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PF na Raposa - Senador denuncia 'operação de guerra'

Folha de Boa Vista
13 de Jul de 2007

Senador Mozarildo Cavalcanti: "Não é possível aceitarmos intervenção de guerra do Governo Federal"
A partir do vazamento de informações confidenciais, em pronunciamento no Plenário na tarde de ontem, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) denunciou que a Polícia Federal prepara "verdadeira operação de guerra" para retirar moradores da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) não tenha decidido a ação interposta por moradores de quatro cidades encrustradas na reserva, questionando os decretos assinados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo quer de lá retirá-los à força.

No plenário, o senador leu documento que lhe fora entregue por um policial federal "patriota e nacionalista" contrário à operação. Lá, estão previstos os meios para execução da medida. Entre eles, deslocamento de 500 policiais de outros estados, apoio do Exército e da Aeronáutica, dois helicópteros, balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio.

"Para que essa operação de guerra? Para combater o narcotráfico? Para combater a subversão da ordem em Roraima? Não! É para combater trabalhadores brasileiros que estão lá, produzindo e gerando mais de seis mil empregos diretos e indiretos", atacou.

Segundo o senador, o presidente Lula assinou o decreto de homologação da Raposa Serra do Sol pressionado por ONGs e pela Igreja Católica. Disse que o laudo antropológico foi assinado por poucas pessoas "que se acham colegas de Deus", atestando que a região sempre foi ocupada por algumas etnias.

"Ora, a maioria dos índios que se encontra em Roraima veio do Caribe, fugindo da perseguição dos espanhóis. Vamos tentar fazer exames de DNA para saber se as pessoas que estão sendo expulsas não são indígenas. Lá existe, isto sim, uma população miscigenada", afirmou Mozarildo Cavalcanti em trecho do pronunciamento.

O senador lembrou que a Raposa Serra do Sol foi homologada com 1,7 milhão de hectares. Para ele, se o governo quisesse, teria preservado as quatro cidades e a reserva ainda ficaria com 1,4 milhão de hectares. Destacou que, curiosamente, parte dos indígenas destas cidades é composta por servidores públicos, ocupando funções que vão das mais singelas, passando por policiais e inclusive de representação, como vereadores e prefeito.

Conforme o parlamentar, a reserva é fruto da continuada revisão demarcatória de duas reservas que pelas proporções que ganharam terminaram unidas. "Que fique nos anais do Senado os dados da operação para que todos os brasileiros vejam como o Governo Federal trata as pessoas que trabalham na agricultura e na pecuária, cidadãos de bem, que produzem 25% do PIB do meu Estado", discursou.

Ao concluir o pronunciamento, disse que apresentaria requerimento pedindo que a Mesa Diretora do Senado criasse uma comissão temporária externa, da qual gostaria de fazer parte, para que em caso de a operação ser deflagrada, estivesse presente.

"Afinal não é possível que nós, representantes dos estados e da Federação, aceitemos uma intervenção de guerra pelo Governo Federal - porque envolve órgãos federais. Não acredito que o Exército, que sempre defendeu o povo brasileiro, vá sujar suas mãos com uma operação dessas, muito menos o Comando da Aeronáutica", declarou Mozarildo Cavalcanti.

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