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A passos de caranguejo

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=82145
Autor: Jessé Souza *
16 de Mar de 2010

Ou nossa memória é muito curta ou somos mesmo cara-de-pau. Refiro-me a Roberto Jefferson, que ficou conhecido como o "deputado que denunciou o mensalão", escândalo que abalou o Brasil pós-PT, depois dele ter se envolvido num esquema de corrupção nos Correios. Em 1993, ele foi citado na CPI do Orçamento como um dos envolvidos. Ele veio a Roraima, no final de semana, e em vez de receber protestos e críticas, foi recebido como alta celebridade.

Para surpresa de poucos, ele não economizou nas palavras para dizer que o mensalão, prática pela qual o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, foi parar detrás das grades, é comum na política. Sua fala não foi em tom de indignação sobre algo podre no reino da política, mas tratado por ele como "normal".

Partindo dele, que conhece o esgoto da política, é para crer que se trata de uma prática recorrente a compra de parlamentares nas Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores por governadores e prefeitos. Não esqueçamos que, em Roraima, tivemos casos semelhantes, como o "escândalo da Codesaima" e o "esquema gafanhoto".

Repetindo o mesmo discurso de políticos locais que fazem parte de seu grupo, Jefferson usou o antigo tom apregoado por aqui, culpando os índios por tudo de ruim que existe em Roraima e tentando impor a culpa à homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Também não é de se estranhar que farinha do mesmo saco incorpore discursos apregoados por seus aliados, mesmo que este discurso seja praticado a quilômetros de distância da grande metrópole, que enfrenta hoje o peso de decisões judiciais por corrupção eleitoral.

Como o próprio "deputado do mensalão" afirmou em entrevista à Rádio Folha, ele sabe que o grande mal do Brasil é a corrupção em todos os níveis, a começar com os mensalões que governadores e prefeitos pagam a parlamentares para que tenham maioria nos legislativos.

Como o presidente da CNBB disse aqui, certa vez, Roraima é terra fértil para a corrupção, frase esta que magoou de "A" a "Z" da política local, com gritos histéricos contra essa frase. Mas, quem entende de bastidores, como Roberto Jefferson, sabe que a corrupção é endêmica no Brasil.

Logo, um dos grandes entraves para o desenvolvimento de Roraima está nos grandes esquemas que foram montados ao longo de governos que instalaram seus tentáculos corruptos por todos os cantos.

Quem conhece o mínimo sobre a política local sabe que esses esquemas minam recursos federais que chegam aos montes para Roraima e faz desaparecer os recursos que o Estado arrecada solapando o contribuinte roraimense, de índios a negros, de brancos aos de sangue azul.

A questão indígena está definida e o tempo provará que essa definição trará frutos bons para todos. O que temos de fazer agora é desratizar o poder estatal, para que os recursos públicos sejam aplicados realmente naquilo que Roraima precisa e nas necessidades mais básicas do cidadão. Enquanto isso não for feito, vamos andar que nem caranguejo e buscando jogar culpa nos mesmos bodes expiatórios.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza - Blog: http://pajuaru.blogspot.com/

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