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Piracicaba a caminho de se tornar polo nacional de biocombustiveis

GM, Energia, p.A7
16 de Jan de 2004

Piracicaba a caminho de se tornar pólo nacional de biocombustíveis
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina hoje no Salão Nobre da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP) um protocolo de intenções cujo objetivo é tornar a cidade de Piracicaba, município distante 150 quilômetros de São Paulo, o Pólo Nacional de Biocombustíveis. A região já é conhecida como pólo sucroalcooleiro, centraliza boa parte da produção de açúcar e álcool do Sudeste brasileiro, além de abrigar uma importante base da indústria metal-mecânica. O passo tem relevância histórica. Pretende dotar o Brasil de condições competitivas para uma situação inevitável: o esgotamento mundial do combustível fóssil, cujas reservas provadas indicam aproximadamente mais quatro décadas de exploração.
A carta de princípios prevê, entre outras coisas, a prerrogativa do pólo na definição de estratégias para pesquisas com vários tipos de biomassa, como madeira, girassol, milho, amendoim, mamona, soja, gordura animal, carvão e a própria cana, produto no qual o Brasil já detém liderança tecnológica e de produção. Mas a idéia, que surgiu em meados de 2003, durante a visita do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues à cidade, será lançada ainda sem lastros.
A única definição é a decisão de entregar à Esalq toda a coordenação do projeto. "Vamos aguardar os pronunciamentos do ministro e do presidente Lula para sabermos se haverá algum detalhamento do projeto", aguarda José Roberto Postali Parra, diretor da Esalq. Por enquanto, a presença do presidente é o único aval de que a idéia se concretizará. Outro aspecto que reforça o projeto é a larga experiência da Esalq em pesquisa dentro do setor sucroalcooleiro. Mas a inovação do Pólo não está aí. A proposta, incluída no pré-projeto - apresentado em outubro ao presidente Lula -, é a de unificar em Piracicaba todo o esforço de pesquisa para geração de nova tecnologia orientada à produção de combustível renovável.
Neste aspecto, o problema atual é a dispersão. Não existe uma coordenação estratégica, o que sugere que o Brasil pode estar investindo em projetos pouco viáveis ou sonegando recursos a outros com grande potencial. Até para evitar ênfase excessiva na cana, o espectro de atuação do pólo será vasto: irá do álcool de cana à geração de tecnologia para a criação de um combustível de gordura animal ou derivada do leite.
O aspecto positivo do pólo é centralizar num único lugar a definição das estratégias do País no campo da energia renovável. A questão central vem posteriormente. Ao reivindicar a condição de centro decisório e gestor da Política Nacional de Biocombustíveis - que já existe -, o pólo terá, e esta é a expectativa da Esalq, de ter algum orçamento para conseguir efetividade. A primeira condição, segundo o diretor da Esalq, é a criação de uma sede. Para isso, a Esalq sugere a construção do prédio na Fazenda Experimental Areão.
A segunda é atrelar à iniciativa recursos para financiar projetos de pesquisa. Ainda não está claro se a estrutura terá poder de indicar os projetos que serão financiados. Também não está claro se qualquer projeto em biocombustível terá de ter o aval do pólo antes de receber o dinheiro. O pólo nacional não funcionaria como uma agência de fomento, como Capes, CNPq ou Fapesp, mas deve, pelo menos, reivindicar o poder de indicar as diretrizes para o financiamento na área. Poderia estar vinculado ao Fundo Setorial de Energia, já constituído e em pleno uso, mas quanto a isso não há definição.
Segundo Parra, a transformação da idéia de pólo em um pólo de fato depende de algumas decisões legais do governo para efetivá-lo. A expectativa é que a presença do presidente Lula em Piracicaba dê mais clareza quanto a esta necessidade. Talvez a primeira etapa seja a formação da comissão que gerenciará o Pólo Nacional.
De acordo com o diretor da Esalq, a intenção é reunir membros da universidade, do governo e do setor produtivo. Um dos princípios do pólo será o de viabilizar o desenvolvimento científico-tecnológico e permitir que este seja aplicado. Para tanto, é fundamental a participação da iniciativa privada. As empresas serão chamadas a custear projetos de pesquisa.
A reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - instituição cuja existência também influenciou na decisão de trazer o Pólo Nacional de Biocombustíveis para Piracicaba -, tem se pronunciado constantemente sobre a relevância de trazer empresas para o campo da pesquisa. De acordo com Parra, a coordenação do pólo nacional levará em consideração a questão, mas tentará, como princípio, encontrar recursos para fomento também da pesquisa básica. Como idéia, o pólo é importante para o País. Falta ver o que virá depois dos discursos.

kicker: Iniciativa vai centralizar num único lugara definição de estratégias para o setor

GM, 16-18/01/2004, p. A7

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