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Paralisação continua em Santo Antônio

OESP, Economia, p. B6
23 de Mar de 2011

Paralisação continua em Santo Antônio
Trabalhadores apresentam reivindicações para poder retomar construção da usina

Leonencio Nossa
Enviado especial / Porto Velho

O consórcio construtor da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, tentou ontem sem sucesso retomar as atividades nos canteiros de obras. Os trabalhos haviam sido paralisados no fim da semana passada pelas empresas depois do quebra-quebra nos alojamentos de Jirau, outra usina que integrará o complexo hidrelétrico de Rondônia.
Mais de 3 mil operários já estavam no pátio de Santo Antônio quando, por volta de 8 horas, um grupo informou aos encarregados que não retomaria o trabalho. No momento da manifestação, estavam no canteiro integrantes do Sindicato de Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia (Sticcero), que acompanhavam a retomada das obras. Os manifestantes apresentaram aos sindicalistas e aos encarregados uma lista de reivindicações.
Eles pedem reajuste salarial de 15%, um novo plano de saúde, aumento da hora extra, melhoria no transporte e querem passar de cinco para dez dias o período de folga a cada três meses. Atualmente, eles visitam os parentes a cada quatro meses.
Amanhã, o sindicato comanda uma assembleia que pode resultar no fim da paralisação, segundo informou a Santo Antônio Energia, consórcio responsável pelo empreendimento.
Cerca de 14 mil homens trabalham em Santo Antônio. Cento e cinquenta ônibus com operários já haviam passado pela entrada quando foi anunciada a decisão de manter o canteiro paralisado. "Eu disse para os trabalhadores que não precisavam fazer guerra", relatou Raimundo Soares da Costa, o Toco, presidente do Sticcero.
Polícia de fora. Não houve incidentes na manhã de ontem no canteiro de Santo Antônio. A polícia ficou do lado de fora. Apenas no decorrer do dia, um grupo de estudantes da Universidade Federal de Rondônia promoveu manifestações na portaria da usina em favor dos operários. Houve tumulto e alguns teriam sido feridos por seguranças.
O clima foi de tensão entre os operários, que temiam a entrada de homens armados e a repetição das cenas de violência da semana passada em Jirau. "Se a polícia entrasse ia ser uma bagaceira", disse o maranhense Juscelino Silva Viana, 31 anos, de Bacabal. Ele temia que colegas entrassem em choque com os agentes.
O operário paraense Marlon Alves, 33 anos, de Parauapebas, relatou que os trabalhadores ainda não estavam na obra. "O sindicato chegou e não teve confusão", contou. Há dois meses em Rondônia, Alves e Viana terão direito, pelas regras de hoje, a visitar a família no início de maio. Eles ganham cerca de R$ 1.200 por mês, incluindo horas extras.
Os operários já haviam se manifestado em 2010 por aumento de salário e melhorias das condições de trabalho. Na época, o Ministério Público do Trabalho registrou queixas de punições a líderes da manifestação, como demissões por justa causa. / Colaborou Gabriela Cabral

Operário volta a Jirau para não perder emprego
Entrada no canteiro de obras foi acompanhada por homens da Força Nacional que fizeram uma revista rigorosa em quem chegava para trabalhar

Leonencio Nossa

Por temor de perder o emprego e o fim de pagamentos extras, centenas de operários voltaram na tarde de ontem para o canteiro de obras da usina de Jirau, no Rio Madeira, incendiado na semana passada por um grupo de funcionários. A entrada dos operários foi acompanhada por homens da Força Nacional de Segurança, que fizeram uma rigorosa revista de quem chegava para trabalhar.
"Eles só querem deixar o povo com "sede" dentro do canteiro", brincou um motorista que aguardava angustiado a retomada dos trabalhos na usina para descarregar. Ele se referia à proibição de bebida alcoólica. A ação dos agentes foi mais de intimidação, avaliaram os próprios revistados.
A Justiça do Trabalho de Rondônia determinou que as empresas construtoras mantivessem o salário dos operários durante a paralisação das atividades e pagassem o transporte de quem quisesse retornar à cidade de origem. Muitos, porém, decidiram atender ao apelo de encarregados para retornar ao canteiro e apressar a retomada das obras.
Alojado desde quinta-feira num clube de Porto Velho, o pernambucano Itamar Manoel da Silva Sales, 29 anos, foi um dos que optaram voltar para a obra. "A empresa só pagava R$ 100 para as despesas da viagem de cinco dias até Recife. E se eu ficasse em casa, só ia receber R$ 700, o que está na carteira", disse. "Sem hora extra não dá para sustentar mulher e três meninos." Silva afirmou que não foi pressionado pela empresa a voltar ao trabalho, mas relatou que não recebeu garantia de permanecer com a vaga. "O cara da firma não deu certeza de segurar a vaga de quem fosse embora", contou. "Ele disse que tinha de ver quem tinha ido e quem não tinha."
O sergipano Ricardo Silveira, 27 anos, de Neópolis, disse que se esforçou para suportar a precariedade de um alojamento provisório em Porto Velho. "Eu não podia ir embora. Aqui, com hora extra, dá para receber mais de R$ 1 mil." Silveira ressaltou que teve de deixar de lado, também, o medo de mais um quebra-quebra, como o da semana passada.
"Duas semanas". O clima agora em Jirau lembra as obras tocadas pelo regime militar na Amazônia, no final dos anos 70 e começo dos 80, como as construções da Hidrelétrica de Tucuruí e de aeroportos, que foram acompanhadas por agentes das Forças Armadas. Desta vez, porém, os canteiros vigiados por agentes de segurança são de obras de uma usina que será operada pela iniciativa privada e não pelo governo.
Procuradores do Trabalho de Rondônia observaram que o aparato policial não garante um clima de normalidade. Eles lembram que o incêndio no alojamento da empresa Enesa, na sexta-feira, ocorreu no momento em que Jirau estava ocupada pela Força Nacional de Segurança Pública. Na avaliação do Ministério Público, só a garantia de direitos e tratamento respeitoso evitam um novo quebra-quebra.

OESP, 23/03/2011, Economia, p. B6

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110323/not_imp695853,0.php
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