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21 de Dez de 2009
O Parque Nacional Pico da Neblina, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, que completa 30 anos de existência, vai inaugurar a sua sede com uma exposição do fotógrafo Araquém Alcântara, um dos mais importantes fotógrafos de natureza do País, e um ritual indígena. A data ainda não está definida.
"O acervo fotográfico ficará exposto nas paredes internas da nova sede, mas poderá posteriormente ser usado em exposições itinerantes promovidas nas associações indígenas, escolas, eventos da cidade e outros locais", explica o gestor do parque José Guilherme Aires Lima.
Durante a cerimônia de inauguração, a Associação Indígena de Pequenos Produtores Direto da Roça fará uma cerimônia cultural com benzimentos, danças, cantos e caxiri na cuia. Os tuxauas (caciques) Yanonami foram convidados e confirmaram presença. O fotógrafo Mário Friedlander, de Cuiabá (MT), vai registrar o evento.
PICOS - O parque abriga as duas mais altas montanhas do País - o Pico da Neblina e o Pico 31 de março, o primeiro com 2.998 metros e o segundo com 2.972 metros de altitude. A região tem ainda alto potencial espeleológico, com cavernas já identificadas e cadastradas no Morro dos Seis Lagos.
O Parque Pico da Neblina fica na região do Alto Rio Negro, que possui geomorfologia singular. O parque pertence à província do pediplano (área aplainada) Rio Branco-Rio Negro, que compreende as áreas extensas do relevo aplainado localizado entre os rios Negro e Uaupés.
Algumas de suas principais feições são as cordilheiras ou tepuis, ressaltadas por picos íngremes e morros isolados, além de uma grande planície que compõe o conjunto das paisagens coberto por densas florestas tropicais, campinaranas, ecótonos (transição entre biomas) e os raros refúgios ecológicos montano e altimontano. Por esse e outros motivos o parque é representante titular da Comissão Estadual de Geodiversidade do Estado do Amazonas.
RECURSOS HÍDRICOS - A região é banhada pelo rio Negro, maior bacia de águas pretas do mundo que ocupa aproximadamente 10% da bacia Amazônica. De suas nascentes até a foz, o Negro possui 1.500 km de extensão, compondo uma paisagem emaranhada de canais, lagos abandonados, áreas alagadas de várzea (chamados igapós), praias, corredeiras e substratos rochosos, canais dendríticos e bancos de terra firme. Os rios Demiti, Cauburis e Maraiuá são os principais afluentes da margem esquerda do rio Negro e que drenam a área do parque.
Biodiversidade - O parque possui grande biodiversidade e alta ocorrência de espécies endêmicas e raras de invertebrados, vertebrados e da flora, devido à complexidade de seus habitats: florestas de terra firme, matas inundadas e campinaranas que ocorrem em manchas esparsas ao sul do parque.
Pesquisas recentes em herpetologia feitas por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), possibilitaram a descrição de uma espécie nova de perereca ainda sem nome - a primeira do gênero descrita no Brasil. Pesquisadores pretendem futuramente elaborar um guia de campo da herpetofauna do parque.
Apesar dos incipientes estudos em primatologia, há registro de importantes ocorrências simpátricas de primatas como o Uacari-preto, Cacajao melanochephanus, da família de Pitheciidae e o Cuxiú-preto, Chiropotes satanas, da família Cebidae, ambos classificados como vulneráveis pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). Além destes há também os Zogue-zogues, Callicebus spp.
Especiação simpátrica é uma divergência genética de várias populações de uma espécie parental única que habitam a mesma região geográfica, fazendo com que essas populações se tornem espécies diferentes. No parque também existem espécies de grandes mamíferos ameaçados de extinção como: o peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis), a onça pintada (Panthera onça), além da onça preta e a parda.
Ainda devido as características naturais, principalmente geomorfológica, na região também ocorre a ave galo-da-serra (Rupicola rupicola), que nidifica nos maciços rochosos, grutas, e paredões onde há pouca incidência de luz solar (Salmon 2003). Embora não conste na Lista das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção (Brasil 2003), ela está incluída no Apêndice II da Convenção Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Ameaçadas pelo Tráfico (Cites 2003).
O mutumporanga (Crax alector) e o jacamim-de-costas-cinzentas (Psophia crepitans) também são espécies conhecidas da avifauna da região. O Morro dos Seis Lagos, região considerada de significativa radioatividade devido a sua composição mineral possui potencial para a realização de pesquisas limnológicas e paleoecológicas (arqueobactérias). De tais pesquisas pode-se obter produtos importantes para a biotecnologia e utilização dos recursos genéticos.
A vegetação da área compreende diversas formações, porém, poucas pesquisas foram realizadas para levantamento e caracterização da mesma. A partir das pesquisas realizadas até agora foi registrado a ocorrência de nove plantas raras na área do parque, tais como a Casearia neblinae (Salicaceae), Hortia neblinensis (Rutaceae) e Marlierea ensiformis (Araliaceae).
Nos cumes dos montes, chamados tepuis, encontram-se também campos da espécie insetívora Heliamphora (Sarraceniácea), e várias espécies rupestres. Além disso, duas novas espécies de orquídeas foram descritas e encontradas na região do Morro dos Seis Lagos.
DIVERSIDADE CULTURAL - O município de São Gabriel da Cachoeira faz tríplice fronteira com a Colômbia e a Venezuela, distando da capital em linha reta 852 km e 1200 km por via fluvial. Nesta região são faladas mais de 20 línguas, de quatro grandes famílias lingüísticas: Tukano Oriental, Aruak, Yanomami e Maku; além de terem sido reconhecidas oficialmente 3 línguas co-oficiais (Nheengatu, Tukano e Baniwa).
Com mais de 109 mil quilômetros quadrados de área, São Gabriel da Cachoeira é habitado por 23 povos indígenas (Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, Pirá-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka, Kotiria Dow, Hupda, Nadöb, Yuhupde, Baniwa e Kuripako, Yanomami, Baré e Warekena) espalhados por mais de 550 comunidades e que fazem de sua sede a cidade mais indígena do País. Na cidade residem atualmente 15 mil habitantes, totalizando aproximadamente 30 mil em todo o município.
O Parque Nacional Pico da Neblina possui uma área de 2.260,344 ha (22.603 km2) e perímetro de 1.040 de extensão. Criado em 1979, o parque se encontra entremeado e sobreposto a um complexo de áreas protegidas, sendo entre elas terras indígenas do Médio Rio Negro II, Balaio e Yanomami e da Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos - unidade de conservação estadual.
Os limites do parque situam-se dentro do território dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Atualmente estão assentadas no interior do parque 22 comunidades e outras nove comunidades estão em seu entorno direto.
Muitas delas já foram visitadas pela equipe de gestores do parque, ocasião em que fizeram os primeiros contatos. "Nos apresentamos em nome do ICMBio e participamos de reuniões, assembléias, cursos, viagens de reconhecimento de campo acompanhados pelos moradores e suas lideranças. Fomos bem recebidos em suas comunidades e estamos retribuindo o mesmo quando estes visitam a sede do parque", frisa o gestor do parque, José Lima de Aires Lima.
SEDE - A sede do parque foi construída em 22 de junho de 1979, quando da criação da unidade, e está localizada a 70 metros do rio Negro no Centro Histórico e Cultural da cidade de São Gabriel da Cachoeira, em um terreno de 1.482 m², com duas edificações, sendo uma casa residencial e outra que funciona como escritório. Toda a estrutura foi reformada.
No local onde está situada a sede encontra-se um sítio arqueológico com inúmeros pedaços de cerâmica. A equipe gestora do parque articulou o recolhimento e salvamento arqueológico das peças e contatou o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para registro e caracterização do sítio.
PARCERIAS - Em São Gabriel da Cachoeira existem várias e importantes instituições governamentais e não-governamentais que o parque conta para parcerias que visem ajudar na proteção de seu patrimônio natural tais como a Fundação Nacional do Índio - Funai, Exército Brasileiro, Aeronáutica, Marinha, Instituto Técnico Federal (Ifet) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa), entre outros.
O parque já firmou parceria com o Exército Brasileiro, por meio da 23o Companhia de Engenharia de Construção. Foi por meio dessa parceria que conseguiu fazer a reforma da sede. Na reforma houve apoio da empresa Reta Serviços de Construção Civil Ltda que dragou o igarapé Mauxi em São Gabriel da Cachoeira e contratou trabalhadores diaristas.
PROJETOS - Recentemente os gestores do parque elaboraram projeto denominado Levantamento Espeleológico do Parque Nacional Pico da Neblina, juntamente com o entro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav), do ICMBio.
No momento, a chefia está empenhada em implantar a compartilhada no parque devido à grande complexidade socioambiental existente na unidade e na região. Para isso, a equipe investe na formação e implementação do Conselho Consultivo.
Os gestores do parque se dedicam também à elaboração do Plano de Manejo, além de apoiar as pesquisas realizadas no local. No campo da educação ambiental, o parque está elaborando o projeto Dona Quintina.
No momento, a equipe estuda a elaboração de um termo de cooperação técnica entre o ICMBio e as prefeituras de São Gabriel da Cachoeira e de Santa Isabel do Rio Negro para reforçar as ações de gestão da unidade.
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