões

Valor Econômico
27 de Nov de 2008

Plano de mudanças climáticas terá metas domésticas de corte de emissões

Daniela Chiaretti, de São Paulo

Na segunda-feira, às 10h30 da manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará qual o plano de ação do governo sobre mudanças climáticas. A novidade é que o pacote virá com metas de redução na emissão de gases-estufa causados por desmatamento, pelo setor de transportes e pelo de energia. Serão metas nacionais e não-vinculantes, ou seja, não penduradas a nenhum compromisso internacional. Mesmo sendo objetivos apenas domésticos, trata-se de uma grande cartada: Lula dará ao Brasil cara de país protagonista no combate ao aquecimento global no mesmo dia em que, em Poznam, na Polônia, começa a megaconferência das Nações Unidas sobre clima, com milhares de delegados do mundo todo tentando avançar na costura de um acordo sobre o assunto.

As metas serão domésticas, algo como o Brasil faz habitualmente com metas de crescimento, por exemplo. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, falou sobre isso ontem, para parlamentares, políticos e ambientalistas, em dois eventos - o primeiro, um café da manhã na lanchonete do Congresso com deputados da chamada Frente Parlamentar Ambientalista e o outro à tarde, em Fortaleza, com políticos locais e presidentes de órgãos regionais.
Minc não detalhou as metas, dizendo que não estaria autorizado a isso e que não queria esvaziar o anúncio da segunda-feira. Há um mês, em entrevista exclusiva ao Valor, o ministro disse ser "perfeitamente factível" um compromisso de diminuir de 10% a 20% as emissões entre 2012 a 2020, com base no volume de emissões de 2004. Na ocasião, falava de metas obrigatórias, como um compromisso internacional no acordo que o mundo está tentando fechar para o pós-2012, quando termina o primeiro período de compromissos do Protocolo de Kyoto. Minc surpreendeu até o governo e causou "frisson" - só os países industrializados têm metas obrigatórias de cortar emissões - , mesmo sendo ambíguo e anunciando cortes confortáveis, já que partiriam de uma base próxima à atual (2004). Segundo assessores, usou a habitual estratégia de colocar dois bodes na sala e depois tirar um, deixando o interlocutor aliviado, e ele, com um trunfo garantido.
Também em Poznam o Brasil pode dar sinais positivos, com o anúncio providencial de Lula. Terá feito a lição de casa. Na conferência de 2007, em Báli, ficou acertado que países em desenvolvimento dariam sua contribuição para o problema global do aquecimento tendo metas nacionais verificáveis. "Será um divisor de águas", celebra Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace, presente ao evento em Brasília onde Minc antecipou a decisão. "O Brasil, neste momento, nem precisaria ter metas vinculantes e nem é isso que estamos cobrando", continua. "Mas é um anúncio importante, que indica forte mudança de posição", concorda Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). "Nos últimos cinco anos, o Brasil nem queria falar de metas de desmatamento na discussão de clima."
Maiores avanços podem vir no próprio plano e na política nacional de mudança climática. O evento em Brasília foi coordenado pelo Observatório do Clima, rede de ONGs que no último mês trabalhou para aperfeiçoar o Plano Nacional de Mudança Climática apresentado recentemente pelo governo. "A crítica ao plano é que ele era uma colcha de retalhos de ações que o governo já fazia. Não era um rascunho muito inspirador", diz Rubens Born, da ONG Vitae Civilis. "Era melhor ter algo menor, mas sério, do que algo ambicioso e que já começa desacreditado."
O plano, esperam os ambientalistas, poderá incorporar a meta de a matriz energética ter 30% de renováveis (eólica, solar, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas) até 2020. Na lei, sugeriram que o Brasil tenha estudos de vulnerabilidade climática para todas as regiões. "Minc nos disse que estão cozinhando a segunda versão do plano, com metas, sem dizer quais", conta Marcio Santilli, coordenador do Instituto Socioambiental (ISA). "Disse que não será o desmatamento zero em sete anos, como queríamos, mas algo mais modesto. Mas a inclusão de metas foi uma importante conquista da sociedade civil que fez pressão."

Valor Econômico, 27/11/2008, Brasil.

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