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Peixes reabrem debate de manter Serra do Japi

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Autor: José Arnaldo de Oliveira
13 de Mar de 2011

Depois de sete anos desde as primeiras sondagens, em parte com as pernas dentro de riachos da Serra do Japi para fazer coletas, a bióloga Cláudia Eiko Yoshida concluiu seu douturado com um alerta científico: o sistema de proteção da serra precisa ser ajustado para a biota aquática de peixes e invertebrados.

Como outras constatações, a sua pesquisa mostra algo que parece óbvio apenas depois de ser registrado. A maior quantidade de seres que vivem nas águas da serra está nas partes mais baixas. E não seria exagero brincar que os peixes não possuem pernas para escalar as cachoeiras e obstáculos.

"A qualidade das águas tem uma média geral ótima, mas é possível notar uma certa degradação ao se encaminharem para fora das áreas", diz Cláudia, que defendeu a tese de adequação dos indicadores de qualidade ambiental na véspera de Carnaval em Botucatu, na Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Ela lembra que foram registradas 31 espécies de peixes na pesquisa, identificadas pela colega Ana Paula Rios Rolla, mas foram 138 unidades taxionômicas. Em outras palavras, o número de espécies pode ser ampliado se essas unidades assim apontarem em exames.

Vulneráveis / Entre as espécies encontradas, o Neoplecostomus paranensis (um tipo de cascudinho que era conhecido só no rio Paraíba do Sul) e o Pareorhina spn (outro peixinho em análise no Museu de Biologia da USP para confirmar se é ainda não descrito na ciência) já constam na Lista Vermelha do Estado de São Paulo, entre as ameaçadas de extinção.

"A dieta de todos varia entre insetos e detritos de folhas em decomposição", afirma Cláudia.

No caso dos primeiros, as larvas de mosquitinhos são os alimentos mais suculentos. E os animais se adaptam ao clima sazonal, sendo mais numerosos com a oferta de alimento do inverno, quando a floresta solta parte das folhas (por isso é chamada floresta semidecidual).

Para a pesquisadora, a ausência de dados nesse setor de biota aquática também ocorre porque a maioria dos trabalhos é feito na Rebio (Reserva Biológica), com mais altitude, e essa fauna está praticamente fora dessa reserva. E, em alguns casos, também fora da área tombada.

O próximo desafio é achar patrocinador para o mapeamento intensivo desse tipo de ecossistemas em toda a serra.

Sistema de conservação avançou com os anos
Pense o sistema de conservação da Serra do Japi como uma série de círculos na água. Ao centro, pode estar a Rebio (Reserva Biológica Municipal). Depois, a área tombada como Patrimônio Natural Estadual. Em seguida, zonas de amortecimento municipal do Território de Gestão. Finalmente, os municípios inteiros de Jundiaí, Cabreúva e Cajamar como APA estadual (Área de Proteção Ambiental). E, para terminar, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo.

A pesquisa é um peixe que salta fora desse centro, formando novos círculos para propostas de conservação dessa mancha de mata atlântica de importância nacional.

Por um lado, valoriza as zonas de amortecimento criadas em 2004 por Jundiaí na Ermida, Malota e Terra Nova. Mas mostra que ajustes são necessários na revisão dessa parte do Plano Diretor, prevista para este ano.

"Existem espécies que são endêmicas de riachos, ou seja, só existem ali", explica Cláudia.

A pesquisa também colabora com as análises sobre novas unidades de conservação que possam surgir como complemento do sistema atual.

Um exemplo é o estudo de um ou mais parques estaduais, proposta feita já em 2005 pelos pesquisadores Eliana Cardoso-Leite, Maria Inez Pagani, Reinaldo Monteiro e Diana Sarita Hamburger (da própria Unesp e das Faculdades Senac).

Se esse tipo de iniciativa terá a parceria de um consórcio intermunicipal dos três municípios da APA (e mais Pirapora) é o tempo político que vai dizer. Mas o ecossistema pede ações de bom senso.

"A banca de especialistas do exame recomendou que o estudo da interação entre peixes e invertebrados possa ser expandida para incluir mamíferos, aves e répteis. Os anfíbios até surgiram nas coletas, incluindo um anuro (razinha) que era considerada desaparecida nesta parte do país", diz Cláudia para mostrar que ainda há muito a descobrir.

Lugar único no mundo para aranhas sociais
O professor João Vasconcelos Neto, do Instituto de Biologia da Unicamp, conclui o que pode ser a mais importante publicação científica sobre essa área de mata atlântica depois de "História Natural da Serra do Japi", lançado em 1992 e hoje esgotada

Aguardando previsão de editoras para o livro "Um Novo Olhar na Serra do Japi", onde inclui o trabalho de Cláudia, o zoólogo João Vasconcelos Neto orienta diversas pesquisas pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O livro será o segundo grande esforço científico sobre a área. O primeiro, "História Natural da Serra do Japi", foi organizado por Patrícia Morelato e Hermógenes Leitão em,1992 e está esgotado.

"Uma das coisas fantásticas é que a serra é o único lugar do mundo com 6 espécies de aranhas sociais, vivendo em colônias com algum tipo de arbitração", explica sobre as surpresas naturais.

Outras, já conhecidas, são insetos perfeitamente camuflados nas cascas de árvores ou vespas que colocam seus ovos em outros insetos (como as próprias aranhas).

"Temos espécies de samambaias que são relíquias de tempos frios e secos. Uma delas existia apenas na Serra dos Órgãos e está ameaçada de extinção", explica o pesquisador.

Para ele, que é favorável ao estudo de novas unidades de conservação como parques nos municípios que formam a serra, a pesquisa ainda tem muito a descobrir e cita a circulação de vida no "corredor" formado com as serras da Cantareira e Mantiqueira.

"Temos tanto a diversidade de espécies como de habitats e suas conexões. É uma área muito especial", diz.

Demanda deve crescer na Base Ecológica
A Unicamp e a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente discutem a ampliação de técnicos na base para melhora da educação ambiental.

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