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Parceria salva oncas no Pantanal

OESP, Vida, p.A24
29 de Set de 2005

Parceria salva onças no Pantanal
Acordo entre 11 fazendeiros e ONG prevê R$ 300 de indenização por boi morto pela onça-pintada

Herton Escobar

Onça-pintada e fazendeiros estão fazendo as pazes no Pantanal. Graças ao projeto de uma organização não-governamental, os felinos predadores e seus caçadores humanos têm convivido em harmonia pelos últimos três anos numa área de mais de 200 mil hectares, composta por 11 fazendas. O preço do armistício é de R$ 300 por boi morto pelos felinos.
Desde 2002, a iniciativa já pagou R$ 22.500 em indenizações pela perda de 75 animais. "A idéia é buscar um modelo de conservação que proteja as onças, mas também beneficie o pecuarista", explica o presidente do Fundo para a Conservação da Onça-Pintada e coordenador do projeto Onça-Social, Leandro Silveira. Ele estima que pelo menos 60 onças são mortas por ano no Pantanal em retaliação pela predação de gado. "Estamos tentando resolver um conflito histórico." Cerca de 99% do Pantanal está na mão de particulares, o que torna a parceria com os proprietários imprescindível para qualquer esforço de conservação, completa o biólogo.
Mais de 80% das indenizações foram pagas a uma única fazenda: a Santa Sophia, de 34 mil hectares, famosa pelo seu grande número de onças. "Temos um hábitat muito privilegiado", diz a proprietária, Beatriz Rondon, cuja família está instalada no Pantanal - e convivendo com onças-pintadas - há mais de um século. "Aqui elas vivem muito bem; são muito lindas e muito gordas."
O cardápio, infelizmente, inclui uma ou duas cabeças de gado por semana, de um rebanho de 3 mil animais. É aí que surge o conflito. "Adoro onças, mas a gente tem de ter um limite. Como você se sentiria se alguém invadisse sua casa toda semana e roubasse alguns quilos de carne da geladeira?"
Até então, a solução era eliminar as "onças-problema". "Não estamos brincando de mentir para ninguém", diz a pantaneira. "A caça é proibida, mas não podemos arcar com um prejuízo tão grande." Os R$ 300, segundo ela, não cobrem o custo do animal, mas ajudam a amortizar o prejuízo. "É uma forma de tornar o convívio aceitável para todo mundo."
Hoje, nas 11 fazendas participantes, é terminantemente proibido matar uma onça. Além de receber as indenizações, os proprietários esperam usar a presença dos animais como atrativo turístico. Seis, pelo menos, já possuem projetos de ecoturismo nesse sentido.
Para que haja indenização, o ataque precisa ser documentado. A carcaça deve ser fotografada e o local do ataque, marcado por GPS. A responsabilidade cabe aos peões das fazendas, que recebem os equipamentos e o treinamento necessários do projeto. Isso evita que a onça seja culpada indevidamente - o que é comum. "Só pagamos por carcaças que tenham registro e evidência de predação", diz Silveira. O dinheiro é fornecido pela ONG Conservação Internacional.
O projeto, instalado no Refúgio Ecológico Caiman (uma das fazendas participantes, com 53 mil hectares), também possui um braço científico. Os pesquisadores estudam a população de onças-pintadas da região por meio de armadilhas fotográficas e de telemetria. Oito animais já são monitorados semanalmente por meio de radiocolares, e a meta é chegar a 25 no próximo ano.
Pelo lado social, a fundação dá assistência médica e odontológica gratuita três vezes por ano aos funcionários das fazendas, em parceria com a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal.

OESP, 29/09/2005, Vida, p. A24

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