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Pesquisadores da UFRPE tentam salvar manguezal em Fernando de Noronha

ICMBio - www.icmbio.gov.br
Autor: Carla Lisboa
01 de Jul de 2009

Uma estrada e uma barragem estão levando o Manguezal de Sueste, em Fernando de Noronha, à extinção. Único mangue oceânico do Atlântico sul e com pouco mais de um hectare, esse ecossistema precisa das águas das chuvas e do contato natural com o mar para existir. As águas que o alimentam, sobretudo as da chuva, foram represadas e, por falta de água, o manguezal desaparece lentamente.

De um lado, a Barragem do açude Xaréu, que abastece o arquipélago, e uma estrada que dá acesso à praia de Atalaia retiraram do manguezal o acesso à água doce oriunda do Riacho Maceió, por outro, uma duna formada na praia de Sueste fechou a ligação do mangue com o ambiente marinho. A situação é tão grave que o mangue entrou em extinção. Considerado relíquia científica e ecológica da humanidade, a vegetação tornou-se o foco de um estudo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Pesquisadores da universidade vão produzir um diagnóstico ambiental do manguezal antes que ele desapareça completamente. Eles pretendem estudar a produtividade do ecossistema, a qualidade da água e do solo, o clima e a fauna do local, bem como elaborar um perfil topográfico praial e promover o acompanhamento das dunas. Para isso, seguem uma metodologia que visa a identificar os impactos naturais e os causados pelos moradores.

Responsável pelo projeto, a pesquisadora Carla Danielle coleta amostras da água a cada dois meses, durante as quatro estações, a fim de realizar uma análise química do mineral. Ela vai coletar também peixes, crustáceos, moluscos e amostras da microfauna e da microflora aquáticas para identificação da composição da fauna do mangue. A extinção do mangue pode levar várias espécies de animais ao desaparecimento, desde invertebrados das 15 espécies que vivem no local até populações das dez espécies de aves que tem o manguezal como moradia, dentre eles o socó, a garça e o arribaçã.

Considerado uma relíquia científica por ser um ecossistema ímpar no Atlântico Sul e muito pouco estudado, o Manguezal de Sueste é uma raridade ecológica por apresentar entre suas características uma única espécie de mangue: o mangue branco ou manso, cujo nome científico é Laguncularia racemosa. "É o único bosque de mangue oceânico do Atlântico Sul. Os outros manguezais brasileiros apresentam, geralmente, de três a sete espécies de mangue. Além disso, o bosque de mangue de Fernando de Noronha não tem contato com o ambiente marinho constantemente, como ocorre com os outros manguezais do Brasil. Ele passa a maior parte do ano completamente isolado do mar, rodeado por dunas", esclarece a pesquisadora.

Ainda não se conhece a origem desse bosque de mangue, nem como as sementes chegaram lá, menos ainda como e por quê apenas essa espécie de mangue conseguiu se adaptar e sobreviver em Fernando de Noronha. O que se sabe é que o arquipélago tem pequenas bacias hidrográficas, as quais têm reduzida capacidade de retenção de água, e um clima com acentuada estiagem que permitem a existência de riachos temporários, tais como o Riacho Mulungú, na Praia do Cachorro; Córrego de Atalaia, na Praia de Atalaia; e Riacho Maceió, o mais importante e também o principal responsável pelo abastecimento do Manguezal do Sueste.

De acordo com a pesquisadora, a microbacia do Riacho Maceió sofre influência negativa por causa da ação humana. "Podemos citar a construção do açude do Xaréu, que provocou a redução do abastecimento de água doce proveniente da chuva que seguia para o riacho e depois para o mangue, bem como uma estrada que impede a passagem da água para o Riacho Maceió, evitando o abastecimento do manguezal", explica Carla Danielli.

Na avaliação da analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, Rossana Santana, o estudo, que começou em setembro do ano passado, vai prover a equipe da unidade de conservação de subsídios que vão servir para programar o monitoramento adequado para conservação da área. Ela disse que o manejo da área também só vai ocorrer depois que os pesquisadores concluírem o diagnóstico. Atualmente, um fiscal da unidade está no local, não só para fiscalizar, mas também para informar aos turistas da proibição de se entrar no mangue e da importância de preservá-lo.

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