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Pegaram o São João pra Cristo

WWF - http://riosaojoao.posterous.com/
31 de Ago de 2010

A impressão que se tem, ao fazer um balanço destes três dias e 120km de
expedição, é que o todo mundo achou por bem prestar sua cota de agressão
ao Rio São João.

O suplício começa logo após a sua nascente, com os velhos
agropecuaristas e suas práticas senis roubando ao rio o direito de
existir e seguir semeando a vida. É assustador constatar que quase
nenhum trecho do São João tem matas ciliares minimamente conservadas
com a feliz exceção do trecho em que ele percorre a Reserva Biológica Poço das Antas.

Sucessivas propriedades no percurso do rio consumiram suas margens,
substituindo as matas que o protegiam por pastos e plantações. Sem a
vegetação, o rio foi invadido por terra, areia e agrotóxicos trazidos
pelas chuvas.

As cidades também cobraram seu butim, despejando sobre as águas do São
João o seu esgoto e represando suas águas para o abastecimento de suas
populações. Esta última é uma função nobre do rio, mas o planejamento
antigo da barragem transformou-a em uma armadilha implacável contra a
biodiversidade do São João.

Ali, não tem escada de peixes, uma forma de garantir a piracema - a
viagem dos peixes às nascentes para a reprodução. Outras espécies foram
afetadas justamente pela enorme área alagada pelo barramento.

Como se fosse pouco, o poder público achou por bem introduzir ali um
peixe carnívoro amazônico. Um predador agressivo mas muito apreciado
que atende pelo nome de Tucunaré.

Tinha uma reta no meio do caminho - Mas as agressões não pararam por aí.
No início dos anos 1970, o governo (militar) decidiu que os infindáveis
e sinuosos meandros do Rio São João não somente eram uma ameaça à saúde das populações locais - pela suposta produção de mosquitos - como eram um desperdício de terras!

Note-se que os mosquitos a que me refiro acima transmitiriam a malária e
e a febre amarela. Ocorre que, em Manaus, por exemplo, nenhum rio
foi "retificado" por conta da malária. E a malária não acontece na cidade, mas em áreas recém-desmatadas...

Mas voltando à bacia do São João:

Como a região é muito plana,estas terras eram úmidas, alagadiças.
Resolveram, portanto, acabar com todo aquele pântano, cortando os
meandros com um canal em linha reta para drenar as áreas inundadas e
abrir caminho para a agricultura, usando o próprio rio como fonte de
água para irrigação.

O "plano" foi estúpido e inútil. Com o caminho liberado, o
mar invade quatro quilômetros do canal, tornando-o imprestável para a
irrigação. Isto jogou os sonhados projetos de agricultura ralo abaixo.

Não há agricultura em redor do rio. O mosquito da dengue - este sim, urbaníssimo - continua fazendo suas vítimas entre as populações. O único resultado concreto desta aventura surreal foi um prejuízo incalculável para a natureza.

Em busca de soluções -- Os parceiros envolvidos na I Expedição de Gestão
e Pesquisa ao Rio São João acreditam em gestão participativa e
na necessidade de ampliar a governança sobre os recursos hídricos.
Estão em busca de soluções. Formam um grupo experimentado e multidisciplinar disposto a reverter (dentro do possível) a situação em que o rio foi envolvido.

Depois da observação in situ, os participantes se reuniram e elaboraram
diversas propostas de ação, dentro de suas especialidades e de suas
instituições de origem. O resultado ainda será tabulado e normatizado, mas renasce a esperança de que as gerações futuras possam usufruir, com sabedoria, de tudo o que o Rio São João é capaz de oferecer.

E ele nos oferece vida.

http://riosaojoao.posterous.com/

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