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Paraíba: continua pesca de peixes envenenados

O Globo, Rio, p. 23
19 de Dez de 2008

Paraíba: continua pesca de peixes envenenados
Sem receber seguro-defeso, pescadores consomem e vendem na região espécies contaminadas por pesticida

Tulio Brandão

O pesticida endosulfan, que vazou da indústria Servatis no Rio Paraíba do Sul mês passado, chegou à mesa do povo fluminense. Relatório técnico produzido pelo Projeto Piabanha - maior iniciativa de conservação de estoques pesqueiros da região - revela que pescadores do Médio e Baixo Paraíba, sem recursos para se alimentar, continuam capturando peixes e, em alguns casos, vendendo-os em municípios às margens do rio.
O diretor-técnico do projeto, Guilherme Souza, explicou que o problema ocorre porque o seguro-defeso - destinado a compensar a proibição da captura no período de reprodução - ainda não foi liberado pelo governo federal. Procurado pelo GLOBO, o Ministério do Trabalho, responsável pelo benefício, não quis se pronunciar.
Além disso, diz ele, há o problema da falta de informação.
Segundo o relatório, "a população, em geral, desconhece os efeitos do endosulfan na biota aquática e, portanto, continua consumindo o pescado (...). Alegam que os peixes não estão contaminados, mas, caso estejam, uma vez bem lavados, os peixes voltam a ficar sadios e os problemas desaparecem". Os resultados das análises dos peixes do Paraíba realizadas pela Feema mostram justamente o contrário. As espécies estudadas - entre as quais cumbacas (um tipo de bagre), caximbaus (cascudos), robalos e tainhas - apresentaram contaminação de até 2,3 miligramas por quilo. A literatura indica que não há níveis seguros para o consumo de pescado contaminado.
A contaminação por endosulfan - um pesticida organoclorado proibido em países da Comunidade Européia - causa sintomas problemas neurológicos, como vertigem, convulsão e até o coma. Pode atacar ainda rins e fígado. O relatório cita a pesquisadora Sarah Arana, do Instituto de Biologia da Unicamp, que confirma que o consumo do peixe contaminado, dependendo da quantidade de endosulfan no tecido muscular, provoca alterações neurológicas graves. O diretor-técnico do Piabanha afirma que existem inúmeros refrigeradores abarrotados com o pescado capturado ainda vivo no momento do acidente ambiental:
- Como o pescador não acredita na contaminação, ele continua pescando. E, se eles pescam, alguém compra - disse Guilherme Souza.
O representante da União das Entidades de Pesca e Aqüicultura do Estado do Rio, Francisco Guimarães Neto - conhecido como Chico Pescador -, confirmou que, sem o seguro-defeso, muitos pescadores estão consumindo e vendendo localmente peixes contaminados. Ele calcula que mais de 1.700 pescadores estejam sendo afetados pela contaminação.
- Os pescadores estão pescando, as crianças estão se alimentando do peixe contaminado - disse. -- Para suspender a pesca, eles têm que ter um sustento. Hoje, não têm nada para comer.
A chefe do escritório regional do Ibama em Campos, Rosa Maria Castello Branco, vai pedir a Brasília a proibição oficial da pesca até o próximo período de reprodução. Se a restrição ficar apenas no defeso, ainda é permitida a pesca de linha e para fins científicos. A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, vai pedir ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para ajudar na liberação do segurodefeso. Além disso, enviou uma equipe da Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais (Cicca) para fiscalizar a venda de peixes

O Globo, 19/12/2008, Rio, p. 23

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