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PF deflagra operação contra esquema de importação ilegal de mercúrio da Guiana para uso em garimpos na Terra Yanomami

G1 RR - g1.globo.com/rr
Autor: Valéria Oliveira
20 de Jun de 2024

Investigação teve início com apreensão de 120 kg de mercúrio em Bonfim, na fronteira com o país vizinho. Metal é altamente nocivo à saúde e ao meio ambiente.

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (19) operação Hg80 para combater um esquema criminoso de importação ilegal de mercúrio da Guiana para o Brasil. A suspeita é que o mercado clandestino operava na fronteira pelo município de Bonfim, no Norte de Roraima, para que o metal altamente tóxico fosse usado em garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami.

As investigações iniciaram após a apreensão de 120 quilos de mercúrio durante operação na fronteira em abril deste ano. À época, o material, dividido em três cilindros, estava em um carro. O motorista fugiu.

A ação desta quinta ocorre no Bonfim, onde são cumpridos dois mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça Federal de Roraima.

Na fronteira com o Brasil, a Guiana é uma das duas portas de entrada de mercúrio ilegal no país. O metal é um dos elementos cruciais para a extração ilegal de ouro na Amazônia, o que inclui a Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

Riscos à saúde

Altamente tóxico, o mercúrio é usado por garimpeiros que atuam ilegalmente na Amazônia durante a exploração de ouro, principalmente em territórios indígenas, como a Terra Yanomami. O metal é utilizado para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo "limpo".

Depois desse processo, o mercúrio é despejado no ambiente e, sem qualquer cuidado, se acumula nos rios e entra na cadeia alimentar por meio da ingestão de água e peixes.

Como consequência, o mercúrio no organismo pode causar graves problemas de saúde que afetam o sistema nervoso (potencial neurotóxico). O metal líquido fica retido no organismo devido à capacidade de bioacumulação. Além disso, a concentração aumenta em cada nível da cadeia alimentar.

Segundo a PF, a operação Hg80 é mais uma de combate ao garimpo na Terra Yanomami, além de atender as decisões judiciais da ADPF 709 que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), e visa garantir segurança e expulsar garimpeiros do território indígena.

Contaminação por mercúrio

Pesquisas desenvolvidas por cientistas que atuam na Amazônia já comprovaram que o uso do mercúrio por garimpeiros ilegais que atuam na Terra Yanomami têm causados graves danos de poluição ao meio ambiente e à saúde humana.

A mais recente, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA), revelou que mulheres Yanomami que vivem próximas a garimpo têm maior déficit cognitivo por contaminação com mercúrio. Além disso, o estudo indicou que 94% dos indígenas que vivem nove comunidades tinham alto nível de contaminação por mercúrio no organismo.

Outro estudo, também da Fiocruz, também identificou que peixes consumidos pela população em seis estados da Amazônia brasileira têm contaminação por mercúrio com concentração do metal 21,3% acima do permitido. Roraima concentrava o maior índice de contaminação: 40% dos peixes analisados possuem índices do metal pesado altamente tóxico superior ao limite recomendado pelas regras sanitárias e de saúde.

No estado, a pesquisa se concentrou em peixes que seriam vendidos para a população na capital Boa Vista. Pesquisadores coletaram 75 peixes de 27 espécies direto de pescadores em quatro rios: Uraricoera, Mucajaí, Branco e Baixo Rio Branco. Entre as espécies analisadas com maior contaminação estão o coroataí, barba chata, piracatinga, filhote e peixe cachorro.

Quatro rios do estado também são impactados pela contaminação: um laudo da PF mostrou que o nível era 8600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano nos rios Couto de Magalhães, Catrimani, Parima e Uraricoera - todos próximos a garimpos ilegais onde os invasores atuavam ilegalmente.

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2024/06/20/pf-deflagra-operacao…

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