JB, Pais, p.A5
27 de Abr de 2004
PF busca mais corpos de garimpeiros
Até ontem, 29 mortos foram encontrados. Sindicato aponta outros 14 desaparecidos na reserva
MANAUS - A Polícia Federal informou ontem que mantém agentes, desde o dia 8, dentro da reserva indígena Roosevelt, em Rondônia, em busca de corpos de garimpeiros mortos no confronto com índios cintas-largas, dia 7. Desde então, a PF já retirou 29 corpos da área - três no dia 11 e 26 no dia 19. Segundo o sindicalista Celso Fantin, do Sindicato dos Garimpeiros de Espigão d'Oeste (534km de Porto Velho), pelo menos 14 homens ainda estão desaparecidos na reserva.
A PF diz não ter uma lista oficial de garimpeiros desaparecidos.
- Como era um garimpo clandestino, quem tem coragem entra. Não existe essa lista oficial - explicou François René, assessor de imprensa da Polícia Federal.
Ontem, 16 dos 29 corpos retirados da reserva foram enterrados - um em Pimenta Bueno (515km de Porto Velho) e 15, que não foram identificados por familiares, em Espigão d'Oeste. Os demais já haviam sido enterrados. Nos caixões foram anexadas placas com o número do processo da PF, que investiga as mortes.
O sindicalista Celso Fantin disse que o número do processo pode facilitar a identificação futura, já que médicos do IML de Porto Velho recolheram amostras dos corpos e de sangue de pessoas que procuraram parentes desaparecidos para exames de DNA. Cerca de 300 pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram do enterro em Espigão d'Oeste.
Segundo a PF, as buscas na reserva passaram a fazer parte da fase Mamoré da Operação Rondônia - que foi deflagrada no dia 20, com prazo de 180 dias e objetivo de coibir o crime organizado no Estado.
A Polícia Federal afirma que o Exército continua na mata, para ajudar na busca aos corpos. Oito barreiras foram montadas ao redor da reserva. Cerca de 280 agentes de 23 órgãos federais diferentes atuam na área. A operação teve uma fase inicial, de investigação, coordenada pela Agência Brasileira de Inteligência. A última fase será concentrada na fronteira com a Bolívia.
Nos últimos 10 dias, cerca de 70 garimpeiros prestaram depoimento a agentes da PF em Rondônia. A maior parte deles mora em cidades como Espigão D'Oeste, Pimenta Bueno e Cacoal, municípios próximos à reserva indígena Roosevelt.
Segundo o representante da PF no Estado, Marco Aurélio Moura, os depoimentos dos 70 garimpeiros serão úteis na investigação dos assassinatos e das atividades ilegais praticadas na região.
- Vamos interrogar os índios também. Mas ainda não há uma data definida. Estamos planejando onde e como será esse interrogatório - afirma Moura.
Coordenador da força-tarefa enviada pelo governo federal para Rondônia, o delegado Mauro Spósito conta que o Sindicato dos Garimpeiros entregou no final de semana uma lista com nomes dos 12 índios que teriam liderado os assassinatos.
- Estamos com a lista, mas nossa investigação não se restringe a ela. A lista, inclusive, tem nomes repetidos - revela.
JB, 27/04/2004, p. A5
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