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Pistas clandestinas poderão atender índios, sugere Funasa

OESP, Nacional, p. A10
23 de Jan de 2008

Pistas clandestinas poderão atender índios, sugere Funasa
Medida será analisada pelo Ministério da Justiça, que tem programa para destruir áreas de pouso ilegais

Vannildo Mendes

O Ministério da Justiça poderá rever o programa de destruição de pistas de pouso clandestinas e preservar as que servem para transporte de medicamentos e vacinas para comunidades indígenas e outras áreas remotas na Amazônia.

A medida, sugerida pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), será analisada pelo ministério, em conjunto com o Ministério da Defesa, o Comando do Exército e a Polícia Federal, órgão encarregado de dinamitar as pistas, conforme afirmou ontem o ministro da Justiça, Tarso Genro.

Mas ele faz um alerta: "Onde houver possibilidade de se criar um esquema de controle eficaz, não vejo problema, mas o governo não vai permitir o uso de aeroportos ilegais para tráfico de drogas, o roubo da nossa biodiversidade e a ocupação ilegal do nosso território por interesses estranhos ao País".

O programa de destruição de pistas clandestinas foi deflagrado em 2005, pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, após o assassinato da missionária americana Dorothy Stang, na região conhecida como Terra do Meio, no Pará.

Desde então, já foram dinamitadas mais de cem pistas, várias em terras indígenas e área de preservação ambiental.

Tarso disse que ainda não recebeu nenhum pedido formal da Funasa, mas que será sensível aos casos de interesse público.

Relatório da fundação, que é vinculada ao Ministério da Saúde, indica que a situação mais grave é a do Vale do Javari, onde epidemias de malária e de hepatite saíram de controle nos últimos anos.

A região, uma das mais preservadas da Amazônia brasileira, fica entre o Acre, o Amazonas e a fronteira com o Peru. Nela vivem cerca de 5 mil índios de várias etnias, sobretudo canamari, culina, marubo, matsé, matis, corubo e tsohom djapá.

Várias pistas clandestinas na reserva vinham servindo de suporte para invasões de madeireiras, inclusive algumas oriundas do Peru, e por traficantes de drogas.

Estima-se que em todo o País existam mais de mil pistas de pouso clandestinas, mais de 60% delas espalhadas na Amazônia.

O programa de erradicação de aeroportos ilegais fez o narcotráfico alterar suas rotas e se expor mais à repressão policial.

Situação crítica

No Vale do Javari, o número de vítimas fatais das epidemias de malária e hepatite pulou de 30 casos em 2005 para 39 em 2006 e mais de 50 no ano passado, um crescimento de cerca de 60% em dois anos, conforme os dados da Funasa.

No início do ano, cerca de 500 índios da região atravessaram a fronteira para buscar atendimento médico no Peru contra malária e hepatite. Segundo o Conselho Indígena do Vale do Javari, o socorro médico aos índios é precário.

OESP, 23/01/2008, Nacional, p. A10

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