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PF tem aval para resgatar refens

CB, Brasil, p.15
29 de Abr de 2005

PF tem aval para resgatar reféns
Policiais federais podem agir a qualquer momento na aldeia Flechal (RR), onde há oito dias um delegado e três agentes foram seqüestrados por grupo de macuxi. A operação foi batizada de José do Egito
Matheus Machado
Enviado Especial
A Polícia Federal recebeu autorização do governo para resgatar os quatro policiais federais reféns dos índios macuxi na aldeia Flechal, situada na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A operação de resgate já está pronta. A PF espera apenas o desfecho das negociações, que devem se esgotar ainda hoje. A carta branca do governo para resgatar os policiais já existe. Mas vamos fazer isto em último caso”, disse o diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda.
Ontem, durante a inauguração da nova delegacia da PF em Foz do Iguaçu, no Paraná, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reafirmou que não haverá qualquer recuo do governo federal com relação à homologação das terras indígenas em Roraima.
Segundo a direção da PF, 250 agentes federais estão em prontidão,
esperando apenas o sinal para o início da operação, que até já tem nome. Deverá ser batizada de Operação José do Egito. Um dos 12 filhos de Jacó, patriarca de Israel, José foi jogado num poço seco pelos próprios irmãos. Resgatados por ladrões, acabou vendido como escravo no Egito.
Os investigadores já fizeram um levantamento da aldeia Flechal e descobriram que os policiais reféns estão em poder de cerca de 800 índios. Desses, 300 guerreiros estão armados com flechas e armas de fogo. De acordo com a Polícia Federal, há duas facções de índios na aldeia e uma minoria está sendo insuflada pelos arrozeiros. O resgate, segundo a cúpula da PF, deve acontecer nas próximas horas.
Os índios macuxi que fizeram os quatro policiais reféns serão indiciados pelo crime de cárcere privado. A operação também poderá contar a participação do Exército, que está com mais de mil soldados de prontidão. A decisão de realizar a operação de resgate ganhou força na quarta-feira, depois que os policiais reféns perderam as poucas regalias que tinham dentro da tribo. Eles tiveram as armas apreendidas e foram levados para um local não divulgado no meio da floresta. Um diretor da PF chegou a dizer que se os índios realmente quisessem entregar os policiais já o teriam feito.
Limite
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que o governo vai esgotar o limite das negociações com os índios. É preciso um pouco de paciência. As posições lá são extremadas. Estamos negociando com uma paciência infinita a soltura desses bravos policiais federais que se encontram lá com os índios. Vamos esgotar o limite da negociação”, explicou.
Apesar da declaração, Bastos disse que se os policiais não forem liberados, o governo usará dos meios que dispõe para resgatá-los. É preciso fazer valer o Estado, a ordem. Isso não exclui um espaço de negociação. Mas vai chegar um momento que será esgotado, mas eu acredito que a gente consiga uma solução antes disso. Se não, vamos usar os meios que dispomos.”
Os índios macuxi que fizeram os policiais reféns são contra a homologação das terras da reserva indígena Raposa Serra do Sol por faixa contínua de terras. O ministro, porém, afirmou que a medida é uma grande conquista do povo brasileiro e que o clima de tensão na aldeia não vai mudar os planos do governo. É um fato consumado e absolutamente irreversível. Não vai ser dado nenhum passo para trás”, garantiu.
A crise provocada pela reação dos índios macuxi à homologação da reserva Raposa Serra do Sol não impediu o governador de Roraima, Ottomar Pinto, de viajar pelo país. Hoje é o quarto dia consecutivo que o governador está a milhares de quilômetros do estado, onde três agentes e um delegado da Polícia Federal foram feitos reféns na Aldeia Flechal.
A assessoria do governador explica que nos dois primeiros dias de viagem Pinto esteve em Brasília, conversando sobre o clima de guerra que se instalou em Roraima após a criação da reserva. Ele esteve reunido com parlamentares, ministros e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, nenhuma palavra sobre os compromissos que o governador cumpriu ontem. Assessores se limitiam a informar que ele esteve no interior de São Paulo. Hoje, Pinto viaja para Belém (PA), onde participa do Encontro do Parlamento Amazônico.
Interlocutores do governador informam que a última coisa que ele quer nesse momento é voltar para o estado. Caso estivesse em Roraima, Pinto poderia ser pressionado pelo governo federal a se empenhar para libertar os reféns. O temor dele seria ter que ir até a aldeia e voltar para Boa Vista sem conseguir demover os índios da idéia de manter os policiais sob seu poder. (AC)

CB, 29/04/2005, p. 15

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