OESP, Economia, p. B15
Autor: ROSSETTO, Miguel
18 de Set de 2009
'Petrobrás deve entrar no etanol este ano''
Miguel Rossetto: Presidente da Petrobrás Biocombustível; Segundo Rossetto, empresa deve anunciar ainda em 2009 a entrada no capital de mais de uma usina de álcool
Eduardo Magossi
A Petrobrás Biocombustível deve se transformar em um importante produtor de etanol no Brasil ainda este ano, segundo informação do presidente da empresa, Miguel Rossetto, em entrevista à Agência Estado. Segundo o executivo, a Petrobrás Biocombustível deverá anunciar sua entrada no setor em breve, por meio de participação em mais de uma usina. Mas, segundo ele, a empresa não trabalha com um cenário em que tenha participação majoritária. "Mas queremos ter uma presença forte o suficiente para que a nossa responsabilidade de gestão esteja assegurada", disse. A Brenco é uma das empresas com quem a Petrobrás está conversando, mas Rossetto deixa claro que não é a única. Além disso, a empresa deve inaugurar no ano que vem uma usina para produzir etanol de celulose - ontem, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que a unidade entrará em funcionamento em setembro de 2010, com capacidade de produção de 4 milhões de litros de etanol. Rosseto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, afirmou também que as três usinas de biodiesel da Petrobrás estão operando com capacidade operacional completa. Uma quarta usina a ser construída na Região Norte está em projeto de viabilidade. "Estamos apostando muito na produção de biodiesel feito de dendê, no Pará", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Existe a possibilidade de que a atenção dada pelo governo à descoberta das reservas do pré-sal acabe por afetar a expansão da Petrobrás Biocombustível?
De forma alguma. As estratégias da Petrobrás Biocombustível estão em um plano de negócios que foi aprovado e tem um orçamento de investimentos para o período de 2009 a 2013 de R$ 5 bilhões. Estamos trabalhando na execução desses investimentos com objetivo de produzir etanol e biodiesel, e a descoberta do pré-sal não vai retardar esse processo. Ao mesmo tempo em que o Brasil está melhorando suas reservas de petróleo e se posicionando de forma expressiva no mercado de combustíveis fósseis, também está avançando na agenda estratégica na produção de renováveis. Para isso, vamos investir mais de R$ 1 bilhão em pesquisas nos próximos cinco anos.
Em julho, a Petrobrás Biocombustível completou um ano de existência. Qual é a principal realização da empresa nesse período?
É estar com suas três usinas de biodiesel operando em sua capacidade plena. Atualmente, as usinas de Quixadá (Ceará), Candeias (Bahia) e Montes Claros (Minas Gerais) estão trabalhando com carga total para produzir o volume vendido nos leilões de oferta. No leilão realizado em agosto, que vendeu biodiesel a ser entregue no quarto trimestre do ano, a Petrobrás Biocombustível conseguiu vender sua capacidade máxima autorizada, de 11,28 milhões de litros para cada usina.
Um dos objetivos do programa de biodiesel brasileiro é incentivar a agricultura familiar por meio do cultivo de outras oleaginosas, como girassol, mamona, pinhão manso, entre outros. Como está a utilização dessas oleaginosas pelas usinas da Petrobrás Biocombustível?
A grande maioria de nosso biodiesel é feito com soja. Utilizamos basicamente soja e um pouco de algodão. Estamos em uma fase de certificação tecnológica para as outras oleaginosas e investindo para que a oferta dessas oleaginosas cresça regionalmente tendo como base a agricultura familiar. Já testamos o sebo bovino e estamos testando agora o dendê. As usinas de biodiesel são bastante flexíveis e podem utilizar várias matérias-primas. A soja utilizada em nosso biodiesel vem da agricultura familiar. É natural que a soja seja a principal matéria-prima porque é a mais disponível e tem abastecimento garantido, além de tecnologia e logística totalmente implementadas .
A participação das oleaginosas alternativas na produção de biodiesel vem caindo e a da soja aumentando. Grandes defensores dessas oleaginosas alternativas, como a Brasil Ecodiesel e a Petrobrás, confirmam que estão utilizando basicamente soja. Isto significa que a soja é o futuro para o biodiesel?
Não, de forma alguma. A estratégia para estabilizar biodiesel é a diversificação de matéria-prima. Mas por um longo período a soja ainda vai liderar como principal fonte de produto. Ainda há um longo caminho para o pleno desenvolvimento das outras, que ainda precisam ter uma certificação tecnológica.
Qual a oleaginosa que deve se destacar na produção de biodiesel depois da soja?
Em minha opinião, será o dendê. O dendê deve ocupar o lugar de segunda oleaginosa mais utilizada na produção de biodiesel em um curto espaço de tempo, em função das qualidades que dispõe. Ela vai ser mais utilizada até que o sebo bovino. No médio prazo, temos o pinhão manso que ainda está começando a ser pesquisado. E juntamente com o algodão, girassol e mamona serão as oleaginosas utilizadas até o início de outro estágio tecnológico, quando entrarão no mercado o biodiesel de algas, microalgas e outras matérias-primas.
Diferentemente da soja,que já possui garantia de oferta, a produção das demais oleaginosas, principalmente por estar ligada a estruturas familiares, ainda precisa ser melhor organizada e administrada, não? A Petrobrás tem algum projeto nesse sentido?
Estamos trabalhando nisso. Estamos concluindo a primeira fase da implementação de uma política de compra com contratos de cinco anos de duração. Dessa forma, o produtor tem a garantia de ser fornecedor da Petrobrás por esse prazo. Isso está sendo feito para todas as oleaginosas, principalmente soja, girassol, macaúba e algodão. Num prazo de três anos, a expectativa é de que a participação da matéria-prima regional e familiar aumente de forma expressiva. Além disso estamos levando o cooperativismo para o Nordeste.
Como assim?
A agricultura familiar tem grande presença nos Estados do sul, onde a cultura do cooperativismo é histórica, além da vocação da região para pequenos produtores. Estamos fazendo um grande esforço para levar essa cultura para as regiões semiáridas do País, onde não existe uma ideia de cooperativa arraigada.
E a entrada da Petrobrás Biocombustível na produção de etanol, quando será?
Provavelmente ainda em 2009. Estamos estudando várias possibilidades, tanto novos projetos como usinas já existentes. O que está orientando a decisão final é, também aqui, a qualidade econômica, ambiental e social dos investimentos.
A negociação com a Brenco está mais adiantada que as demais?
Não, a Brenco é apenas uma das empresas com quem estávamos conversando. E nada impede que a Petrobrás Biocombustível anuncie sua entrada na produção de etanol com mais de uma usina. Não procuramos uma dispersão exagerada nem uma concentração perigosa.
Vocês pretendem adquirir uma usina?
Não. Queremos ter uma participação minoritária. Não trabalhamos com cenário de capital estatal majoritário nessas empresas. Mas queremos ter uma presença societária forte que assegure nossa participação efetiva na responsabilidade de gestão. E queremos estar presentes em companhias importantes, que tenham representatividade dentro do setor.
OESP, 18/09/2009, Economia, p. B15
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