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Pesquisa conclui que 75% da população de Santarém tem níveis de mercúrio acima do aceitável

O Globo - https://oglobo.globo.com
Autor: Lucas Altino
27 de Mar de 2022

Principal causa é o garimpo, que ocorre de maneira predatória ao longo do Rio Tapajós

Em meio ao aumento de garimpos ilegais na região do Tapajós, uma pesquisa concluiu que 75,6% da população de Santarém possui níveis de mercúrio, no corpo, acima do limite de segurança, de 10 microgramas por litro, estabelecido pela OMS. O estudo, conduzido pelo Lepimol (Laboratório de Epidemiologia Molecular) da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o WWF-Brasil analisou 203 moradores da área urbana e 259 de comunidades ribeirinhas, e o resultado foi publicado na revista científica "International Journal of Environmental Research and Public Health".

Em janeiro, imagens aéreas do Rio Tapajós chamaram a atenção ao mostrarem a cor escura daquelas águas conhecidas como "caribe brasileiro". Perícias, do MapBiomas e da Polícia Federal, feitas na sequência, apontaram para a influência do garimpo para a turbidez. Apesar da maioria dos garimpos existentes ficarem a quilômetros de distância de Santarém - no médio e no alto do Tapajós - os sedimentos das atividades conseguem chegar até a cidade, fato corroborado agora pela pesquisa da exposição do povo.

Uma das autoras do artigo, a pesquisadora Heloísa do Nascimento de Moura, da Ufopa, explica que há duas vias de contaminação de mercúrio: pela exposição no ambiente de trabalho, normalmente o que acomete os trabalhadores do próprio garimpo; e a exposição ambiental, através do consumo frequente de peixes contaminados.

- Não falamos em contaminação, e sim em exposição. Pois não existe uma "doença" presente naqueles que tem níveis de Hg acima do recomendado pela OMS, e sim a presença de sintomas. Os níveis de Hg observados na pesquisa são referentes a uma exposição crônica. Temos um conjunto de fatores que afetam o Rio Tapajós e, consequentemente, as pessoas que vivem às suas margens - afirma Heloisa, que admite ser provável que os níveis de exposição estejam maiores hoje, já que a pesquisa durou até 2019.

Em relação a recomendações para mitigar a exposição, a pesquisadora cita a necessidade de mudança dos hábitos alimentares, dando preferência a peixes menores, que acumulem menos mercúrio, e à ingestão de alimentos antioxidantes e frutas.

- Já a curto prazo, podemos minimizar os efeitos da exposição para a saúde, reconhecendo que é um problema de saúde pública e que é necessário implementar protocolos de manejo clínico da exposição mercurial na atenção básica e na atenção especializada, visto a variedade de sintomas, sendo alguns bem graves.

A prevalência da exposição de mercúrio, segundo a pesquisa, foi maior na população ribeirinha (90%) do que naquelas que vivem em áreas urbanas (57,1%), provavelmente pela maior interação com o rio. No corpo humano, a alta concentração de mercúrio pode causar danos principalmente ao sistema nervoso central. O fígado, os rins, os sistemas cardiovascular, gastrointestinal e imunológico também podem ser prejudicados. Outra preocupação grave é com gestantes, pelo risco de malformações congênitas em recém-nascidos.

Morador diz que "já se suspeitava" do resultado

Coordenador do Projeto Saúde e Alegria, que presta apoio médico e social a comunidades ribeirinhas de Santarém, Caetano Scannavino explica que a pesquisa "infelizmente constatou o que já se suspeitava".

- A notícia, de certa maneira, assusta. Mas se queremos ter um Tapajós vivo, limpo, com atividades econômicas lícitas, dá tempo ainda de reverter a situação - disse Scannavino, que cobra fiscalização contínua das autoridades, além de valorização de alternativas econômicas sustentáveis para a população, como ecoturismo e a extração de cacau e açaí.

- Já são mais de 50 anos de exploração de ouro nessa região, e vemos que as riquezas são extraídas e só quem se dá bem é o pessoal de fora, enquanto as cidades continuam sem serviços públicos básicos de qualidade. Então por que insistir nesse modelo predatório? Não faz sentido.

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