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PF poderá investigar morte de ambientalista

O Globo, O País, p. 16
29 de Abr de 2010

PF poderá investigar morte de ambientalista
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados quer federalização do caso

Isabela Martin

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados solicitou ao Ministério da Justiça a federalização das investigações do assassinato do líder comunitário e ambientalista José Maria Filho, de 44 anos, morto há nove dias. O ambientalista lutava, há mais de dez anos, contra a pulverização aérea de agrotóxico nas plantações de fruticultura irrigada na Chapada do Apodi, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.

Autor do ofício que pede a investigação pela Polícia Federal (PF), o deputado federal Chico Alencar (PSOL) alega que o crime foi cometido por motivo social. Para o parlamentar, a execução seria uma mensagem para atemorizer movimentos sociais da região.

A família de Zé Tomé, como era conhecido o líder, assinou uma procuração para que a Rede Nacional de Advogados Populares (Renap) funcione como assistente de acusação. O deputado federal João Alfredo (PSOL), membro da Renap, diz que o pedido feito ao Ministério da Justiça tem amparo legal por se tratar de uma ação contra os direitos humanos, com características de pistolagem.

- Nossa preocupação é que esses interesses locais inflenciem na investigação - disse João Alfredo.

Segundo ele, os primeiros movimentos da polícia local foram lentos, inclusive no que diz respeito a estabelecer um cerco na região para tentar prender criminosos. Procurado ontem, o delegado de Limoeiro do Norte, José Fernandes, estava em audiência.

Zé Tomé presidia a Associação Comunitária São João do Tomé e a Associação dos Desapropriados Sem Terra da Chapada do Apodi. Ele era uma espécie de porta-voz dos agricultores que tiveram terras desapropriadas para o agronegócio.

O crime, no último dia 21, chocou moradores. Lideranças de outros movimentos consideram o assassinato uma tentativa de intimidação e defendem que o caso seja apurado pela PF.
Ambientalista denunciou uso excessivo de agrotóxicos

O ambientalista era autor de denúncias sobre os malefícios do uso excessivo de agrotóxicos. Para divulgá-las, ele usava as rádios locais. Zé Tomé também costumava fazer vigílias no aeroporto de Limoeiro para flagrar aviões pulverizadores de veneno. A região de Jaguaribara e Limoeiro do Norte concentram o maior índice de mortes por câncer do Ceará, segundo a Secretaria de Saúde. O fato despertou atenção da professora doutora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Rigotto, integrante do Núcleo Tramas (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para Sustentabilidade), que faz um acompanhamento do problema naquela região.

Na comunidade de Tomé, as famílias bebiam água retirada dos canais de irrigação que estariam contaminados. Em fevereiro, por decisão da promotoria da cidade, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Limoeiro passou a abastecer o local com carro-pipa. A contaminação por agrotóxico teria afetado parte do lençol freático do município.

Uma lei municipal que proibiu a pulverização aérea de agrotóxico, graças à pressão popular, está prestes a ser revogada por iniciativa da prefeitura da cidade, que está sendo pressionada por empresários do setor.

O padre Júnior Aquino, de Limoeiro do Norte, disse que o desafio será levar adiante a luta do líder comunitário.

O Globo, 29/04/2010, O País, p. 16

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