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PF investiga ameaças a dom Pedro Casaldáliga

O Globo, País, p. 15
12 de Dez de 2012

PF investiga ameaças a dom Pedro Casaldáliga
Bispo defende povo xavante em retomada de terra no Mato Grosso

CLEIDE CARVALHO
cleide.carvalho@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO A Polícia Federal abriu inquérito para identificar responsáveis pelas ameaças de sequestro e morte a dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Há três meses, o setor de inteligência da Polícia Civil do Mato Grosso informou o governo federal das ameaças ao bispo, que sempre defendeu o povo xavante na retomada da terra indígena Marãiwatsèdè. A Polícia Federal detectou que a ameaça era real e homens da Força Nacional foram deslocados para a região.
Semana passada, às vésperas do início da retirada dos posseiros, foram feitas ameaças públicas ao bispo. Um homem anunciou num bar que ele "não passaria de uma semana". Populares ouviram, dentro de um ônibus, homens afirmarem que iriam fazer uma "visita" ao bispo. Também o cacique Damião Paradzane, da TI Marãiwatsèdè, está sob ameaça de morte. A área já ocupada pelos cerca de 900 xavantes está sob proteção da Força Nacional e são constantes as informações sobre presença de pistoleiros nas redondezas.
Segundo Paulo Maldos, secretário nacional de Articulação Social, o bispo segue monitorado pela Polícia Federal. Dom Pedro não aceitou ficar sob proteção total da PF, mas seguiu a recomendação de deixar sua residência em São Félix do Araguaia por uns tempos, durante a retirada dos posseiros da terra indígena. A Igreja Católica mantém em segredo o local onde dom Pedro está hospedado. Na última sexta-feira, ao seguir de sua casa até o aeroporto, dom Pedro foi escoltado por veículos da PF. Aos 84 anos, ele está com a saúde fragilizada pela doença de Parkinson. Segundo pessoas próximas, ele está bastante preocupado com a situação.
- É uma covardia inominável. Posto da Mata é um local sem a presença do Estado, uma terra sem lei - disse Maldos, referindo-se ao núcleo de ocupação dos posseiros.
Dom Pedro Casaldáliga assumiu a prelazia de São Félix do Araguaia em 1971 e sempre foi ameaçado por defender índios e trabalhadores rurais. Em 1976, ao verificar uma denúncia de tortura na delegacia do povoado de Ribeirão Bonito, o bispo foi até o local com o padre jesuíta João Bosco Burnier. O padre disse que denunciaria os policiais e foi morto com um tiro na nuca. Dom Pedro não é o único bispo da Igreja Católica em situação de risco. Dom Erwin Klautler, da prelazia de São Félix do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), vive sob proteção policial devido a ameaças de madeireiros e fazendeiros.
A Marãiwatsèdè está inserida em área de conflitos. Em novembro passado, dois trabalhadores foram libertados de uma fazenda no limite da cidade de Confresa com a reserva indígena Urubu Branco, onde eram mantidos em condições análogas à escravidão. O trabalho escravo é denunciado por dom Pedro Casaldáliga desde os anos 70, e o governo do Mato Grosso mantém uma comissão de erradicação do trabalho escravo no estado.
Após o conflito entre policiais e posseiros segunda-feira, a Polícia Federal, a Força Nacional e a Polícia Rodoviária Federal estudam a possibilidade de aumentar o número de homens na desocupação da terra indígena. A expectativa do governo federal, segundo Maldos, é encerrar a retirada dos invasores este mês. Segundo a Polícia Federal, 14 pessoas sofreram ferimentos leves - dez posseiros e quatro integrantes da força-tarefa - no confronto na Fazenda Jordão. Um terço da terra indígena é ocupado por fazendas de políticos e ex-políticos.
Ontem, foi feito um novo bloqueio na BR-158, na altura do município de Água Boa. O primeiro é mantido em Alto Boa Vista e os fazendeiros dizem que farão um terceiro.

O Globo, 12/12/2012, País, p. 15

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