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PF captura dentro de um "bunker" comerciante acusado de abusar indígenas em São Gabriel da Cachoeira

Amazônia Real (Manaus - AM) - www.amazoniareal.com.br
Autor: Kátia Brasil
30 de Set de 2015

Essa espécie de esconderijo, que geralmente serve para abrigar fugitivos de guerra ou de desastres, nunca tinha sido encontrada pela polícia na Amazônia brasileira (a foto é da Polícia Federal)

Foi dentro de um "bunker", um esconderijo construído em concreto armado dentro de um armazém em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, que a Polícia Federal e o Exército brasileiro capturaram na manhã de terça-feira (29) o comerciante Marcelo Carneiro Pinto, um dos principais réus do processo criminal que investigou a exploração sexual e abusos contra meninas indígenas. Ele também deixou o cabelo crescer para não ser reconhecido pela polícia.

Marcelo Carneiro Pinto, 55 anos, comerciante do ramo de supermercados, estava foragido desde o dia 30 março deste ano, quando o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) cassou um habeas corpos concedido em decisão monocrática pela desembargadora Encarnação Salgado. A prisão dele foi decretada novamente, mas a Polícia Civil do Amazonas, que fez buscas, não conseguiu prender o acusado.

Em entrevista exclusiva à agência Amazônia Real, o chefe do Posto da Polícia Federal em São Gabriel da Cachoeira, escrivão Frank Botelho, disse que o comerciante Marcelo Carneiro Pinto estava escondido no "bunker" ao menos três meses. Ele foi preso por volta das 6h15 na Operação Cunhantã 2, que contou com a participação de 20 homens do Exército.

"Encontramos o Marcelo dormindo nesse local, uma espécie de 'bunker', escondido dentro do armazém. Ele passou pelo exame de corpo delito e o entregamos na delegacia local (Polícia Civil)", afirmou o disse o chefe da PF em São Gabriel. A polícia não divulgou fotos do esconderijo.

Para localizar o comerciante em São Gabriel da Cachoeira, que fica a 860 quilômetros de Manaus, cidade cercada de floresta e rios, na fronteira com a Colômbia, o chefe do Posto da Polícia Federal disse que foram realizadas diligências de inteligência. Elas constataram que o comerciante estava residindo na cidade, mas o local onde ele estava escondido era incerto.

O escrivão Frank Botelho disse que, no decorrer das investigações da PF, a polícia localizou uma movimentação do comerciante dentro de um armazém, que guarda veículos das empresas do acusado.

"É (o bunker) um local bem espaçoso, onde ele podia desfrutar de internet, televisão a cabo, banheiro amplo. Ele tinha conforto nesse local. Ele tinha a certeza da impunidade. A certeza de que em São Gabriel não estava sob jurisdição legal ou da Justiça", afirmou.

Segundo o chefe da PF em São Gabriel Gabriel, foram as saídas na calada da noite que revelaram o exato local do esconderijo do comerciante.

"Com frequência ele (Marcelo) saía do esconderijo a noite para ter acesso a outros pontos da cidade. Fazia percursos dentro de veículos distintos. Deixou o cabelo crescer para não ser reconhecido. Consideremos esse local uma espécie de bunker porque foi construído exatamente para ele sobreviver sem aparecer de forma ostensiva e administrar suas empresas", disse o escrivão Frank Botelho.

O comerciante Marcelo Carneiro Pinto foi preso pela primeira vez com mais nove pessoas pela Operação Cunhantã da Polícia Federal, em 2013, a pedido do Ministério Público Federal. Na ocasião dois irmãos dele, Arimathéia e Manuel Carneiro Pinto, também foram presos. Os dois continuam cumprindo prisão preventiva em um presídio de Manaus.

Eles são acusados de crimes de estupro de vulnerável, corrupção de menores, favorecimento da prostituição de vulnerável, entre outros. Marcelo tem o agravante de ameaçar de morte testemunhas.

As vítimas dos crimes são meninas indígenas com idades entre 09 anos e 14 anos. Segundo as investigações, os comerciantes trocavam a virgindade delas em troca de dinheiro, presentes, alimentos e bombons. Os casos de violência sexual contra as meninas foram denunciados em 2008 pela missionária católica Giustina Zanato, mas só em 2012 é que o Ministério Público Federal pediu uma investigação da Polícia Federal.

Polícia Civil não confirma transferência

Em entrevista à Amazônia Real, o delegado da Polícia Civil de São Gabriel da Cachoeira, Gustavo Sotero, disse que a prisão de Marcelo Carneiro Pinto foi comunicada à Comarca de Santa Isabel do Rio Negro, responsável pelo processo judicial dos acusados da Operação Cunhantã. Segundo ele, não há data para o acusado ser transferido para Manaus.

O processo criminal do caso está na fase final para a realização do julgamento. A data ainda não foi marcada. Uma audiência foi suspensa justamente por causa da fuga do comerciante. Leia aqui.

"Minha missão é de apenas custodiá-lo. Sobre transferência ou não dele para Manaus, cabe ao juiz decidir", disse o delegado Gustavo Sotero
Segundo o delegado, o comerciante Marcelo Pinto está preso em uma cela com mais três detentos da Delegacia Interativa de Polícia (DIP). A cadeia tem em torno de 50 presos dos regimes fechado e semiaberto.

Também procurado, o escrivão Fábio Nascimento disse que o comerciante recebeu a visita de uma advogada, que é sobrinha dele. A reportagem não conseguiu localizar a advogado do acusado para falar sobre sua prisão.

A Amazônia Real também tentou falar com o juiz de Santa Isabel do Rio Negro, Diego Brum, responsável pelo processo criminal, mas ele está em férias, segundo a Justiça. O processo foi transferido para a Comarca de Santa Isabel do Rio Negro desde que a juíza titular de São Gabriel da Cachoeira, Tânia Granito, se julgou suspeita de julgar o caso. Ela tem parentesco com um dos acusados dos crimes de exploração sexual.

Prisão fortalece garantia de direitos

A notícia da captura do comerciante Marcelo Carneiro Pinto nesta terça-feira (29), provocou manifestações de organizações de direitos humanos e de advogados que defendem os direitos da criança e do adolescente no Amazonas.

Segundo Renato Souto, Conselheiro Nacional de Direitos Humanos, a prisão do comerciante representa o fortalecimento no Sistema de Garantia de Direitos. "Com certeza traz uma sensação de segurança as famílias, vítimas e para sociedade! Ninguém está acima da Lei, Direitos não se negocia, se cumpri!", afirmou o conselheiro.

O advogado Abdalla Sahdo disse que a captura de Marcelo Carneiro Pinto vem de encontro com o interesse público e da sociedade e coloca em cheque decisões em que o próprio meio jurídico contestou. "Faz jus a necessidade de segregar alguém que é tão pernicioso à sociedade", disse. (Colaborou Elaíze Farias)

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