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Pará: moradores ateiam fogo em balsa com toras

O Globo, O País, p. 12
04 de Nov de 2006

Pará: moradores ateiam fogo em balsa com toras
Protesto contra madeireiras leva tensão a região extrativista na região norte do estado

Chico Otavio

Inconformados com a ausência do Ibama, moradores da região do Rio Uruará, no norte do Pará, decidiram agir por conta própria. Em conflito com os madeireiros que atuam na área, eles bloquearam o rio e atearam fogo, anteontem, em uma balsa carregada de toras. O clima é de tensão, pois a comunidade ameaça fazer o mesmo com outra balsa, parada rio acima, caso tente forçar a passagem.

Até ontem, as cerca de 200 toras a bordo da balsa ainda queimavam na vila de Santa Cruz do Uruará, onde ocorreu o conflito. Rosália Furtado, integrante do Conselho Popular da região do Uruará, disse que há seis anos madeireiras exploram a floresta ilegalmente e usam o Uruará para transportar as toras até o Rio Amazonas, sem que as autoridades façam algo de efetivo.

- A comunidade se armou de paus e pedras e não deixa a polícia de aproximar - disse.

Desde o início do ano, moradores e madeireiros disputam uma área de aproximadamente 800 mil hectares, no município de Prainha (a 300 quilômetros de Belém), entre os rios Uruará e Guajará. A comunidade reivindica a criação de uma reserva extrativista (resex), a Renascer. Já as empresas de madeira oferecem benefícios para os moradores em troca de garantias para manter as atividades, fumadas em termo de compromisso.

Greenpeace: reserva já deveria ter saído do papel
Em nota sobre o conflito, o Greenpeace informou que, de acordo com o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento do governo federal, a reserva Renascer deveria ter sido criada entre 2005 e 2006 e até agora não há previsão para a sua criação.

- Como ninguém fazia nada e a exploração só crescia, a própria comunidade resolveu agir. Nós nos reunimos e deliberamos: vamos brigar com esse povo - disse Rosália, referindo-se aos madeireiros.

Parte das madeireiras que operam na região explorava ou comprava madeira ilegal da área vizinha em Porto de Moz, mas depois da criação da reserva, a Verde pra Sempre, com 1 milhão de hectares, em dezembro de 2004, de sucessivas operações de fiscalização, a exploração ilegal de madeira ali caiu consideravelmente.

Denúncia de propina para elogiar as madeireiras
Ativistas do Greenpeace denunciaram que as madeireiras chegaram a pagar propina moradores para elogiarem os benefícios trazidos pela exploração na área.

- Como organização pacifista, o Greenpeace não apóia este tipo de manifestação e está muito preocupado com o clima de violência que se instalou na região graças à ausência do Estado. O clima, que já tenso, poderá piorar ainda mais se autoridades federais não agirem imediatamente.

Não é de hoje que parte da comunidade denuncia a destruição da floresta provocada pela retirada ilegal de madeira grilagem de terras na região - disse Marcelo Marquesini, do Greenpeace.

Na nota, o Greenpeace acusa também as autoridades locais e soldados da PM de apoiarem a ação das madeireiras e reagirem à ação da comunidade. "Mesmo sendo madeira ilegal, policiais militares acompanham o transporte das cargas nos barcos-empurradores ou liberam as balsas apreendidas pelos comunitários durante os protestos. Os comunitários temem retaliações, já que várias lideranças já foram ameaçadas de terem suas casas incendiadas", alerta o documento.

Rosália Furtado explicou que o movimento da comunidade começou no dia 3 de outubro, logo após uma carreta atropelar e matar um morador, com o bloqueio do Rio Uruará na altura da comunidade de Porto Franco. Na ocasião, eles detiveram cinco balsas, posteriormente apreendidas pelo Ibama.

O Globo, 04/11/2006, O País, p. 12

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