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Piscicultura chega às terras indígenas

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Antonio Viegas
31 de Mar de 2003

ALTERNATIVAS - Com apoio da prefeitura foram construídos quatro tanques e produção servirá para alimentação dos índios e como opção para melhorar a renda

Tendo como objetivos aproveitar e conservar os mananciais de água existentes na reserva indígena de Dourados, oferecer opção de alimentação rica em proteínas aos índios e, ainda, proporcionar alternativas para geração de renda às populações locais, a Secretaria Municipal de Agricultura, em parceria com o Idaterra, construiu nas duas aldeias que compõem a reserva quatro tanques para piscicultura. A primeira safra deve acabar no próximo mês de agosto e a manutenção ainda está a cargo do município. A intenção, entretanto, é de, a partir daí, deixar que a própria comunidade se encarregue dos manejos e produção.
Os indígenas, mesmo resistindo no início, já estão apostando na nova atividade dentro da aldeia. Trata-se, porém, de uma novidade entre os índios locais, já que tanto a pesca como a caça já não fazem parte das atividades deles por falta de mata e córregos nas proximidades. O projeto da prefeitura permitiu a construção, até agora, desses quatro tanques, onde foram colocados cerca de 10 mil alevinos de pacu e curimbatá, mas a intenção é ampliar o número de tanques.
O secretário de Agricultura, Huberto Noroeste dos Santos Paschoalik, explicou que para cada tanque foram organizados grupos familiares que estão encarregados da manutenção e, consequentemente, serão beneficiados diretamente. Esse número ainda não atinge toda a aldeia, mas nos próximos dias o município inicia a construção de mais três tanques. De acordo com o secretário, os primeiros fazem parte de um projeto piloto e, se a iniciativa atingir os objetivos, essa atividade será ampliada.
Para os indígenas que já estão dentro do projeto, a expectativa é muito grande. Alguns deles chegaram a pensar em instalar um pesque-pague, mas na realidade não seria esse o objetivo. Jorge de Souza, responsável por um dos grupos, comentou que o projeto já tem proporcionado grandes resultados. Entre as famílias que compõem seu grupo, só o fato de terem que alimentar diariamente os peixes já está sendo motivo para uma mudança de comportamento. Muitos indígenas passam horas à beira dos tanques para observar e acompanhar o crescimento das espécies.
Segundo Jorge, alguns já querem até mesmo iniciar a pesca, mas os exemplares ainda apresentam peso insuficiente. Outros já imaginam uma grande feira de comercialização na própria aldeia e até mesmo fora. Conforme disse Jorge, a atividade, surpreendeu a comunidade que não acreditava no projeto, e agora a satisfação de seu povo é grande, ao perceber que além de ser uma alternativa alimentar pode se transformar numa fonte de renda.
Outro chefe de grupo, o guarani Renato de Souza, disse que sua comunidade já pensa em solicitar a ampliação dos tanques para que possam comportar um volume maior de peixes. Ele entende que a curto prazo o espaço existente ficará pequeno pelo grande interesse das famílias na atividade. Renato lembrou que participou da elaboração do projeto e conta que foi muito difícil convencer o índio a integrar a piscicultura. Hoje a mentalidade é outra e eles já pensam em meios de adquirir novos alevinos para que possam manter a pesca não só em período de safra.
A demonstração de que a atividade pode ter resultados positivos já é observada na preocupação das famílias com a questão ambiental e com qualidade da água dos tanques. Eles temem que os peixes possam morrer e já buscam orientação junto à prefeitura para garantir que isso não venha a acontecer. O secretário Paschoalik disse que a prefeitura tomou todos os cuidados nessa área, mas destacou que essa preocupação dos índios é um ponto altamente positivo para o sucesso do projeto.

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