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Peruanos causam prejuízo a índios

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
22 de Dez de 2004

Índios Ashaninkas perderam mais de 25 milhões de dólares em mogno retirado ilegalmente de suas reservas

Utilizando helicópteros para localizar montes de toras de mogno derrubados ilegalmente por madeireiros peruanos, soldados do Exército, acompanhados por Policiais Federais, já teriam destruído pelo menos cinco mil metros cúbicos de madeira. No mercado internacional, onde um metro cúbico de mogno pode custar mais de cinco mil dólares, isso significaria um prejuízo de mais de 25 milhões de dólares.

"Eles estão usando bombas para destruir as toras", explica o cacique Antônio Pinhanta Ashaninka, o líder dos moradores da Terra Indígena Ashaninka do Amônia.

A aldeia de Apywtxa, no município de Marechal Thaumaturgo, cujas terras terras são muito ricas em mogno, vem sendo sistematicamente invadida por madeireiros brasileiros e peruanos, desde o início da década de 90. Todos percebem que a situação está piorando cada vez mais.

Postado junto a um monte de pranchas de mogno deixados por um helicóptero do Exército que baixou no campo de futebol da aldeia há pouco mais de uma semana, Antônio Pinhanta lamenta o fim que está sendo dado a essa madeira mundialmente cobiçada e cuja exploração, ao invés de promover a melhoria das condições de vida a seu povo, traz insegurança e risco de morte.

"Os madeireiros nunca vieram até aqui na aldeia, mas hoje daqui nós já podemos ouvir o som das motosseras derrubando árvores na mata. Eles acampam na beira do rio e quando alguém passa por lá avisam que vão matar quem tentar impedir a retirada da madeira", denuncia o cacique.

O pouco do helicóptero do exército deixou os índios ainda mais tristes e inseguros. "Eles vieram deixar essa madeira e explicaram que explodiram as toras que encontraram, mas isso não adianta porque a madeira não é dos invasores, quando alguém destrói uma tora, eles vão derrubar outras árvores".

O lamento do chefe vem antes de ele esclarecer quando estiveram na aldeia os homens do Exército e agentes federais explicaram que estavam indo embora e só voltariam novamente em fevereiro. "Os soldados vão embora, mas os madeireiros continuam aí, agora deram para avisar o pessoal de que vão matar as lideranças da aldeia. Nosso rádio está quebrado há mais de um mês, o telefone também está parado, a única coisa que ainda funciona é a internet. A gente não sabe o que vai acontecer se eles atacarem a aldeia", desabafou.

Utilizando o helicóptero, os soldados foram até o marco 42 da fronteira, um dos pontos pelo qual os madeireiros peruanos entram na área indígena utilizando o rio Amoninha para retirar as toras. "Agora eles estão limpando os caminhos lá na área onde a gente prendeu três invasores no ano passado. Neste ano o Exército prendeu umas 30 pessoas que estão lá em Cruzeiro do Sul, mas quando tiram um grupo, outros entram, porque todos querem roubar nossa madeira."

Além de destruir milhões de dólares em madeira de alto valor comercial, o problema que mais afeta os índios ashaninka é que a área invadida é justamente a que eles destinaram ao manejo da caça necessária à sua alimentação. Os madeireiros trazem mateiros que matam grande quantidade de animais para manter seus acampamentos, como também para vender a carne e peles no Peru. "O maior problema é que com o barulho das motosserras e das armas os animais estão desaparecendo da área e está ficando cada vez mais difícil conseguir comida para nossa gente", afirma Antônio Pinhanta, cuja aldeia é composta por mais de 300 pessoas que retiram da floresta boa parte de seu sustento.

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