VOLTAR

Pataxós ocupam mais sete fazendas

A Tarde-Salvador-BA
Autor: LUIZ CONCEIÇÃO
26 de Jan de 2006

Revoltados com a concessão de liminares em favor de fazendeiros,
índios ampliam invasões em Itaju do Colônia

Subiu para oito o número de fazendas ocupadas pelos índios, desde a terça-feira
última, na região das Alegrias, em Itaju do Colônia (a 499
quilômetros de Salvador). São cerca de 400 pataxós hã-hã-hães, com o
apoio de outras etnias pataxós, do sul da Bahia, e tupinambás, da Serra
do Padeiro, entre Una e Buerarema, que se dizem revoltados com a
concessão de liminares em favor dos fazendeiros enquanto a ação em que
pedem a nulidade de títulos se arrasta há 23 anos no Supremo
Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Os pataxós afirmam que também estão reagindo ao cumprimento de
liminar para reintegração de posse dos imóveis Fazenda Alegria e
Conjunto Fazendas Reunidas Alegria, que estaria prevista para hoje. A
liminar foi expedida pelo juiz federal Pedro Calmon Holliday, da Vara
Única de Ilhéus, em 25 de novembro de 2005, em favor da
Agropecuária João Alves de Lima Ltda. O cumprimento dos mandados
ainda não tinha sido feito pelo fato de agentes da Polícia Federal terem
sido mobilizados para a inauguração das novas varas federais, no interior
do Estado.

Um grupo de índios invadiu a Fazenda Alegria, de Ozorino da Silva Santos
Filho. A fazenda de 371 hectares é vizinha a uma das
propriedades reivindicadas judicialmente pela empresa agropecuária, que
aguarda reintegração de posse. Para forçar uma saída negociada, os
líderes pataxós decidiram ampliar as ocupações, o que levou
intranqüilidade aos pecuaristas de Itaju do Colônia, que se sentem
ameaçados em seu patrimônio. Alguns tiros chegaram a ser ouvidos
durante a madrugada.

AGRESSÃO - O ex-prefeito Roberto Pacheco, da Fazenda Rancho Alegre,
estava irritado na Delegacia de Polícia, para onde levou o vaqueiro
Reginaldo Camilo da Cruz, com hematomas no rosto e nas costas. O
homem acusou os índios de tê-lo espancado, fato que será apurado
pela Polícia Federal. Pacheco cobrava do delegado Francesco Denis
Santana, e do capitão PM Valmir, a desocupação do imóvel de sua
família e a prisão dos responsáveis pelas agressões.

O chefe do Escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai), em
Ilhéus, Agnaldo Francisco dos Santos, esteve na barricada montada pelos
pataxós, com toros de madeira e fogueiras, na porteira da
fazenda de Ozorino da Silva Santos Filho, Zezinho da Bateria, que teria
sido expulso, com o motorista, sob intenso disparo de armas de fogo, na
noite de invasão de sua propriedade.

- Estamos falando com Brasília para encontrar uma saída para o
impasse - disse Agnaldo, que estava em companhia do procurador
federal Cláudio Henrique Dias, que não quis falar sobre o problema,
alegando impedimento.

CANSADOS - O cacique Evangelista Bispo dos Santos, Caçulo, 50 anos,
afirmou que sua etnia está cansada das liminares concedidas aos
fazendeiros, daí a decisão de ocupar as fazendas antes da
reintegração de posse judicial das propriedades da empresa. "Durante
esses 23 anos, foram tantos despejos e decepções que minha gente não
agüenta mais e decidiu pressionar o governo Lula", declarou. Outro
cacique, Acaunã Pataxó, 30 anos, disse que a decisão da Justiça
Federal prejudica a luta de seu povo.

Mais politizado, Acaunã fez críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que teria se comprometido a resolver as questões
indígenas, mas esbarrou apenas na demarcação da reserva Raposa/Serra Sol,
em Roraima.

- Os títulos que foram aqui concedidos pelo governo do Estado da
Bahia são ilegítimos. Temos o benefício da lei indígena, que nos
lega a terra, o que precisa ser reconhecido pelo Supremo - resumiu. O
jovem cacique confirmou que pelo menos duas torres de energia do linhão,
que passam nas propriedades, em direção a Eunápolis,
estariam com madeiras na base para ser incendiadas.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.