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Parque na mira da devastação

CB, Cidades, p. 37
06 de Jun de 2009

Parque na mira da devastação

Helena Mader

Área teoricamente destinada a preservação ambiental vira local de despejo de lixo, de desmatamento e até de usuários de drogas
Em meio à riqueza da fauna e da flora do cerrado, uma clareira aberta na vegetação mostra a gravidade da ação do homem. No Parque Ezequias Heringer, mais conhecido como Parque do Guará, uma extensa porção da mata de galeria foi removida e as árvores derrubadas ainda jazem no local, com suas raízes expostas. O crime ambiental é só mais um que se soma à sequência de agressões à unidade de conservação. A expectativa da comunidade do Guará é que a implantação efetiva do parque seja a solução para recuperar a área e colocar um fim aos abusos cometidos na região.
O Parque do Guará tem 306 hectares que escondem raridades do cerrado. O local, por exemplo, é o único a abrigar espécies como o Podocarpus brasiliensis, um tipo de pinheiro que atinge 12m de altura. Ao todo, são 30 nascentes na região e 168 espécies de orquídeas - 65 delas só florescem na área do parque. Mas, como a unidade nunca foi efetivamente implantada, não há guaritas, nem sistema de vigilância. Assim, o cerrado vira abrigo de lixo e entulhos. Caminhões entram na área para descarregar restos de construção e até mesmo centenas de cocos verdes usados.
Na última quarta-feira, o Correio flagrou o desmatamento da mata de galeria que havia sido concluído poucos dias antes. Para chegar ao local, é preciso fazer uma trilha em meio à vegetação, que está tomada por pneus velhos. Além do lixo despejado na região, há traficantes e usuários de drogas.
O presidente da Sociedade de Amigos do Parque do Guará, Adolpho Kesselring, circula pela unidade de conservação diariamente para tentar evitar os abusos. Ele vai procurar a Delegacia do Meio Ambiente para denunciar o desmatamento da área de mata de galeria. "Isso é um absurdo, eles derrubam as árvores e ainda roubam essa terra úmida para vender em saquinhos em feiras e no meio da rua. O nosso parque precisa ser preservado; há várias espécies que só existem aqui", destaca Adolpho.
Criada por lei em 1968, a unidade de conservação nunca saiu do papel. As poucas benfeitorias que existem foram feitas por associações de moradores do Guará, empenhados em proteger a natureza do local.
O administrador do Parque Ezequias Heringer, José Carlos Oliveira, garante que falta pouco para a implantação da unidade. Primeiro, é preciso concluir o plano de manejo - que vai levantar minuciosamente todas as espécies da fauna e da flora existentes no local , além de indicar onde pode haver equipamentos públicos. Uma empresa privada que adotou o parque vai arcar com os custos do estudo. "Há um grande desejo da comunidade do Guará de que o parque vire realidade, com trilhas internas, quadras e equipamentos para a população. Com o fim do plano de manejo, vai ser mais fácil fazer a implantação e acabar com os problemas atuais", destaca José Carlos.

Para Saber Mais
Ezequias Heringer

O ambientalista e patrono do Parque do Guará nasceu em 1905 em Manhuaçu, Minas Gerais. Engenheiro agrônomo, ele foi professor universitário e veio para Brasília em 1960, a convite do presidente Juscelino Kubitschek. Heringer foi um dos pioneiros no estudo do cerrado e,principalmente, das orquídeas da região.
Ezequias trabalhou como professor e diretor da Fazenda Água Limpa, da UnB e foi um dos fundadores do curso de agronomia. Em 1964, ele doou seu herbário particular à Universidade de Brasília e criou uma área experimental para o ensino da biologia básica, chamada de estação experimental da UnB. Grande parte de sua atenção foi dedicada a estudar a área onde hoje existe o Parque do Guará, que leva o seu nome. Ele se encantou com a quantidade de orquídeas na região. Ezequias Heringer morreu em 1987.

Chacareiros querem ficar

O Parque do Guará se transformou em motivo de confronto entre ambientalistas, técnicos do governo e chacareiros que moram no local. Ao todo, 77 famílias vivem dentro da unidade de conservação - algumas há quase 40 anos. Pelo novo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), os ocupantes não podem ficar ali. Ambientalistas acusam
os chacareiros de poluírem o parque. Eles se defendem e garantem que sua permanência é a melhor forma de garantir a preservação e evitar crimes ambientais.
Os ocupantes estão sobre uma área equivalente a cerca de 20% do total do parque. Alguns desenvolvem atividades agrícolas, outros criam animais. Diante das recorrentes tentativas de remoção, o grupo conseguiu, em 2006, uma decisão da Justiça que determina que, em caso de retirada, o governo tem de indenizar os chacareiros pelas benfeitorias realizadas, além de garantir a transferência das famílias para uma outra área de propriedade do GDF.
O administrador do Ezequias Heringer, José Carlos Oliveira, assegura que a permanência dos ocupantes inviabiliza a implantação efetiva do parque. "Sem a saída dos chacareiros, é impossível fazer, por exemplo, trilhas", afirma.

Representantes da Associação dos Chacareiros do Parque do Guará se defendem. "Somos defensores do parque; nos últimos anos já procuramos o Ministério Público do DF e a Seduma para denunciar as agressões ao meio ambiente na região. Queremos mostrar à sociedade que é melhor para o parque que permaneçamos no local", explica o presidente da associação, Marcelo Teixeira.

Conservação agora é lei
Dia Internacional do Meio Ambiente traz ao DF os primeiros planos de manejo próprio para as estações de Águas Emendadas e Jardim Botânico

Pablo Rebello

As estações ambientais do Jardim Botânico e de Águas Emendadas (em Planaltina) ganharam um presente especial no Dia Internacional do Meio Ambiente. Ambas as reservas ecológicas foram agraciadas com planos de manejos próprios, os primeiros a serem elaborados no Distrito Federal. Na prática, os documentos traçam programas de sustentabilidade que ajudarão a manter e definir políticas de conservação nas duas estações. "É como se fosse a constituição de uma estação ecológica. Ele define o que pode ser feito, como pode ser feito e por quem podem ser feitos todos os trabalhos realizados dentro das reservas", simplificou Gustavo Souto Maior, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
Os planos de manejo levaram 18 meses para ser elaborados e custaram aproximadamente R$ 600 mil. Os especialistas em meio ambiente que produziram os documentos estudaram a fundo a fauna e a flora de ambas as reservas, assim como as condições específicas de cada uma. Eles também estiveram em contato com comunidades próximas às estações, visando criar condições de elaborar planos de melhorar a educação ambiental nas duas regiões e até mesmo atrair recursos para as reservas. A criação dos comitês de implantação dos planos de manejo, realizada ontem pelo governador José Roberto Arruda, dará legalidade para ações de proteção à natureza.
O diretor do Jardim Botânico, Jeanito Gentilini, destacou a importância de uma estratégia para a reserva ambiental: "O plano de manejo dá um norte com o qual podemos trabalhar na região protegida do parque. Ele nos dá detalhes de áreas que se encontram degradadas, assim como apresenta aperfeiçoamentos na coleta de dados sobre a fauna e flora que temos". Atualmente, o Jardim Botânico conta com uma área de 500 hectares aberta para visitação e uma reserva ambiental de 4,5 mil hectares. Segundo Jeanito, um espaço será criado na parte que pode ser visitada para passar informações sobre a importância da educação ambiental para os visitantes.
Estratégias
Além dos planos de manejo, o governador José Roberto Arruda anunciou outras novidades que dizem respeito ao meio ambiente. Ele sancionou uma lei que proíbe a queima de lixo, uma das principais causas de incêndios em reservas ecológicas, em todo o Distrito Federal. Anunciou ainda a contratação de 100 servidores públicos qualificados na área de meio ambiente para 26 de julho e assinou um decreto que dá origem à Agenda 21, criada para tratar de assuntos ambientais no DF. E instituiu, finalmente, o comitê de gestão da bacia hidrográfica do Lago Paranoá.
O novo comitê possibilitará a formação de uma política mais definida no que diz respeito ao lago. Segundo Gustavo Souto Maior, ele funcionará como um parlamento formado por membros do governo, da sociedade civil e de organizações não governamentais (ONGs). "Dessa forma, poderemos ter um controle maior sobre o que é construído às margens do lago, assim como regrar as atividades que obtêm algum lucro com a bacia", detalhou. "Trata-se do primeiro comitê dessa natureza no DF, que ainda conta com outras seis bacias: a do São Bartolomeu, do Descoberto, Corumbá, Maranhã, Rio Preto e São Marcos. O ideal era que cada uma tivesse o seu comitê, como ocorre em São Paulo, onde existem 22 bacias e 22 comitês", acrescentou.
O governador Arruda defendeu que as novas determinações são muito importantes para Brasília, na medida em que ajudam a frear o crescimento desordenado dos centros urbanos. "Trata-se de um conjunto de ações que representam um avanço na nossa política ambiental, que tem como carro-chefe a legalidade. É muito difícil, e algumas vezes até antipático, mas precisamos tomar medidas que preservem o meio ambiente e não deixem a cidade crescer de maneira desorganizada", ressaltou.

CB, 06/06/2009, Cidades, p. 37

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