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Parceria global indica soluções para mudanças climáticas

O Globo, Sociedade, p. 28
25 de Nov de 2015

Parceria global indica soluções para mudanças climáticas
Pesquisadores listam projetos que podem ser exportados para outros países

RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com.br

Diversas medidas bem-sucedidas contra o aquecimento global já são aplicadas mundo afora. E é possível exportá-las para outras regiões que sofrem com os mesmos problemas. Esta bandeira foi hasteada por 12 instituições internacionais, que listaram 17 projetos que visam ao combate das mudanças climáticas. Com o intercâmbio de programas, as emissões globais de gases-estufa serão reduzidas em até 25%, o equivalente a mais do que todos os poluentes liberados por EUA e União Europeia.
Capitaneado pela Agência Finlandesa de Inovação (Sitra), o projeto Green to Scale avaliou soluções de baixo carbono já comprovadas e eficazes para atenuar a crise climática mundial. Até 2030, ano adotado como limite para o levantamento, seria viável conter sem invenções o aquecimento do planeta a menos de 2 graus Celsius. A equipe internacional de cientistas estima que as emissões anuais de gases-estufa podem ser reduzidas em cerca de 12 gigatoneladas - um corte três vezes maior do que as metas entregues pelos governos à ONU semanas antes da Conferência do Clima de Paris (COP-21).
Entre as soluções mais eficientes citadas pela equipe estão a expansão da energia solar na Alemanha, a redução do desmatamento brasileiro, os fogões de cozinha aperfeiçoados na China, o reflorestamento costarriquenho e a difusão da energia eólica na Dinamarca e no Brasil. O custo anual para implementar as 17 iniciativas atingirá, no máximo, US$ 94 bilhões, um valor menor do que o financiamento prometido pelos países desenvolvidos aos mais pobres.
A Sitra também destacou as soluções mais econômicas, cujo custo anual é de, no máximo, US$ 6,1 bilhões - na China, o uso de aquecimento solar para água; nos EUA, os motores elétricos industriais e a redução de metano na produção de combustíveis fósseis.
- Estas políticas já são implementadas com sucesso em 36 países - ressalta Roberto Schaeffer, professor de Planejamento Energético da Coppe-UFRJ, a única instituição brasileira participante do programa, e que vai apresentá-lo hoje, no Rio. - Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia, e essa iniciativa ajudaria se fosse repetida no Sudeste Asiático. O sistema de BRT colombiano pode ser levado a outras cidades que sofrem com transporte precário, como Nova Déli, na Índia. E já fizemos leilões que aumentarão significativamente a adoção da energia eólica brasileira, uma iniciativa que também pode ser exportada.
As instituições não indicam a origem da verba que viabilizaria as parcerias globais. Schaeffer, porém, acredita que seria "natural" esperar pela ajuda financeira dos países desenvolvidos:
- O combate ao desmatamento deveria contar com um fundo estrangeiro, já que esta é uma das principais fontes de emissões de gases-estufa - ressalta. - Haveria, também, outros efeitos colaterais positivos, como proteger a biodiversidade e evitar o êxodo rural.
Conselheiro da Divisão de Recursos Naturais e Sociedade de Baixo Carbono da Sitra, Oras Tynkkynen acredita que os países em desenvolvimento também podem contribuir para a economia das nações mais ricas. O aquecimento solar de água na China, por exemplo, seria útil nos países do Norte europeu.
- Há medidas de diversos tipos de preço e dificuldade - pondera o cientista, que apresentará um relatório com as soluções em reuniões da COP-21. - É possível reduzir o desmatamento em países pobres da África, mas precisaríamos de ajuda internacional. Trata-se de um programa simples, mas não barato. Outros, como a energia eólica, já andam por conta própria, porque esta tecnologia está cada vez mais avançada. A nossa contribuição é mostrar como diversas soluções contra o aquecimento global podem trazer bons resultados em menos de 15 anos.
Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservação Internacional no Brasil, aprova a iniciativa da Sitra. Segundo ele, os países podem desenvolver em conjunto diversas iniciativas que superem suas limitações no combate às mudanças climáticas. De fato, há experiências de sucesso aplicadas apenas parcialmente nos países, embora haja tecnologias para expandi-las.
- Um dos objetivos da COP-21 é aumentar a troca de experiências. Não é preciso inventar a roda o tempo inteiro - conta Medeiros. - O Brasil montou um sistema eficiente de fiscalização e monitoramento em tempo real do desmatamento na Amazônia, mas não conseguiu reproduzir este esquema em outros biomas.

O Globo, 25/11/2015, Sociedade, p. 28

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/parceria-global-indi…

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