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PF reitera não ver indício de crime contra menina ianomâmi em RR; cinzas de comunidade queimada passam por perícia

G1 - https://g1.globo.com
06 de Mai de 2022

PF reitera não ver indício de crime contra menina ianomâmi em RR; cinzas de comunidade queimada passam por perícia
Delegado à frente do caso afirma que, até agora, o que ocorreu foi "um conflito de narrativas". Investigação segue em andamento.

Por Valéria Oliveira e Yara Ramalho
06/05/2022

A Polícia Federal informou nesta sexta-feira (6) que as investigações até o momento levam a crer que não houve crime contra indígenas na comunidade de Aracaçá, na Terra Indígena Yanomami em Roraima. A apuração ainda não foi concluída. Em abril, foi feita uma denúncia de que uma menina havia sido estuprada e morta por garimpeiros ilegais, além de outra criança que teria sido jogada em um rio durante o ataque.
"Posso assegurar que a investigação segue para que esse fato não ocorreu", afirmou o delegado Daniel Ramos, responsável pelo caso, em entrevista à imprensa na superintendência em Roraima.

A polícia ainda aguarda o laudo das cinzas coletadas da cabana encontrada queimada pela equipe que esteve no local após a denúncia vir à tona. O objetivo é saber se no meio das cinzas há algum material orgânico ou biológico.

Segundo a PF, a denúncia surgiu a partir de um mal entendido. O delegado disse que um servidor da Funai estava vendo um vídeo sobre relatório recém-divulgado sobre a situação na Terra Indígena que cita casos de abuso e estupro de mulheres, e uma liderança que estava próxima comentou que esperava que isso não estivesse acontecendo em Aracaçá.

Um segundo indígena, que ouviu a conversa, entrou em contato com uma liderança do movimento, que divulgou a denúncia nacionalmente.

Para chegar a essas conclusões, foram ouvidos, de acordo com a PF, entre outras pessoas, 11 indígenas, sendo nove moradores de Aracaçá, e o servidor da Funai.

"A gente começou a aprofundar a investigação ouvindo os indígenas e as pessoas envolvidas e, para a nossa surpresa, comecei a entender um conflito de narrativas. Então, a gente conseguiu identificar quem eram as pessoas que estavam falando sobre essa denúncia. Quando a gente identificou essas pessoas, ouvi todas e isso eu posso dizer com a certeza do inquérito policial, amanhã é outro dia, estou dizendo sobre hoje com o que tem no inquérito, que foi uma evolução fática com ausência de fatos concretos", disse Ramos.

Embora a PF já tenha essa suspeita de que todo o relato não passou de mal-entendido, o delegado ainda aguarda resultado da perícia feita nas cinzas coletadas na comunidade. O inquérito deve ser concluído em 30 dias.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, que revelou a denúncia, afirmou ter recebido as informações de fontes confiáveis e de lideranças indígenas. Disse também que espera a continuidade das investigações do caso.

"Essa informação eu recebi de uma liderança indígena de confiança da comunidade e também conversei com outras comunidades sobre essas informações. Passaram que sabiam desse acontecimento [estupro e morte de menina] na comunidade de Aracaçá. Por isso, eu fiz o vídeo e o documento relatando", diz o presidente.

Em nota divulgada logo após a coletiva, a Hutukara Associação Yanomami, instituição mais representantiva desse povo, pediu que haja uma "apuração mais ampla e aprofundada do histórico de violências vividas pelos indígenas em Aracaçá por consequência do garimpo ilegal."

A denúncia foi divulgada na noite do dia 25 de abril pelo presidente do Condisi-YY.

Em um vídeo nas suas redes sociais, ele afirmou ter recebido o relato de que uma menina de 12 anos havia sido estuprada e morta durante um ataque de garimpeiros.

Na mesma ação, uma tia, segundo ele, tentou salvar a menina. Na confusão, uma criança, filha dessa tia, caiu no rio e desapareceu. O relato de Hekurari, com base em informações recebidas por ele via rádio de pessoas da região, foi comunicado por meio de ofício para o Ministério Público Federal, Funai e Polícia Federal na manhã seguinte, dia 26.

Durante as investigações em Aracaçá, Hekurari, que estava na equipe integrada por agentes da PF, Funai e MPF, informou, logo que chegou da comunidade a Boa Vista, que não encontrou os indígenas, e uma das cabanas e um local semelhante a um barracão estavam queimados.

Até o momento, não se sabe quem queimou o local. Há uma suspeita de que possam ter sido garimpeiros. No entanto, também podem ter sido os próprios indígenas. Nesta sexta (6), Júnior Hekurari informou que os indígenas foram localizados longe de Aracaçá, alguns deles acompanhados de garimpeiros.

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/05/06/ianomami-entrevista-…

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