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PF diz que agente vendeu arma a cintas-largas

FSP, Brasil, p.A9
29 de Abr de 2004

PF diz que agente vendeu arma a cintas-largas
Diretor do órgão dá informação a deputados; policial é acusado de contrabando de diamantes e está preso

IURI DANTAS, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agente da Polícia Federal Marcos Aurélio Soares Bonfim, preso desde o mês passado acusado de integrar uma quadrilha de contrabando de diamantes, vendeu, segundo a PF, ao menos uma espingarda e uma escopeta para índios cintas-largas que vivem na reserva Roosevelt, em Rondônia.A informação foi dada ontem pelo diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, em audiência das comissões de Minas e Energia e da Amazônia, na Câmara. Ele se baseou em depoimentos colhidos pela PF na Operação Kimberley. Bonfim e outras 11 pessoas foram presas na ação. Em depoimento, o agente negou as acusações e disse que sobrevive com seu salário.Segundo investigações da PF, os cintas-largas também trocaram diamantes extraídos ilegalmente na reserva por armas em 2003. Lacerda disse que os índios entregaram "rifles e pistolas" à PF em duas ocasiões (24 de março e 1o de abril), ambas anteriores ao confronto que gerou a morte de 29 garimpeiros, ocorrido no dia 7.Os garimpeiros foram encontrados mortos a golpes de tacape, borduna e lança, na área indígena. A perícia preliminar indicou só um ferimento por arma de fogo, na perna de um dos corpos. Até agora, a PF colheu cerca de cem depoimentos no inquérito que apura o massacre. Doze suspeitos também foram identificados.Participaram ainda da audiência pública, o governador de Roraima, Ivo Cassol (PSDB), o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral, Miguel Antonio Cedraz Nery, e o coordenador de Documentação da Funai (Fundação Nacional do Índio), José Apoena Soares de Meireles.A audiência durou cerca de cinco horas, sem interrupção. Muitos deputados defenderam os garimpeiros, cujos líderes de sindicatos estavam presentes. "Hoje, índio no país é sinônimo de preguiça, ócio e obesidade", afirmou Alberto Fraga (PTB-DF).O coordenador da Funai disse que mesmo diferentes, usando carros e telefones, os índios têm direito ao território. "Não queremos de volta o tempo em que o negro volte a ser escravo e o índio volte a andar nu", afirmou.Em alguns momentos, houve bate-boca entre os deputados, uns dizendo que os índios defendiam seu território, outros que a defesa da terra não justifica a chacina. "Não podemos, como parlamentares que juraram sobre a Constituição, defender a entrada de garimpeiros em reservas indígenas. Pelo amor de Deus, não vamos rasgar a Constituição", disse Perpétua Almeida (PC do B-AC).Para o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA), "estamos vivenciando a falência do Estado de Direito. Na Amazônia, estamos a mercê da lei de Talião [olho por olho, dente por dente]." Cassol também defendeu os garimpeiros e criticou os índios e a Funai. "Os índios se acostumaram com mordomia, sombra e água fresca."O coordenador da Funai reconheceu que os garimpeiros são "um problema social", mas frisou que isso não autoriza a extração de diamantes na terra indígena.

FSP, 29/04/2004, p. A9

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