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Parcerias em inovação

FSP, Opinião, p. A2
Autor: YOUNG, Ricardo
20 de Set de 2010

Parcerias em inovação

Ricardo Young

Esteve no Brasil recentemente o economista indiano Pavan Sukhdev para divulgar a iniciativa Teeb, sigla em inglês para "A economia dos ecossistemas e da biodiversidade". Trata-se de um estudo organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e custeada pelo sistema financeiro internacional que tem por objetivo demonstrar o valor monetário dos biomas e da biodiversidade do planeta.

Entre os muitos méritos deste estudo monumental está o de desmontar um dos mitos mais recorrentes contra a "economia verde" -o de que ela vai gerar prejuízo e desemprego.

Metade do lucro do setor farmacêutico, por exemplo, advém de produtos cujos princípios ativos têm origem nas plantas. Este é apenas um exemplo de que destruindo-se a biodiversidade, os lucros e os empregos cairão neste setor. Por outro lado, desenvolver a preservação e o manejo das espécies cria centenas de milhares de empregos e lucros.

Somos um povo criativo e estamos criando soluções para os problemas da sustentabilidade. Com poucos recursos ainda e universidades pouco equipadas para pesquisa em inovação, aos poucos, exemplos emblemáticos começam a surgir. Conheço dois casos incubados em universidades públicas do interior paulista que provam nossa engenhosidade e a importância de um novo relacionamento entre universidade e empresas.

O primeiro é de São Carlos: uma bandeja para alimentos feita com amido de mandioca, que substitui o isopor e não gera resíduo, porque é totalmente biodegradável.

O outro caso é de Campinas. Trata-se de uma empresa que usa matéria orgânica da biomassa para fazer óleo combustível, fertilizante NPK e carvão vegetal. Nada mais, nada menos que a emulação análoga ao processo de transformação de resíduos orgânicos em petróleo.Exemplos singelos, talvez, mas de decorrências poderosas.

Nos dois casos, os equipamentos são simples de operar e ocupam pequenas áreas. Fico imaginando uma comunidade afastada, sem grandes recursos, podendo ter acesso a estes maquinários. A lavoura de mandioca poderia se transformar em produto útil para as cidades e os resíduos orgânicos (cascas, folhas, raízes) virariam combustível para movimentar a pequena indústria e até os geradores das casas, num processo circular, atraindo novas atividades, renda e trabalho com baixo impacto.

O "x" da preservação é encontrar uso sustentável para os produtos da floresta e resíduos da biomassa. Com políticas públicas voltadas a este fim, investimento em pesquisa, inovação e parcerias com empresas, o que é potencial pode se tornar realidade em pouco tempo: ecossistemas e biodiversidade preservados e uma vida melhor para todos.

Ricardo Young escreve às segundas-feiras nesta coluna.

FSP, 20/09/2010, Opinião, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2009201006.htm

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