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Parque Nacional do Araguaia

E- mail de George Georgiadis
Autor: George Georgiadis
20 de Ago de 2001

Caros colegas:
Estamos trabalhando e realizando pesquisas na região do médio Araguaia desde 1996. Com base nessa experiência, submeto as seguintes considerações sobre a invasão do Parque Nacional do Araguaia:
1) O grupo indígena que invadiu o Parque é bastante aculturado, e utiliza as terras que controla na Ilha do Bananal como pastagens de aluguel, cobrando uma taxa por cabeça de fazendeiros do entorno para atravessar o gado e deixar que paste na Ilha durante os meses de seca, quando as pastagens das fazendas fica escassa. Para ampliar as pastagens ateam fogo à vegetação natural de cerrado, cerradão e floresta inundável. Esses incêndios ao longo dos últimos 30 anos modificaram radicalmente o ecossistema da Ilha do Bananal, causando a substituição em larga escala de formações florestais por campos inundáveis de baixa diversidade florística. O maior remanescente das florestas originais da Ilha é um fragmento de uns 20 mil hectares no extremo norte da Ilha, dentro do Parque Nacional, cuja existência agora esta ameaçada pelos incêndios que certamente serão causados pelos invasores, a partir desta temporada de secas.
2) É notório na região que, além de fazendeiros, traficantes de animais silvestres utilizam a imunidade dos índios para capturar e transportar impunemente suas presas. Entre outros exemplos, os índios da Ilha do Bananal são regularmente flagrados transportando centenas de tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa) entre a Ilha e o vilarejo de Barreira do Campo, estado do Pará, de onde opera um grupo que compra os animais e os revende em Belém. A tartaruga é um dos animais mais ameaçados da Amazônia. Com o estabelecimento dos índios no norte da Ilha, dentro do Parque, novas populações de fauna estarão ameaçadas.
Em resumo, as terras do Parque não estão sendo reivindicadas e invadidas para serem utilizadas de acordo com os costumes indígenas tradicionais, o que geraria ambiguidades juridicas perante nossa legislação e, aos olhos de alguns, justificaria o ato. O objetivo da invasão é explorar com fins comerciais e de forma intensiva e insustentável os recursos naturais da única parte da Ilha do Bananal que ainda tem algo a ser explorado. Os principais beneficiários dessa farsa não são nem os índios, mas os fazendeiros e traficantes que incentivam suas atividades. Convido aos céticos a sobrevoarem comigo as partes da Ilha que os índios já controlam, onde terão a oportunidade de ver algumas das pastagens mais sobre-utilizadas e degradadas do Brasil.
Espero que a IUCN se manifeste formalmente e nos mais altos níveis sobre esse assunto.

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