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Peixe volta a dar renda no Vale do Ribeira

OESP, Agrícola, p. 4-5
15 de Set de 2010

Peixe volta a dar renda no Vale do Ribeira
Inclusão de pescado na merenda escolar estimula a atividade, que já foi mais lucrativa do que a banana

José Maria Tomazela

Delícias como filé de tilápia ao molho, croquete de tambaqui e almôndega de pacu fazem parte do cardápio das escolas públicas de Jacupiranga, no Vale do Ribeira, região sul do Estado de São Paulo. Além de oferecer às crianças merenda de alto valor nutritivo, a iniciativa da prefeitura desenvolve a piscicultura na região. Segundo a Associação dos Aquicultores do Vale do Ribeira (Aquivale), a retomada é acelerada: 800 produtores, em 15 municípios, mantêm 12 milhões de metros quadrados de tanques para a engorda de tilápias gift e dos chamados peixes redondos originários dos rios amazônicos, principalmente pacus e tambaquis. Este ano, eles vão produzir cerca de 5 mil toneladas de pescado, mas devem chegar a 12 mil toneladas em 2011. "A atividade já ocupa 3.500 pessoas", diz o presidente da Aquivale, Antonio de Pádua Nunes, o Toni.
Em 2011 a associação terá frigorífico próprio para processar o pescado. Para Toni, o frigorífico dará autonomia aos piscicultores, hoje dependentes de frigoríficos privados, e reduzirá custos. "Temos de mandar o peixe para processar numa unidade do Paraná, a um custo de R$ 0,25 o quilo."
Potencial. Em 1996 o Vale do Ribeira liderava a produção estadual de pescado e a piscicultura gerava mais riqueza do que a banana. Depois da crise dos pesqueiros, a atividade quase parou. "Estamos na terceira posição, atrás da banana e da pupunha, mas temos condições de voltar ao topo", diz Toni.
Para o pesquisador Antonio Fernando Leonardo, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), é possível dobrar a produção de pescado sem abrir novos tanques, apenas com o aproveitamento da capacidade ociosa e introdução de tecnologia, como o uso de aeradores. Também é possível aproveitar o potencial hídrico da região para instalar tanques-redes em represas rurais. "Vamos introduzir aqui a tecnologia usada nos lagos de hidrelétricas. Aqui há abundância e qualidade de recursos hídricos, clima favorável, estruturas de criação já instaladas e proximidade com centros consumidores como São Paulo e Curitiba."
Mais renda. A piscicultura é bom negócio sobretudo para o pequeno e médio produtor. A maioria dos piscicultores tem outra atividade e usa a criação de peixes para aumentar a renda. É o caso de Fernando Martinez Peres, dono de uma pousada. Além de explorar o turismo rural e cultivar pupunha, ele tem 13 mil metros quadrados de tanques com tilápia gift. "Devo chegar a 10 toneladas este ano, mas espero dobrar a produção em pouco tempo." Ao preço atual de R$ 3,50 o quilo, o peixe agrega R$ 35 mil à receita bruta anual da propriedade.
Peres cria peixes desde 1994, mas reduziu a atividade com a crise dos pesqueiros de lazer.
Reiniciou há dois anos e, depois de um prejuízo inesperado, planeja crescer e vai instalar aeradores nos tanques. Ele compra os alevinos - filhotes com até 5 centímetros - por R$ 110 o milheiro e os mantém por 60 dias no berçário, um tanque protegido por rede para evitar o ataque de pássaros. Depois, as tilápias vão para tanques de engorda. A média de conversão é de 1,5 quilo de ração para 1 quilo de carne. Ele explica que no Vale do Ribeira a temperatura da água se mantém estável, acima de 16 graus, mesmo no inverno, o que melhora a alimentação das tilápias. "Em outras regiões, quando esfria muito, o peixe para de comer." As tilápias vão para o abate com peso mínimo de 500 gramas.
O presidente da Aquivale especializou-se na criação de peixes redondos e foi o pioneiro na criação de tambaqui na região. Ele é um dos poucos que se dedicam exclusivamente à piscicultura e produz de 40 a 50 toneladas de pacu e tambaqui por ano em 20 mil metros de tanques. Esses peixes vão para o abate com média de 1 quilo. O produtor entrega a produção para restaurantes da região e distribuidores de São Paulo. Na semana passada, o peixe vivo estava cotado em R$ 5 o quilo na propriedade. O ganho líquido chega a 30%.

Os mais criados na região
Tambaqui
Originário da Bacia do Rio Amazonas, o tambaqui é o segundo maior peixe de escamas do Brasil (atrás do pirarucu). Um adulto da espécie pode atingir até 55 quilos. Muito utilizado para criação em tanque-rede, apresenta bom desempenho em regiões mais quentes.
Tilápia
É a espécie de peixe de água doce mais industrializada no Brasil. É um peixe predominantemente de águas quentes - a temperatura da água do cultivo pode variar de 20 a 30 graus - e a linhagem tailandesa é uma das mais procuradas no País para a piscicultura.
Pacu
Junto com o surubim (pintado) e o dourado, é um dos principais peixes esportivos das Bacias do Paraguai e do Prata. Tem carne saborosa e a produção em cativeiro é bem aceita. É um peixe rústico e resistente, com crescimento rápido - pode atingir 1,8 quilo em um ano.
E o robalo?
A tecnologia de criação do nobre peixe foi divulgada pelo Instituto de Pesca, há um ano e meio. O desafio para efetivamente repassar o pacote tecnológico aos interessados, porém, tem sido formular uma ração adequada, que não altere o sabor da carne.

Retomada
800 produtores de peixe, em 15 municípios, abriga hoje o Vale do Ribeira
5 mil t é a produção de pescado estimada para este ano na região. A meta é produzir, em 2011, 12 mil toneladas

OESP, 15/09/2010, Agrícola, p. 4-5

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