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Parteira perdeu a vez para hospitais e cesarianas

Agência de Notícias-Florianópolis-SC
14 de Mar de 1999

Com a calma adquirida em 26 anos de prática, Faavéi Priprá Morlo prepara um chá com folha de guabiroba. O banho com a porção serve para relaxar a gestante. Tranquilamente, coloca as luvas e com toques na barriga verifica se a criança já está na posição para o nascimento. Depois de três horas de preparação, nasce mais um bebê pelas mãos da mais antiga parteira da reserva Duque de Caxias. O nascimento ficaria registrado para sempre. Foi o último e com um sabor especial. Nascia, numa tarde de 1981, sua neta, Neiva Morlo.

O fim dos partos em casa, geralmente de cócoras, é mais uma demostração explícita de que a cultura indígena está desaparecendo. O nascimento das crianças, agora, acontece nos hospitais e normalmente de cesariana. Para os mais antigos, é justamente aí que se começa a perder a indetidade indígena.

Hoje com 65 anos, Faavéi Priprá limita-se a curtir a aposentadoria em uma casa, distante da reserva. Ela lembra com satisfação dos tempos em que as índias faziam questão de ter seus filhos em casa. "Dificilmente alguém iria para o hospital. O médio só aparecia por aqui de três em três meses", recorda.

Métodos

"As mulheres, antigamente, tinham mais saúde". Com essa frase, a ex-parteira sintetiza a eficácia dos métodos antigos em comparação com os "modernos". A espera, lembra-se, acontecia de maneira singular. "O corpo da mulher tinha que se movimentar. Era importante para uma boa gestação. Esses novos métodos de pré-natal são muito complicados", diz.

O preconceito dos médicos com as parteiras, na época, chegou a provocar confusões. Eles não confiavam no trabalho e discriminavam os índios. Hoje, a contrário, buscam na parteira lições para melhorar a qualidade de vida das gestantes e nascimento e nascimento das crianças nas cidades. Uma clínica de Curitiba, por exemplo, chegou a chamar Faavéi para ensinar os procedimentos indígenas. "Agora, estão vendo com é importante o nascimento de cócoras", orgulha-se.

A parteira não sabe a quantidade de partos que já realizou. Na última contagem, tinha 700. Hoje, não se importa com os números, mas se orgulha das duas netas, Leila Morlo, 19 anos, e Neiva Morlo, 17, que nasceram pelas de suas mãos. (MAB)

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