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Parabólicas

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
11 de Mar de 2005

Sim, nós temos crianças indígenas morrendo por desnutrição em Roraima. E se a essa causa, for considerado o péssimo hábito das índias ianomâmi de matarem seus filhos, caso o anterior ainda esteja sendo amamentado, os números indicam que estamos diante de uma tragédia. Segundo o médico Marcos Pelegrini, do Distrito Sanitário Yanomami (DSY), somente no ano passado morreram 104 crianças de zero a nove anos de idade. Dessas, seis perderam a vida por desnutrição e 98 foram mortas pelas mães.
Essa tragédia humana que acontece entre os ianomâmi chama a atenção dentre outras coisas, para dois fatos da maior relevância na política indigenista brasileira, cuja visão integracionista criada por Rondon no Século passado, vem sendo jogada no lixo da história nos últimos anos pelo governo brasileiro, depois da chamada democratização. A primeira constatação é de que os índios brasileiros vêm sendo usados como mero biombo para a defesa de interesses internacionais sobre a Amazônia e a segunda é a de que, o estado brasileiro vem cuidando mal dos indígenas exatamente para que seja criada a convicção de que é incapaz, para desempenhar esse papel.
Quem não se lembra do banzeiro criado pela fotógrafa suíça Cláudia Andujá e sua Comissão Pró-Criação do Parque Yanomami -CCPY, nos anos 80 e 90 do século passado, antes de Collor de Mello criar aquela reserva? O assunto varava o mundo, com ressonância especialmente em fóruns europeus, na OEA e na ONU. Pois bem, criada a imensa reserva na fronteira brasileira/venezuelana, os ianomâmi foram deixados de lado, morrendo a mingua, enquanto Andujá percorre ricos salões europeus e americanos expondo suas fotos valiosíssimas.
É claro, depois da reserva ianomâmi que emenda com a São Marcos, o interesse agora é a demarcação da Raposa/Serra do Sol, que juntas cobrem a quase totalidade da linha de fronteira entre Brasil/Venezuela/Guiana.
Demarcadas as reservas, o passo seguinte tem sido a forma deliberada dos agentes governamentais brasileiros, principalmente nos governos FHC e de Lula, de se mostrarem absolutamente omissos e incompetentes no apoio às comunidades que lhes são tuteladas, por força da Constituição Federal. Assim, esperam fornecer munição para que se firme internacionalmente a convicção de que o Brasil não sabe cuidar de seus índios e florestas, restando necessária a autodeterminação desses povos, e a administração compartilhada da Amazônia por organismos internacionais, como pediu cinicamente aquele francês, que pretende presidir a Organização Mundial do Comércio.
É tudo muito elementar, diria Holmes ao fiel Watson.

AO LARGO
O deputado estadual Raul Lima (PSDB) tem dado especial prioridade para a questão do comércio fronteiriço entre o Brasil e a Venezuela. Por conta disso, ele reclamou ontem do Plenário da Assembléia Legislativa, contra a falta de interesse das autoridades brasileiras e venezuelanas para a resolução dos problemas fronteiriços. No último encontro entre Lula e Chávez não se tocou no assunto. Raul Lima vai estar no próximo domingo, no programa "Agenda da Semana", da Rádio Folha AM 1020, para falar sobre o tema.

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