VOLTAR

Pesquisadores reproduzem em laboratório a terra preta de índio

Jornal O povo https://www.opovo.com.br/jornal/
Autor: LíVIA PRISCILLA
28 de Mai de 2018

Na tentativa de aumentar a fertilidade e a capacidade de retenção de água de solos cearenses, pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Materiais Funcionais Avançados (LaMFA), vinculado ao Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), vem reproduzindo nos solos do Ceará as terras pretas encontradas na Amazônia, caracterizadas por conter partículas de carvão.

Utilizando biomassa, materiais ricos em matéria orgânica de origem vegetal ou animal, os pesquisadores incorporam ao solo carvões que sejam, na estrutura e na composição, semelhantes aos encontrados nas terras pretas. A carbonização hidrotérmica, metodologia utilizada pelos pesquisadores, substitui a queima convencional da biomassa, fazendo a reação em reator fechado e dando maior controle sobre a composição do carvão gerado.

"Como estou fazendo uma reação química, eu já posso colocar os aditivos, os macro e os micronutrientes juntos e aí eu gero um carvão que já está com fertilizante junto", detalha o coordenador do LaMFA, professor Odair Ferreira. Usar esse tipo de carvão possibilita recuperar o solo, aumentando sua eficiência. Segundo o professor, como alguns tipos de solos cearenses são arenosos, mesmo em áreas irrigadas a eficiência da água é baixa porque os solos retêm pouca água.

Em trabalhos realizados em outras regiões do País com solos com características semelhantes aos cearenses, foi observado o aumento da eficiência de retenção de água ao adicionar pequenas quantidades de carvão. No Ceará, a ideia é integrar o que é gerado de biomassa como subproduto do agronegócio, como resíduos de frutas e coco, e produzir carvões a partir disso.

O pesquisador explica que utilizar matéria-prima envolvida em uma cadeia produtiva minimiza custos. "Não compete com a produção de alimentos porque não precisa gerar terra nova para produzir matéria-prima". Além disso, usar subprodutos que poderiam ser descartados auxilia no gerenciamento de resíduos.

A pesquisa realizada desde 2013 ainda está em escala laboratorial.

Conforme o professor Odair, em termos tecnológicos, é possível aumentar a escala, pois existe tecnologia no mercado para isso. Ele acrescenta, no entanto, a necessidade de investigar a viabilidade econômica. "A princípio, são tecnologias de baixo custo, mas eu acho que tem viabilidade agrícola pelo tanto de fertilizante que a gente gasta e pelo benefício que ele pode gerar".

O professor aponta que o custo ainda pode ser amortizado pelo fato de que a técnica aumenta a retenção de água do solo, gerando uma economia hídrica de até 30%. Nos primeiros testes feitos, a retenção é de aproximadamente 50 gramas de água por grama de carbono, mas isso vai depender da quantidade e da distribuição do carbono no solo.

"Há tecnologias melhores para retenção de água como o hidrogel, mas ele tem um custo mais elevado e estamos falando de uma região que precisa de alta tecnologia, mas de baixo custo, que acredito que a gente tenha por causa da cadeia produtiva envolvida", complementa.

Apesar do interesse em ampliar a aplicação do método, ainda é necessário concluir experiências. Ao longo da pesquisa, os especialistas também estão avaliando benefícios e desvantagens do método, considerando especificidades de cada cultura, efeitos da degradação desse material no solo, os tipos de resíduos gerados e a possibilidade de gerar substância tóxica, bem como se há prejuízo à germinação de sementes, das mais às menos sensíveis.

As próximas etapas do estudo são os testes com as plantas, entendendo os benefícios para diferentes culturas; compreendendo os mecanismos de retenção de água e como isso pode ser manipulado para aumento da eficiência; percebendo mecanismos de adsorção de nutrientes e como funciona a decomposição no solo.

Também participam da pesquisa o professor Amauri Jardim de Paula, do Departamento de Física da UFC, e os professores Altair Benedito Moreira e Márcia Cristina Bisinoti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Campus Rio Preto.

O LaMFA atua ainda na linha de combustíveis sólidos e de adsorventes magnéticos, considerando a capacidade que o carvão tem de reter pesticidas e herbicidas, evitando o contato destes com o lençol freático e desenvolvendo adsorventes para tratar efluentes industriais.

https://www.opovo.com.br/jornal/cienciaesaude/2018/05/pesquisadores-rep…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.