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Pelotões garantem segurança

A Crítica, Brasil, p. A10
18 de Jan de 2004

Pelotões garantem segurança
Comunidades sentem falta da presença de órgãos que podem contribuir com a qualidade de vida deles em meio aos pelotões

As lideranças indígenas e comunitárias do Alto Rio Negro, no noroeste do Amazonas, avaliam que os sete Pelotões Especiais de Fronteira equipados pelo projeto Calha Norte garantem a segurança na região, mas ainda não contribuem para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento das localidades situadas nos 1500 quilômetros de divisa com a Colômbia e a Venezuela. A proposta do governo previa a atuação, nestes centros isolados na selva, de representantes de órgãos diversos, como Polícia Federal, Fundação Nacional do índio (Funai), Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e bancos oficiais.
Na prática, apenas os militares foram deslocados para os pelotões, que contam com pistas para pouso e decolagem, residências e aparelhos de comunicação. 0 Exército mantém um efetivo de 1.058 homens na região do Alto Rio Negro, também conhecida por "Cabeça de Cachorro". A Polícia Federal só atua no pelotão de Cucuí. A Secretaria de Educação do Amazonas também não ocupa todas os espaços disponibilizados pelo Calha Norte. Dos sete centros, quatro possuem escolas para as comunidades indígenas. Enquanto que a Funai esta"presente em apenas três núcleos.
"A presença do Exército na região trouxe segurança na fronteira, mas os espaços construídos para outros órgãos estão vazios reclama o diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Domingos Barreto Tucano. A entidade representa 50 associações de 700 comunidades indígenas. "Os soldados jogam pingue-pongue em salas vazias que deveriam ser utilizadas pela Polícia Federal." Ele afirma ma que o Exército também precisa ouvir as comunidades ao construir novos pelotões.
Desrespeito
Uma boa parte das instalações e pistas de pouso no Alto Rio Negro, segundo ele, foi construída em áreas sagradas das tribos. 0 líder tucano cita o caso do pelotão de Pari-Cachoeira montado no caminho das roças e do igarapé onde os índios pescam. Domingos Tucano diz que as comunidades também enfrentam problemas com os militares de patentes mais baixas, que nem sempre respeitam as tradições locais.
Cacique baré da comunidade Guia, distante um dia de barco motorizado de Cucuí, Moiséis Alberto Evaristo, 45 anos, reclama que precisa ir até São Gabriel da Cachoeira, dois dias de navegação, para comprar produtos básicos e ir à Funai resolver problemas da tribo. 0 órgão não tem representantes no pelotão de Cucuí. "Lá só tem rancho (comida) e sabão para militar", diz. Evaristo conta que também precisa se deslocar até a cidade para fazer tratamento de coração.
Outro morador da região próxima ao pelotão de Cucuí, o professor indígena Walri Yarumare, 24 anos, diz que, no ano passado, foi tratado por um dentista do pelotão, que visitou a comunidade de Vila Nova, onde mora. Yarumare salientou, no entanto, que essas visitas não são comuns. Mas lembra que, antes da chegada dos militares, guerrilheiros colombianos eram vistos com freqüência perto da aldeia.
Infra-Estrutura
Responsável até a semana passada pelo 5o.Batalhão de Infantaria de Selva, o capitão do Exército André Luiz Dias da Silva afirma que os pelotões dispõem de estrutura para atender outros órgãos de governo. À exceção de Pari-Cachoeira, todos os pelotões especiais têm pistas asfaltadas para pousos e decolagens. Mas ao contrário dos demais, o de Pari-Cachoeira é o único que possui casas de alvenaria. Já no pelotão de Querari, o terceiro instalado na região, as residências foram construídas num ordenamento que lembra uma aldeia circular.
Apesar da falta de convênios na área de saúde, o capitão Dias diz que o Exército mantém em cada centro atendido pelo Calha Norte um médico, um dentista e um laboratorista. Os índios podem utilizar, nos deslocamentos, os aviões que abastecem os pelotões. Além de atuarem nos pelotões, os militares também fazem incursões na selva. No ano passado, o Exército realizou 22 missões no Alto Rio Negro.
Os militares também atuam em parceria com pesquisadores de universidades e centros tecnológicos. A Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, recebe todos ,os meses registros de um aparelho mantido pelo Exército que registra o nível das águas do Rio Negro.

A Crítica, 18/01/2004, Brasil, p. A10

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