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Para reduzir emissões, país deve mudar política de investimento, sugere estudo

Valor Econômico, Brasil, p. A5
08 de Nov de 2013

Para reduzir emissões, país deve mudar política de investimento, sugere estudo

Por Daniela Chiaretti
De São Paulo

O Brasil está no caminho de alcançar o compromisso voluntário de redução de emissões até 2020 ao controlar o desmatamento na Amazônia. A má notícia é que a tendência dos outros setores da economia é de crescimento das emissões. Ou seja: o país tem que discutir cenários de redução para depois de 2020 com novas políticas e decisões de investimentos.
Esta é a mensagem do estudo "Mitigação das Mudanças Climáticas", a última parte do primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN), produzido por 345 pesquisadores do país reunidos no Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O estudo foi lançado ontem em Belém e sugere medidas de redução de emissões nos vários setores. Traz elementos de debate para políticas públicas.
"As emissões da agropecuária e silvicultura representam mais de um terço do total do Brasil, mantendo-se em tendência crescente", diz o relatório. Grande parte destas emissões são produzidas pelo gado e no manejo de culturas de soja, milho, cana e arroz. De 1990 a 2005, as emissões do setor aumentaram 37%, fruto do crescimento dos rebanhos, da área plantada e do uso excessivo de fertilizantes.
O relatório avaliou o cenário para 2020 da agropecuária com a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens, aumento do plantio direto de lavouras em 8 milhões de hectares, expansão do plantio de florestas em 3 milhões de hectares, eliminação da queima na cana, redução do uso de nitrogênio. Tais medidas reduzem muito a emissão.
"Ainda há tempo para agir", diz Suzana Kahn, presidente do comitê científico do PMBC. "Basta redirecionar um pouco os investimentos, ter incentivos e tributação."
No setor industrial é preciso incentivar ações de eficiência energética, substituição de combustíveis fósseis por biomassa e usar muito mais energia solar. "Estima-se que o potencial técnico de abatimento destas emissões até 2030 corresponda a quase cinco vezes as emissões totais da indústria em 2005", diz o estudo.
"O Brasil está abandonando todo o nicho de energia solar, mesmo para aquecimento de água, que é barato", diz Suzana. "Ficamos confortáveis por causa da energia hidrelétrica e isso nos deixou preguiçosos, como se não precisássemos mais lutar para competir. Com carvão estamos indo na direção contrária da tendência do século 21. É preciso corrigir o rumo".
O transporte rodoviário poderá, em 2020, emitir 60% a mais que em 2009. "O Brasil apresenta potencial de mitigação das emissões de CO2 no transporte principalmente por ter sua matriz desequilibrada e com ênfase no modo rodoviário tanto para cargas quanto para passageiros", diz o estudo. "Estamos na contramão", diz Suzana. "O Brasil é enorme, continental e carrega tudo por caminhão, o que é ineficiente tanto pelo aspecto energético como ambiental. É tudo baseado em diesel". Continua: "Um país tão grande deveria ter uma malha ferroviária muito melhor, usar a costa para cabotagem. E mais metrô nas cidades". O estudo também aponta como o etanol, muito menos poluente, tem dificuldades em competir com a gasolina subsidiada.
Não é só na oferta de energia e mudança de rota de alguns investimentos que o Brasil deveria fazer ajustes se quiser reduzir emissões. "Há outro aspecto importante, difícil de mensurar, que é atuar também pelo lado da demanda", diz Suzana. "Temos que ter oferta de energia mais limpa, mas a questão do padrão de consumo é muito importante", continua. "É preciso atuar em uma gestão mais eficiente do uso de energia, dos recursos naturais, da água, e também do consumo e do comportamento."

Valor Econômico, 08/11/2013, Brasil, p. A5

http://www.valor.com.br/brasil/3332268/para-reduzir-emissoes-pais-deve-…

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